Retorno aos palcos de Terno Rei ressoa como um abraço repleto de saudade
Primeiro show pós-pandemia da banda aconteceu na última quinta-feira, em São Paulo
“Vai ser divertido”, diz o guitarrista do Terno Rei, Bruno Paschoal antes de subir ao palco na última quinta-feira (4), na Audio Club em São Paulo, em um bate-papo rápido no camarim com o Downstage. “Vai ser uma sensação muito do momento; tô um pouco nervoso mas ao mesmo tempo não. Tô feliz e empolgado e… não sei, dá um pouco de medo de tudo também”, complementa o vocalista Ale Sater.
Esse sentimento do incerto é justamente o que fez a experiência de presenciar o retorno dos shows do Terno Rei ser tão única e genuína. É perceptível como cada momento daquela noite estava sendo aproveitado pelo público e pela banda, segundo por segundo, após quase dois anos sem vivenciar a energia insubstituível de presenciar música ao vivo, luzes fluorescentes e um público inteiro cantando em uníssono.
“Na hora que você começa a tocar já é da hora, e você esquece de tudo”, revela Ale Sater.
O grupo paulistano começou a noite com a primeira faixa do disco Violeta, o melhor trabalho nacional de 2019 e, para muitos de seus fãs, o álbum que serviu como escapismo durante o isolamento social em 2020. Não demorou nada para cada verso de Yoko ecoar entre as quatro paredes da Audio Club com um entusiasmo saudosista que se estendeu para todo o restante da setlist.
A conexão foi instantânea, e isso fez com que a volta de Ale Sater, Bruno Paschoal (o “Sad Bruno”, como chamado pelos fãs), Greg Maya e Luis Cardoso (este chamado de Loobas) aos palcos ressoasse em cada um dos presentes como um abraço cheio de saudade. Não é equivocado dizer que o que descreve bem a noite é justamente a emoção e aquele sentimento familiar, como se depois de muito tempo os fãs finalmente pudessem voltar para casa.
Quanto ao desempenho de um modo geral, o Terno Rei não decepciona quando se trata de presença de palco, talento e sobretudo a sinceridade com o público em cada um dos versos e acordes. Esse combo no final das contas é o que torna uma noite como essas tão especial e deixa ainda mais expectativas para os dois shows marcados no Fabrique Club em 18 e 19 de dezembro.
Faixas marcantes do Violeta como Solidão de Volta, Dia Lindo, Estava Ali, São Paulo e muitas outras marcaram presença no setlist com os fãs cantando verso por verso pulmões afora; mas a banda também separou espaço para Sinais, do excelente Essa Noite Bateu Como um Sonho (2016), Circulares também do mesmo álbum e Pivete, parceria com a banda Tuyo que ganhou sua versão ao vivo pela segunda vez desde o lançamento, no ano passado.
Uma das principais características da música entre todas as artes existentes é justamente ter sua terceira interpretação em apresentações ao vivo. E nisso, o Terno Rei tira de letra tanto pela entrega nos palcos quanto pela conexão que ultrapassa barreiras, distâncias e longos períodos de tempo com os seus fãs, o que torna assistir a um de seus shows, independente do local que seja, uma experiência única e que permanece na mente.
O Terno Rei durante a pandemia
De uma certa forma, o período de isolamento social deu o tempo para muitos que não o tinham. Vindo de um lançamento super bem recebido com Violeta, os paulistanos estavam numa bateria de shows e compromissos do último disco que foi cortada pela raíz quando a pandemia de COVID-19 bateu à porta.
“A gente conseguiu parar o que tava fazendo, aquela loucura, e se reunir”, comenta Greg Maya. “Fomos para um sítio e pensamos só no próximo álbum.”
“Seria difícil sair disso se não tivéssemos esse tempo e focar no álbum”, complementa Loobas.
O próximo disco
“Eu acho que no final das contas, agora que acabou o processo de composição e gravação, o que fica da pandemia é uma coisa ou outra”, revela Ale Sater sobre o peso do isolamento social nas próximas letras do Terno Rei. “O principal é um lance de nostalgia. No começo da pandemia eu comecei a falar com alguns amigos que não falava há muito tempo, eu acho que as músicas têm um pouco disso.”
Além disso, houve um processo nostálgico também por parte da banda em questão de música. Com o isolamento social, muitas pessoas voltaram para dentro de si e revisitaram artistas e produções que deixam aquele ar de conforto, e com o Terno Rei não foi diferente. “Ouvimos muita música que costumávamos escutar antes, toda semana a gente ficava em casa, então não tinha muito o que fazer”, conta Greg Maya. “Começamos a revisitar vários artistas como Aerosmith, clássicos MTV…”
“Eu entrei numa pira de Alanis Morissette! [risos]“, relembra Ale Sater. “Isso [também] refletiu no disco novo, de certa forma”, adiciona Greg.
Nos planos desde 2020, o próximo trabalho de estúdio do Terno Rei chega com as expectativas do Violeta, mas tem tudo para surpreender os fãs que chegaram por conta do último álbum ou até mesmo passaram a acompanhar bem mais a banda por conta dele.
“Foi o disco que a gente mais demorou pra fazer”, relembra Bruno. “Cada coisa foi super bem pensada, então a gente tá se sentindo mais à vontade como banda.”
“Foi desgastante; era muita gente envolvida, então foi algo novo pra gente”, finaliza.
Ainda para 2021, a banda gravará um clipe que deve ser liberado no início do ano que vem. Quanto a material novo, há uma live em celebração dos 10 anos de atividade do Terno Rei para sair. A banda tem datas no Fabrique Club em 18 e 19 de dezembro, além de um show totalmente gratuito na Black Princess House, em 13 de novembro.