Mais do que um álbum, Monollogo é um amadurecimento emocional de Caio Webber

Trabalho transborda sentimentalismo, melancolia e autoconhecimento

Arte: Caroline Moraes / Downstage

No início de setembro, Caio Weber dividiu com seus seguidores no Twitter que “fez Monollogo pra provar pra si mesmo que eu conseguiria.” Esse breve relato do músico, popularmente conhecido como vocalista da Cefa, é algo que descreve o trabalho como um todo, além de resumir bem a jornada introspectiva do eu lírico em todo o processo de lançamento.

Tudo começou em abril, quando Caio decidiu batizar seu projeto solo, que está em atividade desde 2013, com seu próprio nome. MonoLLogo e Caio Weber de repente tornaram-se um só, e agora o cantor estava preparado para não só dar um significativo passo em sua carreira, como também desabrochar todas as suas emoções e derramá-las em dez faixas ao todo.

“Esse tempo foi passando”, declarou o músico em entrevista exclusiva ao Downstage, analisando tudo o que aconteceu desde a primeira vez que produziu para si mesmo, há oito anos. “Sempre tive esse disco solo na minha mente, esse repertório pronto na minha cabeça […] veio a pandemia, e então rolou uma janela nisso tudo.”

(Imagem: LOIRO / Divulgação)

Além da pandemia de COVID-19 impactar o lançamento de CAØS, um dos melhores álbuns nacionais de 2020, Caio Weber também deu início à uma reflexão para dentro de si quando completou 27 anos em julho de 2021. “Comecei a visitar na minha memória coisas que eu queria fazer antes dos 30 anos, e o disco solo era uma delas”, revelou o músico.

“Talvez por essa crise de identidade eu resolvi assumir o meu nome [em MonoLLogo]”, brinca. “Sempre achei estranho ter um projeto com o meu nome porque eu tenho uma banda, ficava algo meio solitário. Mas eu parei pra pensar que essas músicas eram sobre mim e esse projeto sou eu. Fazia sentido ter o meu nome.”

E não há nada mais Caio Weber do que as dez faixas que compõem seu álbum solo, Monollogo. Com muita exposição vocal (algumas músicas até sendo apenas voz e violão), o cantor é fiel e transparente ao seu sentir, mesmo que o trabalho inteiro gire em torno de uma só temática, o intuito é justamente explorar os aspectos e emoções que tomam conta da mente humana acerca de uma situação. “Esse processo de me aceitar como cantor e artista era uma batalha minha desde que comecei a cantar”, revela, referindo-se à transparência do seu Eu no trabalho.

(Imagem: LOIRO / Divulgação)

Pensando nisso, Monollogo é, acima de tudo, um trabalho de Caio para Caio, desprendendo-se de algoritmos das plataformas digitais, desdobramentos para versões ao vivo e focando apenas na transmissão das emoções para o papel. “Comigo nunca funcionou bem quando eu fiz algo com uma segunda intenção que não fosse apenas a arte”, relata. “Esse disco não pensa muito nas consequências de atingir um grande público, o intuito é ficar feliz com o resultado.”

Quanto à abordagem emocional do trabalho, Caio Weber abre o peito e a mente e deixa todas as suas inseguranças e vulnerabilidades tomarem conta das composições, e de repente, o que por fora pareça um disco repleto de fragilidade, torna-se um corajoso passo. “Foi quase um processo terapêutico pra mim, de olhar pra dentro e ter essa coragem de me expor pra mim mesmo”, reflete.

“Muitas vezes são diálogos internos” continua. “Tem um pouco disso de falar sobre o que dói sem medo, principalmente num momento em que as pessoas preferem mostrar só o que é bonito. essa falsa sensação de que a vida dos outros é perfeita — esse disco nada contra essa maré.”

Parte dessa introspecção emocional vem muito do período de isolamento social, inclusive. A segunda metade do disco reflete bem isso, quando as faixas tomam uma atmosfera mais melancólica. “Engraçado fazer essa análise agora”, observa o compositor. “Duma forma muito grosseira, o disco tem apenas um tema central, então foi muito desafiador pra mim desdobrar em dez faixas isso. Ao mesmo tempo que isso possa parecer muito superficial […] eu tô tentando apontar em 10 faixas todos os aspectos desse relacionamento e a como a minha sensação emocional e interna afeta as minhas relações.”

Isso é claro em diversos momentos de Monollogo, desde quando o eu lírico convida a destinatária a conhecer o pior de si ao momento que ele a agradece por ficar apesar de tudo. “Tem toda essa beleza do descobrimento”, conta. “Mesmo um relacionamento sendo super florido e com várias coisas muito bonitas existem pinceladas de melancolia de dores que não necessariamente tem a ver com o relacionamento em si, e sim como eu me sinto.”

Monollogo é, sobretudo, um disco humano. E faz parte do ser humano ser uma criatura extremamente intensa. “Talvez eu projetasse nos meus relacionamentos frustrados problemas que na realidade eram meus, e isso fica explícito nesse disco”, relata Caio. 

Carreira solo e a vida numa banda

Sobre principais diferenças, Caio relata: “a convergência de ideias. Numa banda você não tem total controle da ideia final, e a graça é essa.”

“No meu projeto é exatamente como achei que ele deveria sair, a palavra final era minha”, completa. “Mas total liberdade não quer dizer que eu vou tomar as melhores decisões. É tudo uma viagem, é um senso de risco muito maior.”

(Imagem: LOIRO / Divulgação)

Exclusivo

Por não ser pensado para desdobrar-se para o audiovisual e performances ao vivo, Caio Webber adianta ao Downstage que seu projeto solo terá uma continuidade maior que o usual: “Já tenho um single engatilhado para dezembro”, revela, além de deixar aberto a possibilidade de mais clipes de Monollogo virem pelo caminho.