Axty entrega peso e modernidade em Helpless

Em seu álbum de estreia, a banda amplia os horizontes do metalcore e reforça sua identidade musical

Arte: Carol Moraes / Downstage

O metalcore é um gênero que abre espaço para diferentes ramificações e experimentações, dando origem a sonoridades modernas, que estão em constante evolução. Com diferentes bandas atualizando a vertente, o metalcore continua se mantendo relevante no cenário da música pesada, apresentando nomes promissores e interessantes ao redor do mundo.

No Brasil, o gênero se encontra em alta, com bandas lançando trabalhos criativos e excepcionais. O Axty é um dos nomes que vem se destacando no cenário nacional e acaba de conceber seu primeiro álbum, o primoroso Helpless.

O Downstage teve acesso antecipado ao álbum, e trocou uma ideia com a banda sobre o início do projeto, a produção e particularidades. Chega mais!

(Imagem: Reprodução / Instagram)

Grandes projetos sempre vêm em conjunto com grandes bagagens. Essa é uma lei sacramentada desde sempre, e dentro da música não é nem um pouco diferente. O Axty, anteriormente conhecido como Anxiety, nasceu como um projeto solo do vocalista Felipe Hervoso, e foi ganhando formas diversas com o andar do tempo. “Na época ele estava em um dos piores momentos da vida, no que tange a ansiedade e depressão, e começar a banda foi uma válvula de escape”, comenta Felipe. Exteriorizar demônios sempre foi algo muito correlativo a música, onde o espaço é perfeito para desaguar sentimentos e conversar de uma forma que, normalmente, não é possível. Com o andamento do projeto, a necessidade de se tornar de fato uma banda acabou rolando, e o projeto ganhou uma magnitude ainda maior do que o planejado. “A ideia de formar a banda foi mais pensada em shows do que qualquer coisa, e foi algo bem natural”, ressalta Felipe.

O metalcore moderno é feito de diversas nuances e experimentações, e esse é o caminho que o Axty resolveu seguir em seu primeiro trabalho. Atrelando elementos de djent, metal progressivo, dubstep e até o famigerado trap, a banda se coloca no radar de novidades a cada lançamento. “Escutamos de tudo dentro do Metal e outros gêneros, como o pop e trap”, inicia o guitarrista Guilherme Pagani. “Por isso, de uma forma natural, inserimos esses elementos eletrônicos e ambiências em nossas músicas. Até como um diferencial dentro do nosso gênero, nos tornando mais moderno e criando nossa própria identidade. No começo, nos rotulávamos como uma banda de Metalcore, mas depois de escutar o resultado do nosso primeiro álbum e traçar metas para nossos próximos trabalhos, hoje podemos chamar o Axty de New Core”, finaliza Pagani.

Além do instrumental extremamente bem trabalhado, a banda também se preocupou em tornar a experiência lírica do disco algo íntimo e coletivo, algo que vem sendo muito explorado por bandas e artistas do segmento. “Todas as letras giram em torno do que vivemos e presenciamos. São letras bem pessoais e, no começo, tínhamos muito receio justamente por esse motivo”, comenta Felipe. “Mas o mais legal é que as pessoas se identificam e acabam se envolvendo mais com as músicas”, algo que é notado dentre desses gêneros, essa ponte sem desvios que as letras fazem com o interlocutor.

Concebido de forma orgânica e natural, o álbum Helpless é o primeiro full da banda, e veio de forma intensa para cada um do quinteto. “O processo de produção e gravação sempre foi muito dinâmico. Durante todo o período, tínhamos muitas ideias que eram registradas. A cada música produzida, nós selecionávamos uma ideia e colocávamos todo o foco na consolidação desta música”, explica o baterista Gabriel Vacari. “Tudo acontecia de forma bem natural, claro que tínhamos um prazo e cronograma desenhado, mas ao mesmo tempo tínhamos muito cuidado para essa “pressão do timing” não comprometer o lado artístico e criativo da banda”, continua.

Dentro das doze faixas, uma em especial se destaca pela participação de Mi Vieira, vocalista da saudosa banda Gloria, networking feito de forma natural, que agregou ainda mais para a construção do tracklist do álbum. “Ele tem sido um padrinho e um grande amigo. Para nós é uma honra termos a participação dele em uma música nossa. A produção dessa faixa foi feita de forma colaborativa com o Mi e com o Vini Rodrigues (guitarrista do Gloria), que também ajudou no processo criativo e gravação dessa música”, finaliza Gabriel.

(Imagem: Reprodução / Instagram)

O Helpless

A banda paulista faz uma mistura assertiva de metalcore, djent e música eletrônica, criando uma identidade musical diferenciada e atrativa. O quinteto se mostra preparado para buscar novos horizontes, apresentando um potencial absurdo em suas composições, além de um cuidado extra com o conteúdo audiovisual. Os videoclipes de todas as faixas são assinados pelo vocalista Felipe Hervoso, com produção dos próprios integrantes e com o baixista Jonathas Peschiera cuidando da mixagem e masterização.

Helpless abre com a introdução Look, que já entrega logo de cara o tom moderno presente no disco. Atrelada a introdução, What I’ve Become inicia com um refrão que esbanja melodia. A faixa passeia com segurança por momentos de peso e melodia, surpreendendo o ouvinte com as diferentes nuances presentes na canção.

Walk Away é facilmente um dos melhores momentos do álbum. Com um instrumental bem executado, carregando a essência do metalcore, a música ganha mais corpo com a performance vocal habilidosa de Hervoso. Os breakdowns chegam com força na faixa título. Pesada e visceral, Helpless abusa dos guturais para colidir em um poderoso refrão melódico.

Peso e modernidade se encontram em Your Eyes. A agressividade da faixa é atordoante e de tirar o fôlego. Os vocais de Mi Vieira, vocalista do Gloria, são uma grata surpresa na música, dando ainda mais personalidade para a canção e adicionando trechos em português

A Letter To My Ghosts aparenta ser uma típica faixa de metalcore sem muito diferencial. Mas como o Axty sabe se sobressair dentro do estilo, a canção conta com elementos que fogem da zona de conforto do metalcore, mantendo assim sua originalidade. Dead Inside vem carregada de elementos da música eletrônica e influências do trap/hip-hop. Tudo isso misturado ao metalcore agressivo da banda, resultando em um dos momentos mais criativos e interessantes do álbum. Dead Inside mostra como o Axty sabe inovar e ousar com sabedoria, abrindo o leque de possibilidades do gênero.

Rápida e pesada, (IN)s4n1ty vem para dar uma dose extra de energia ao disco. Com um instrumental mais quebrado e cadenciado, A Perfect Son é uma faixa bem peculiar e traz uma dinâmica interessante. É extremamente pesada e intensa, com guturais e vocais rasgados.

Persist surpreende com sua abordagem moderna e até mesmo pop no começo. Com um tom melancólico e um instrumental mais ameno, é um belo momento de respiro no final do disco. Hold Me Close é um interlúdio para a última faixa, a ótima Until We Die. A música encerra o trabalho com melodia e um instrumental marcante, destacando as linhas vocais de Hervoso.

Futuro

O Axty ainda não estreou de fato em cima dos palcos desde sua consolidação como banda, fato que mudará no dia 12 de dezembro, dividindo palco coincidentemente com o Gloria, que também apresentará partes do material novo que estão trabalhando após a reformulação da formação da banda.

Ainda para 2021, a banda pretende trabalhar incessantemente sem pestanejar um segundo. “Para 2021 ainda estamos planejando trabalhar em algumas gravações de clipes para faixas do nosso álbum. Também já estamos pensando e nos planejando para o cronograma de 2022, mas nosso foco ainda pra esse ano será trabalhar na divulgação do nosso álbum e preparação para o show de estreia”, encerra Vacari.

(Imagem: Reprodução / Spotify)

Helpless é um trabalho excelente e mostra todo o cuidado e potencial da banda. O Axty não tem medo de experimentar e transmite segurança em sua sonoridade, além de olhar para o futuro sem esquecer as raízes do gênero. O álbum é um dos destaques de 2021 na música pesada e certamente vai alcançar reconhecimento internacional. Com Helpless, o Axty se consolida como um dos principais nomes do metalcore nacional, gerando uma alta expectativa para seus futuros lançamentos.