Os paranaenses da Heartlistener estão fazendo barulho na cena underground brasileira e após lançar o EP Inner Self (2019), finalmente colocam no mundo seu álbum de estreia, o promissor Perspectives. Fazendo uma mistura cirúrgica de hardcore com metalcore, a banda vem construindo sua história e provando que merece seu lugar de destaque na cena. Em entrevista exclusiva ao Downstage, a Heartlistener deu detalhes sobre o processo de criação do disco novo, expectativas para 2022 e também contou como a banda começou.

Formação da banda e o primeiro EP

Gustavo Martins (vocalista) e Renan Malaquias (guitarrista) já tinham experiência tocando em outras bandas, porém, Gustavo estava afastado da cena há algum tempo, mesmo continuando a compor riffs e escrever músicas. Em 2016, os dois decidiram voltar a ativa e montar uma banda puxada para o hardcore melódico, com fortes influências de bandas como Counterparts e The Ghost Inside. “Mas a gente sempre quis nessa ideia de seguir música própria mesmo né?!” conta Gustavo, sobre querer fazer algo autoral desde o início.

No começo a banda até pensou em fazer um som que caminhasse de encontro com bandas como La Dispute e Being as an Ocean, mas logo se encontraram e criaram sua própria identidade musical. “Conforme a gente foi escrevendo mesmo as músicas a gente foi tipo ‘Não né, cara?! A nossa pegada é um pouquinho mais pesada”, relembra Renan. “Mano, vamos escrever o que a gente tem vontade” complementa Gustavo, ao lembrar de quando estavam definindo seu estilo de som.

Com sua identidade sonora bem definida, Gustavo Martins, Andre Neto e os irmãos Renan e Ricardo Malaquias colocaram a Heartlistener para trabalhar e soltaram em 2019 seu primeiro EP chamado Inner Self. O trampo mostra todo o potencial da banda em uma combinação bem atraente de hardcore com metalcore, onde é possível notar as principais referências do grupo, além de mostrar toda a personalidade da Heartlistener. O EP é bem consistente e colocou a banda no radar dos fãs de ambos os gêneros.

O processo de composição do Perspectives

Diferente do EP Inner Self, onde a banda usou basicamente o material que o Gustavo já havia escrito, Perspectives foi um trabalho mais conjunto, onde todos participaram na composição das músicas. “Foi algo bem mais holístico, né?! A gente pegou um todo, todo mundo conseguiu dar uma perspectiva (risos) diferente na música” comenta Ricardo. Com todos dando pitacos nas músicas, o resultado foi bem mais satisfatório para cada integrante, já que todos contribuíram nas composições.

A Heartlistener também preza pelo cuidado estético de todo o seu material, o que complementa ainda mais a experiência do ouvinte em consumir sua obra. Mesmo já tendo em mente a identidade visual do trabalho, o processo até chegar no resultado final foi trabalhoso. Foi quando a banda começou a trabalhar com o Gabriel Oliveira, que fez a arte de todos os singles e o Caio Weber, que fez os videoclipes e a capa do álbum, ambos da banda Cefa, que as coisas começaram a fluir positivamente. Como a banda já tinha trabalhado com o Caio anteriormente, o processo acabou sendo rápido e logo conseguiram alinhar as ideias, dando origem a capa atual do álbum. Outra pessoa que também colaborou com o audiovisual foi o Victor Alberico, da Emmerica.

Já na parte lírica, Perspectives é mais amplo e aborda diferentes temáticas em suas faixas. Além de focar em temas introspectivos, o álbum também abre espaço para falar de política, já que é impossível ficar alheio a esse assunto diante do caos governamental que assombra o país. O disco ainda fala sobre perdas, um reflexo de experiências pessoais vividas pelos integrantes, já que os irmãos Malaquias acabaram perdendo um ente muito querido e importante em 2020.

Perspectives

A trajetória de lançamentos dos paranaenses da Heartlistener é breve, porém cheia de surpresas e faixas pra não deixar nada a desejar. Após o lançamento do EP Inner Self (2019), contendo 6 faixas, a banda agora bota na pista o seu primeiro full intitulado Perspectives, trabalhando questões pessoais, perdas, contestação e aquela pitadinha de revolta canalizada que só o hardcore punk tem.

Além de todo o trabalho da banda, vale ressaltar que a masterização ficou nas mãos do grande Lucas Guerra (Pense/Colid), diretamente do Estúdio Guerra. A parte gráfica dos singles ficou por conta de Gabe Oliveira (Cefa), e os clipes e a capa pelas mãos de Caio Weber (Cefa), fraco esse time, hein? São 10 faixas de pura entrega, paixão pelo som e muita, mas muita agressividade.

O disco abre com a faixa intro Memento Vivere, que caminha calma e vai ganhando corpo até o instrumental ganhar vida de fato, preenchendo o vazio e abrindo as portas do Perspectives. Counterfeit, primeiro single liberado pela banda, entra mostrando para o que e a que o quarteto veio. Com muita melodia, vocais poderosos e um refrão extremamente pronto para ser cantado em coro, a faixa termina com um baita de um breakdown. Na sequência temos All The Art of Living Lies in a Fine Mingling…, faixa que representa com leveza e entrega um momento de dor vivido por Renan e Ricardo, que de uma forma lírica, lavaram a alma dando vida ao som.

A faixa título entra em cena questionando o interior do “o que é mais importante?”, mostrando peso e densidade ao redor de dizeres como “We are slaves to our own selfishness”. Seguindo, Wonf Among Us começa voraz com um instrumental extremamente bem trabalhado, e caminha por uma ótima crítica ao nosso atual governo, e como os bons costumes cegaram o modo de viver, transformando indivíduos em lobos na pele de cordeiro. A troca entre a percussão e as guitarras dão ainda mais vida para a música, que tem poder para guiar e causar rebeliões.

Com linhas tortas que se completam, Convalescence mostra evidentemente todas as referências que a banda carrega desde sua criação, dando vazão e sentido para o que o quarteto é. False Prophets canaliza todo o ódio na ambição do homem que consome a terra a cada dia que passa, sempre em nome da riqueza. Uma faixa pesada, sem rodeios e direto ao ponto, feita pra dançar dando murros e ponta pés pro alto, até com direito a um “blegh” no breakdown final, incrível!

Dreamweaver nos encaminha para o final do disco com aquele sentimento de dever cumprido, atrelando peso e melodia com Gustavo cantando linhas limpas no refrão, e o restante do time entregando tudo de si. Que faixa! Complementando a segunda faixa, …Of Letting Go And Holding On traz o lado da aceitação um pouco mais maduro, mostrando como a vida tem e precisa continuar. A junção dessas duas faixas é um ensinamento de vida, aprender a lidar com a dor, com um problema, enfrentar, entender e continuar a viver, isso tudo atrelado ao instrumental impecável da Heartlistener.

Fechando o álbum de uma forma totalmente diferente, temos Violeta, música composta nos 45 do segundo tempo, que traz junto os vocais de Caio Weber, em um formato que a banda não tinha explorado até agora. “E se nós fizéssemos uma música, hein? Só na pira.”, inicia Ricardo. “O cara abraçou a ideia, só que ele falou “Beleza, eu faço uma música com vocês, mas só se o Gustavo cantar em português”, dito isso, nasce a última track do álbum em parceria com Caio, que fecha de forma magistral o primeiro full da banda.

Planos para 2022

Com um álbum recém lançado a vontade de cair na estrada e divulgá-lo em diferentes lugares do Brasil é enorme, porém, com a situação do COVID-19 voltando a se agravar, a Heartlistener teve que readequar seus planos. “A gente vai ter que dar uma seguradinha agora. Fazer a divulgação online, né?!”, comenta Gustavo. “A gente tá até com ideia de lançar uma live, né?! Com algumas músicas, pra aproveitar esse…já que a gente não vai poder tocar tão já. Por exemplo, São Paulo, Curitiba mesmo a gente vai dar uma esperada”, afirma o vocalista.

A banda também já adiantou que vem merch novo para complementar o lançamento do disco e prometem que será material de alta qualidade. “A gente só faz coisa que a gente mesmo ia curtir pra caralho usar”, comenta Ricardo sobre o merchandising da banda. A Heartlistener vai fazer o show de lançamento do álbum Perspectives no dia 29 de janeiro no CBGBAR, em Ponta Grossa, Curitiba.