In Angles entrega técnica e composição com maestria em segundo disco
Em Cardinal, banda acerta e traz melhor trabalho de sua discografia e talvez de 2022
Uma das vantagens de se descobrir música na era digital é justamente ter locais como o bandcamp e o reddit ao nosso lado além de todas as plataformas de streaming musicais. Graças a essas redes, algumas joias raras que frequentemente são ofuscadas pela enxurrada de lançamentos do Spotify acabam ganhando mais evidência — e, felizmente, há quem preste atenção.
A In Angles surgiu em New Jersey, e em 2022 decidiu lançar seu segundo disco de estúdio na semana mais movimentada da cena: a do dia 25 de fevereiro, em que álbuns de bandas como Bad Omens, Mom Jeans., Avril Lavigne e Dashboard Confessional tomavam conta das redes sociais e, é claro, do público. Lançado numa terça-feira, o quarteto de post-hardcore surpreendeu, em doze faixas, até mesmo aqueles que não os conheciam.
Cardinal é bem diferente de Cascading Home, lançado há nada menos que seis anos. O primeiro álbum da banda traz um In Angles que flertava com o post-hardcore que borbulhava no início de 2010, com peso, força e modernidade para aquele período. O trabalho foi sucedido pelos singles The Side of the Fence e Passenger, em 2017, mas foi somente em 2018 que o quarteto dava vigor a uma nova fase com o excelente EP Shortfalls.
Contextualizado, chegamos a Cardinal, o que é não só o melhor trabalho da banda até agora como também um dos melhores álbuns de 2022, por mais precipitado que isso soe. O disco abre com a surpreendente Dead Era, lançada antecipadamente como um single, mas que mesmo sendo a primeira faixa de toda a setlist, engrandece e introduz a experiência sonora e técnica que vem a seguir.
Apesar de apenas 28 minutos, Cardinal entrega uma aula de composição com maestria. In Angles explora tanto versos mais compridos nos pré-refrões, enquanto deixa para resolver o auge de suas canções em poucas palavras. Os instrumentos não ficam de lado, muito pelo contrário: há espaço tanto para a bateria quanto as guitarras brilharem.
A banda sabe entrar em sintonia e entregar em cada faixa uma experiência única que mescla-se facilmente a toda a experiência do disco. Cardinal é único, surpreendente e, infelizmente, ofuscado pelos algoritmos das plataformas digitais.
O mais interessante por aqui, no entanto, é como a In Angles resgata o melhor do pop punk e mistura (de uma maneira esquisita, mas que dá certo) com elementos do post-hardcore. É possível ouvir a exposição dos vocais desafinados no refrão de Vagrant, que dá uma sequência excelente a A Single Thread.
Apollo é rápida, feita justamente para juntar as duas metades de Cardinal — como se fosse dividido em dois atos. É lenta e baixa, pensada para prender a atenção para o que vem a seguir: a ótima Throneless. Uma canção que brinca com o imaginário do ouvinte em sua construção de cenários da composição, e mesmo apesar de curta, é finalizada com vocais em berros que abrem para a faixa oito.
Decorate é mais rápida. Há a presença da bateria em peso, trazendo um pouco do pedal duplo do post-hardcore e do easycore. A faixa nove, com menos de um minuto, serve como um intervalo dessa experiência, mas não divide o disco em três partes. É um respiro da velocidade da faixa anterior e uma pausa antes da próxima.
Flyweight, Chasing Projections e Carcosa possuem boas doses de screamo e guitarras incessantes. O disco finaliza com solos de baixo, equilíbro nos vocais limpos e uma bateria energética, além da sensação do que o público descreveria como “gostinho de quero mais”.
In Angles é novo ao flertar com o nostálgico em Cardinal, e é justamente por entregar tantas novidades no que os fãs guardam no coração com tanto carinho que estabelece seu lugar com um dos melhores discos do ano.
Para fãs de: Boys of Fall, Chunk! No, Captain Chunk! e The Seafloor Cinema