Bullet Bane reacende a chama da cena em retorno aos palcos
Show aconteceu no último sábado no Fabrique Club, em São Paulo
“Sempre soubemos que seríamos os primeiros a parar e os últimos a voltar — e finalmente esse momento chegou”, Danilo Souza em entrevista exclusiva ao Downstage.
A atmosfera era de muita expectativa no último sábado (20), entre as quatro paredes do Fabrique Club, em São Paulo. Não se tratava apenas de mais uma noite na cidade que nunca dorme; depois de praticamente dois anos, o Bullet Bane retornava a um show, não só quebrando um período sem apresentações ao vivo como também trazendo consigo a responsabilidade de ser o primeiro nome da cena a subir no palco novamente.
O clima era enérgico, tanto no backstage quanto na pista que estava cheia para presenciar Arthur Mutanen (vocais), Danilo Souza (guitarra), Fernando Uehara (guitarra), Rafael Goldin (baixo) e Renan Garcia (bateria) num retorno um tanto ousado: uma apresentação de noventa minutos de duração. A primeira em toda a carreira do Bullet Bane.
Não demorou muito, no entanto, para a banda mostrar que não existia outra maneira de marcar a volta do underground para os palcos. A partir das oito horas da noite, o Fabrique Club foi tomado por uma só voz que cantava os versos de Sentir, o penúltimo single da banda, liberado ainda durante o período de isolamento social.
De repente, os dois anos de quarentena eram apenas um detalhe para o Bullet Bane e São Paulo parecia acontecer e concentrar-se no palco do Fabrique Club. Funcionando como unidade, mas ainda assim destacando cada um dos seus integrantes com espaço o suficiente para cada um brilhar, a banda criava ali uma noite especial que ressoaria de forma singular e duradoura em cada um dos presentes.
Arthur Mutanen transcendia em cada um dos versos que proferia, enquanto o sentimento de nervosismo vivido quinze minutos antes da primeira canção agora soava totalmente desconhecido para Danilo, Fernando, Rafael e Renan. Foram noventa minutos da energia mais pura e emocionante que todos os fãs poderiam ter vivido, além da sensação de após dois anos, finalmente poder estar voltando para casa.
O underground vive
É indescritível a experiência de reviver após tanto tempo tudo o que constrói e forma um show da cena emocore. Com as apresentações ao vivo já retornando há semanas, ainda faltava toda a sensação de revisitar a energia pré e pós que tomou conta do Fabrique Club no último sábado: é singular, familiar, único e nosso.
Vai muito além da definição de unidade e sobre ser igual a qualquer uma das pessoas que estão ao seu redor; independente da quantidade de seguidores nas redes sociais ou bairro residencial. Dentro daquelas quatro paredes, tudo o que importa é a valorização e preservação de uma cena que há muito tempo foge dos modismos, padrões comerciais e imposições midiáticas.
Seja no primeiro mosh pit, stage diving ou nos mais altos gritos de revolta contra o Presidente da República, há características que fazem de um show desse cenário uma experiência sem igual e que durante quase dois anos formavam um vazio no peito de inúmeras pessoas. No último sábado, o Bullet Bane foi o responsável por reacender essa chama num ato que soou como um abraço que é desejado há muito tempo.
Versos que ecoavam no teto, uma saudade agora curada e canções cantadas olho no olho: a noite no Fabrique Club serviu para nos devolver uma sensação cuja falta nos deixou marcas insubstituíveis, mas que agora finalmente retornam para nós. Entre palcos e multidões efervescendo ao mesmo som, o Bullet Bane inaugura esse retorno e consolida ainda mais a ideia de que o underground nunca esteve tão vivo e cheio de memórias para criar.