Monollogo é uma viagem no universo particular de Caio Weber
Vocalista da Cefa divide com o público seu primeiro álbum como artista solo
Trabalhos autobiográficos já são difíceis por si só, mas parecem possuir um obstáculo a mais quando se trata do primeiro — e vão ainda além quando a mesma temática toma conta da primeira à última faixa. No entanto, Caio Weber não tem medo de enfrentar dificuldades, achismos ou expressar sentimentos em Monollogo, primeiro álbum de estúdio de seu projeto solo.
A obra é um relato transparente da alma do eu lírico sem revisões, dividida em três atos que narram todo o conflito emocional e interno de alguém que está prestes a se entregar para um amor. Passando pelos sentimentos mais profundos e familiares de todo o processo, Caio Weber se entrega sem cerimônias para seu retrato mais cru e descoberto da carreira.
Monollogo começa com O Que Não Se Pode Explicar, um dos singles liberados antes do lançamento. A faixa traz aquela sensação de borboletas no estômago e os primeiros sinais de uma paixão acendendo entre o eu lírico e a destinatária das dez canções a seguir, com sonhos acordados e a imaginação à flor da pele.
Com os versos andando numa corda bamba entre se entregar a algo ainda sem um resultado palpável ou se conter pelo simples receio de não se machucar, Caio Weber é nítido em suas emoções — apesar de evitar dar nome ao sentimento mais puro e confuso do ser humano.
O cantor ainda traz uma analogia interessante em sua escolha de palavras, abordando os aspectos da natureza distribuídos em cada uma das faixas: chuva, primavera, vento, flores. Tudo o que é capaz de retirar o ouvinte de casa e transportá-lo para um ambiente sereno, em que não existe medo de proferir suas emoções sem passá-las por um filtro.
Pensando nessa proposta, o álbum pode parecer simples, mas é na realidade, Caio por Caio: com seus vocais expostos nas faixas, acompanhadas de acordes e com um conceito minimalista e cristalino que transborda para o material audiovisual e físico do trabalho. É muito além de se mostrar vulnerável e frágil ao seu próprio sentir, Monollogo é sobre admitir a si mesmo sem medo; num ato de coragem muito maior do que maquiar suas emoções ao colocá-las no papel.
Essa viagem para o interior da alma tem muito do período de isolamento social — principalmente após a sexta faixa do projeto, quando a abordagem do eu lírico toma um tom mais melancólico e até mesmo os aspectos da natureza tomam formas mais obscuras. De repente, a Primavera é tomada por uma Tempestade, quando nossos medos são capazes de nos engolir por inteiro e transformar nossas próprias emoções numa via sem saída.
Mas nada é finito nesse processo de autoconhecimento, e assim como todos os românticos incorrigíveis, Caio também encontra o brilho do sol no peito de outra pessoa.
Apesar de se entregar por completo a um sentimento e, sobretudo, trazer a temática de um único relacionamento por 10 faixas, Monollogo não é um trabalho que flerta com o ultrarromantismo ou que torna o assunto cansativo. Há sim, muita entrega e exposição emocional, mas que diferente dos literários portugueses do século XIX, Caio engrandece sobre seus próprios sentimentos e entendimento de si mesmo — que acaba tornando Monollogo não apenas um simples álbum, e sim uma narrativa completa sobre o mais genuíno sentir.