Bad Feels Club surpreende com sonoridade madura e estética hipnotizante

A banda capixaba lançou seu primeiro EP, Badland, e já tem música produzida por Lucas Silveira no forno

Arte: Giulia Assis / Downstage

Nascida em Vitória, em 2018, e atravessada pela pandemia, a Bad Feels Club lançou no dia 17 de janeiro seu primeiro EP, Badland. Com uma estética marcante e uma identidade sonora madura para uma banda de apenas quatro anos, o grupo formado por Enzo, Vinícius, Guilherme e Laio, busca agora conquistar públicos ainda maiores. 

Em entrevista exclusiva ao Downstage, Enzo contou como se deu a origem da banda: “Aqui em Vitória tem uma festa emo que é a E Eu Que Já Fui Emo e sempre tocavam umas bandas nessa casa de shows. Eu já tinha tocado com outras bandas lá só que eu queria uma banda pra tocar na festa emo. Eu comecei a caçar gente e cheguei no Vinicius. Não conhecia ele, fui perguntando no twitter ‘alguém quer fazer uma banda emo?’ e me indicaram ele. Aí a gente decidiu que ia começar nossa banda.”

A banda, que a princípio se limitava a tocar covers de My Chemical Romance, só foi ter sua formação completa depois de ter um show marcado. “A gente marcou um show mesmo sem ter a banda formada. Eu conhecia o Guilherme de outros rolês, de já ter visto ele tocando em outras bandas.”

“Eu nem sabia se ele gostava desse tipo de música, eu só sabia que ele gostava de Fresno porque tinha visto no twitter”, relembra Enzo. “Convidei ele pra fazer esse show que já tava marcado. Ele topou e mal sabia ele que tava fazendo um pacto comigo, tanto que tá aí até hoje.”

(Foto: Melina Furlan)

“O Laio entra depois, quando nosso antigo baterista precisou sair da banda”, relembra. “Aqui em Vitória é muito escasso a cena musical, principalmente bateristas. O Laio tá de prova porque 60% da cena capixaba tá debaixo das baquetas dele [risos].”

Enzo explica que chegaram à formação atual porque já conheciam Laio, e então entraram em contato com o músico. “[Mandei] uma mensagem horrível, que parecia spam”, brinca.

Laio, rindo, divide o conteúdo da mensagem: “A mensagem dizia ‘te vi tocar uma vez e queria muito tocar com você’. Eu olhei e pensei ‘pô isso tá com cara de que mandou pra outros 37 bateras’. Mas ele falou ‘não, mandei só pra você’. Daí eu topei e falei: ‘vambora!’.”

Quando questionados sobre as referências musicais que compõem o estilo da banda, Guilherme conta da gafe que foi sua entrada na banda: “A banda surge num contexto de tocar cover então inicialmente muitas das referências eram as bandas que a gente tocava. My Chemical Romance, por exemplo. Inclusive quando eles me chamaram perguntaram se eu gostava do repertório e eu falei ‘claro, gosto sim’, só que eu não conhecia nada de My Chemical Romance. Então eu fui conhecendo pra tocar com a banda.” 

Ainda sobre o tema referências, Enzo inclui Bring Me The Horizon a lista.

(Foto: Melina Furlan)

SPEAK ENGLISH?

Entrando no tema idioma, Vini explica a opção da banda por lançar músicas em inglês: “Do que eu consumo de música, acho que uns 90% é em inglês. Eu aprendi inglês ouvindo música. Então eu acho mais fácil escrever em inglês.”

“Até porque fica mais fácil escrever sobre ‘coisas estranhas’ em uma língua que não é a sua”, complementa. “Então eu me sinto muito mais à vontade pra ser poético, pra ser mais lírico.”

(Foto: Melina Furlan)

“Eu acredito que quando você ta cantando você ta se abrindo pras pessoas, você tá em um lugar vulnerável. E cantando em inglês você ainda se abre mas de um jeito mais disfarçado. Cantando em outro idioma você se distancia, é como se você estivesse interpretando”, completa Enzo, ainda sobre as músicas em inglês.

VISUAL DE ROCKSTARS

A banda, que hoje carrega toda uma estética focada na cor magenta, apresentada no EP, já teve problemas relacionados à forma de se vestir. “Enzo sempre foi muito criative, mas em mim isso pesava de uma forma diferente porque eu sou uma pessoa grande e gorda. Era difícil, antes de tudo, encontrar roupas que cabiam em mim. E muitas vezes eu me olhava nos figurinos e pensava ‘cara isso ta muito tosco’. A gente brigou muito nessa época, mas hoje a gente encontrou um equilíbrio em que tá muito legal”, conta Vini. 

O principal defensor dos figurinos, Enzo, explica sua defesa: “Eu sempre achei a imagem da banda muito importante pra criar um ambiente junto com a música. Se você pegar o My Chemical Romance, por exemplo. A gente gosta deles por causa da música, mas eles vão muito além da música. É o guarda chuva preto, a maquiagem vermelha, o X no olho. E eu, particularmente, gosto muito de criar esse folclore em volta da música.

(Foto: Melina Furlan)

“E isso é muito bom. Enzo é ume vocaliste performátique e isso agrega no show. Você sente uma coisa a mais ali. Você tem uma pessoa, uma frontperson ali de fato. Uma coisa à la Freddie Mercury interagindo mais com o público. E agora que Enzo deixou as guitarras isso ficou ainda melhor porque elu tem uma liberdade maior de ser essa pessoa performática com o público”, completa Vini dando um gostinho de como é o show da banda.  

PRÓXIMOS PASSOS

Sobre os próximos passos da banda, tanto em planos quanto musicalmente, Enzo adianta alguns spoilers: “A gente já tem algumas músicas em português no nosso show. A gente fez um show a pouco tempo abrindo pro Esteban e nele a gente já tocou essas músicas em português. Eu, particularmente, tô nesse exercício de compor em português […] a virada de chave nesse sentido foi quando, na twitch da Fresno, o Lucas [Silveira] fez um concurso de composição. Só que a regra era que as músicas tinham que ser em portugês. Então pra participar eu me forcei a escrever em português. Depois desse concurso a gente decidiu ficar nos dois idiomas, numa coisa meio Maneskin.”

A música, que leva o nome Ser de Lua, inclusive ganhou o concurso, foi produzida por Lucas Silveira, e está apenas aguardando o melhor momento para ser lançada.

“Tem essa música com o Lucas [Silveira] que deve vir, espero que em breve. Tem músicas novas que a gente tá tocando nos shows. Mas como foi um caminho muito longo pra fazer esse EP, com pandemia no meio tornando ainda mais longo esse processo, a gente tá no momento de comemorar e curtir o lançamento do EP e daqui pra frente ver o que vai ser possível de fazer”, comenta Enzo. 

Já para Laio, o lançamento do EP permite olhar para os próximos passos com ansiedade: “O bom do EP é que ele fica velho na hora que ele lança. Então assim, agora já dá pra começar a sonhar com as coisas novas e as músicas novas estão bem maneiras.”