Vooduo aposta na estranheza para surpreender os ouvidos
Humor e homenagens constroem o cenário do single Adam Sandler
Depois de conquistar o Rio de Janeiro com um show irreverente e marcado por versões pouco convencionais de clássicos da música brasileira e mundial, o duo Vooduo, formado por Gabriel Mezzalira e Rapha Harley, prepara o terreno para lançamentos autorais.
Sobre o início da parceria, Rapha comenta ao Downstage que “a gente já tocava com outras galeras e rolou de um dia ele [Gabriel] me chamar pra fazer um acústico com dois violões e duas vozes. Nos primeiros acordes eu já tava pensando ‘caraca, o moleque é foda. Fazer uma parada com ele vai ser irado’. Então eu atraí aquilo naquele momento ali e acabou acontecendo de a gente fazer mais vezes essas duas vozes e dois violões.”
A virada para um duo elétrico aconteceu pouco depois, como conta Rapha. “Um dia aconteceu dele falar ‘Rapha, será que você consegue levar a bateria amanhã?’, aí eu pensei ‘bateria com violão fica feio pra caramba. Vai faltar um baixo’. E nisso ele me respondeu ‘eu acho que consigo tocar a guitarra e o baixo ao mesmo tempo’ […] Na época ele usava um pedal que oitavava, que pegava o som da guitarra e jogava numa caixa de baixo.”
Questionados sobre as influências que formaram e formam a sonoridade do Vooduo, Gabriel menciona “referências de diversos duos e alguns não-duos também.”
“Artistas que usam bastante oitavador e que não ficam devendo em nada. Tem o Royal Blood, o White Stripes e o fato deles serem só os dois eu sempre achei muito interessante”, comenta. Ainda sobre a identidade musical do Vooduo, ele complementa: “A gente ta na busca de entender o que funciona melhor pra gente, o que a galera vai abraçar também. Porque nos shows a gente também acaba fazendo covers e versões, então a ideia é ir medindo a temperatura e ir introduzindo esses trabalhos autorais devagar, até porque quem acompanha a gente já espera algo.”
Apesar de ter as raízes fincadas no rock, com a presença de riffs de guitarra e uma bateria pesada, o duo não tem medo de experimentar coisas novas. “Quanto ao estilo a gente ainda tá explorando. Temos umas 10 músicas que estão aqui no forno, em processo de preparo ainda […] tem três que têm uma pegada quase de reggae, uma coisa meio Ponto de Equilíbrio, meio rasta. Tem umas mais intimistas, só violão e cajon. Tem música mais pop, tem balada romântica com voz e violão”, explica Rapha Harley.
Quanto aos pontos positivos e negativos de serem um duo, Gabriel responde: “Você acaba tendo um entrosamento melhor com quem você está tocando. A gente ficou um bom tempo sem precisar ensaiar porque já sabia exatamente como o outro ia tocar. E quanto ao ponto negativo, acho que é ficar com tudo acumulado. Quando você tem uma banda de quatro, cinco pessoas, cada um pode fazer um pouco. E sendo só nós dois tudo depende só da gente.”
Apesar dessa sobrecarga, a dupla parece não ver um limite para o acúmulo de funções.
“Contraditoriamente, a gente tá querendo colocar cada vez mais instrumentos no palco. Eu mesmo tô colocando um teclado dentro da bateria pra ficar tocando teclado, bateria e fazendo a voz junto”, complementa Rapha.
Sobre o single lançado na última sexta-feira, 11 de fevereiro, Gabriel detalhou o processo de composição: “Eu tava dirigindo e me veio a ideia de fazer uma música sobre aquela pessoa que é engraçada, que não é muito bonita, mas que, por ser engraçada, acaba conquistando as pessoas. E nisso me veio o Adam Sandler como imagem na hora”, brinca. “Acho que ele é uma referência muito forte aqui no Brasil em questão de humor, de cultura popular.”
O duo ainda dividiu com o site uma coincidência muito interessante envolvendo essa homenagem: “A curiosidade legal é que o Adam Sandler é músico também. Ele já lançou alguns trabalhos e tem uma música dele que se chama Voodu. E agora a gente, que é o Vooduo, fez uma música chamada Adam Sandler, então teve essa troca de homenagens.”
Comentando a mudança de direção, de músicas autorais em inglês para composições em português, Gabriel elenca os desafios: “Grande parte das nossas referências musicais cantam em inglês. Pra mim é um desafio muito maior fazer música em português. Sempre compus nesse idioma mas acabava não gostando muito do resultado final. Algumas coisas que você fala soam bobas quando estão na sua língua.”
Apesar das dificuldades, a dupla vê nesse novo caminho a possibilidade de se aproximar ainda mais do seu público.
“A gente percebeu nos shows que parte da galera que pedia nossa música não sabia cantar porque não sabia falar inglês. Ficam cantando só o ôôô do refrão”, lembra Rapha. “E a nossa ideia foi, a partir disso, reduzir essa distância que a língua coloca. Vai ser um teste e pode ser que dê errado e a gente volte a fazer música em inglês também”, completa Gabriel.