Bare Knuckle traz influências de Blackgaze no pesado e intenso We Use To Bloom

Flertando com black metal e shoegaze, a Bare Knuckle entrega um EP denso e moderno, iniciando uma nova fase em sua carreira

Arte: Munique Rodrigues / Downstage

Apesar do pouco tempo de estrada, a Bare Knuckle vem se destacando e chamando a atenção dos radares da música pesada nacional. Com os já excelentes Primitive e Tiny Mess, Vol. 1 – Primitive, dois EP’s já lançados pela banda, agora o então sexteto lança seu terceiro EP, o apoteótico We Used To Bloom. Com quatro poderosas faixas, a banda apresenta uma sonoridade mais madura e certa de si mesma, entrelaçando referências e concretizando mais uma etapa na carreira da Bare Knuckle.

Em entrevista ao Downstage, o vocalista Alexandre Conchon falou um pouco sobre a trajetória da banda, a criação e as novas influências do novo EP e os planos para 2022.

Foto: Tita (@titamartinsc)

O início da Bare Knuckle

A banda começou em 2019, sendo criada a partir de outro projeto. “A Bare Knuckle surgiu em 2019 precedendo a banda de metalcore MWS (My Worst Sin) que foi criada em 2017. Com o passar do tempo a gente amadureceu sonoramente e também, como pessoas, assim consequentemente, trouxemos uma proposta diferente para a banda” conta Alexandre.

Com o novo projeto e o amadurecimento dos músicos, veio também a necessidade de uma mudança musical, fazendo com que o som da banda caminhasse para algo mais moderno, influenciado por nomes da cena atual como Knocked Loose e Code Orange.

Foto: Tita (@titamartinsc)

Para completar a mudança, um novo nome era essencial, e a ideia acabou surgindo casualmente. “Então um dia, estava eu e o Vinicius no estúdio conversando com um cara que tava falando de um documentário sobre briga de rua, chamado “Bare Knuckle”, logo depois a gente se olhou e a ideia bateu forte” relembra o músico.

Passando por algumas mudanças na formação, dos membros originais da My Worst Sin ficaram apenas Alexandre, Vinicius e André.

As mudanças entre Primitive e We Use to Bloom

Em 2019 a BK lançou seu primeiro EP, o agressivo e marcante Primitive. No EP de estreia, a banda trouxe uma sonoridade mais puxada pro metalcore/metallic hardcore, flertando até mesmo com o nu metal, onde as faixas tem um ritmo mais rápido e influências similares. Já o segundo EP, Tiny Mess, Vol. 1 – Primitive, de 2020, é um ponto de virada para a banda, onde novas sonoridades são incorporadas.

“Já o nosso segundo EP “Tiny Mess, Vol.1 – Primitive” é basicamente um álbum de remixes feitas pelo Lui das músicas do “Primitive”, fazendo um tipo de ponte da nossa sonoridade “antiga” pra nova sonoridade, proposta que nós pretendemos trazer” explica o vocalista. “Foi uma espécie de introdução do nosso mais novo integrante Lui, que entrou em 2020, e o impacto e influência que ele trouxe para a banda, sendo essa uma influência forte do techno, noise, power-electronics, ambient, drone, darkwave.”

Toda essa bagagem abriu caminho para a sonoridade explorada em seu mais novo trabalho, trazendo uma diversidade musical ainda maior e sem amarras. É o trabalho que melhor se aproxima do que a banda quer apresentar ao público, com influências diferentes que vão do death metal, noise, metalcore, sludge, post-metal e black metal pro shoegaze, techno, ambiente, música eletrônica no geral, rock alternativo e grunge.

“São músicas inesperadas e cheias de surpresas, uma mais diferente que a outra, com aspectos marcantes pra cada uma, tornando-as únicas e heterogêneas. Já as letras continuam tocando em temas mais introspectivos e pessoais” afirma Alexandre.

Novas influências e mudanças na sonoridade

Apesar de ser uma banda ligada ao hardcore e ao metalcore, os integrantes da Bare Knuckle sempre teve um leque de influências muito amplo e diversificado. A mudança sonora era uma coisa inevitável, ainda mais pelo fato dos integrantes consumirem gêneros diferenciados como shoegaze, no wave, noise, post-metal, sludge e outras vertentes menos convencionais da música.

Foto: Tita (@titamartinsc)

“Todos nós temos gostos fora do metal, todos somos muito fãs da música experimental, da arte avant-garde e experimental, seja ela na arquitetura, no cinema, na literatura e na música, e tudo isso trouxe uma enorme influência pro som da banda e pra identidade visual” comenta Alexandre.

Com o lançamento do single Hummingbird, a banda apresentou uma nova sonoridade e um novo conceito audiovisual, com uma atmosfera densa, moderna e muito pesada. As referências vindas principalmente do black metal e do showgaze ficaram bem evidentes no single, preparando o terreno para a nova abordagem da Bare Knuckle.

Foto: Tita (@titamartinsc)

“Realmente trouxemos uma forte influência do blackgaze, sludge, post-metal e noise/power-electronics pro som. Todos nós temos um gosto pelo Black Metal e sempre tivemos vontade de colocar elementos pro som da banda, mas sem nunca ir totalmente pro estilo, apenas trazer elementos pra construir algo único” explica o vocalista.

Além de trazer influências de bandas como Behemoth e Emperor para o instrumental, os vocais contaram com referências vindas do emoviolence, screamo e blackgaze, torando o som da BK em algo moderno, diferenciado e único.

Outra fonte de inspiração para a banda foram os filmes de terror, principalmente essa onde de post-horror que vem crescendo e ganhando espaço no cinema. Essa influência vai além da música e se expande para ambientações, clipes e arte da capa do EP.

We Use To Bloom

Abrindo o EP temos a poderosa Requiem, que abre com uma interferência e logo destrói os tímpanos com zerões de estremecer. É nítida a forma mais arrastada que a banda propiciou seu som nesta nova etapa, mas que deu todo um charme e uma irreverência para o som. Destaque para a métrica escolhida pela banda para este primeiro som do EP.

Na sequência temos a já conhecida Hummingbird, single que apresentou esta nova fase da Bare Knuckle para o mundo. Com uma proposta mais introspectiva e ‘dolorosa’, a música transita entre ambiências e progressões, até se encontrar em um caos perfeito. Aqui é possível sacar todas as referências que a banda escolheu para explorar.

O ponto alto do single está no clipe, uma mistura de desespero, alucinação e alívio muito bem retratados pela artista Maria Demônia, uma obra-prima visual, diríamos.

Behold, I See The Son Ov Man vem na sequência destoando um pouco das duas primeiras, e abrindo espaço para um two step frenético, sem perder o peso e a agressividade já apresentada.

Com bpm’s misturados e um pig squeal de causar pânico, a faixa deixa o ouvinte certamente atônito e querendo mais. Destaque para a ambiência perfeitamente acoplada a música. Fechando o EP temos Ópia, uma faixa mais íntima, que conversa diretamente com referências de shoegaze, em um tom mais melancólico perfeitamente trabalhado pelos músicos. Uma ótima e diferente maneira de terminar o trabalho.

Planos para 2022

A Bare Knuckle começou 2022 lançando um trabalho excepcional e ao que tudo indica, ainda vamos ver mais novidades ao longo do ano, um possível merch novo e mais clipes estão nos planos da banda. “Quanto ao Merch e clipes estamos trabalhando pra conseguirmos o quanto antes novos fornecedores e designers, e para os clipes temos muitos planos” comenta o músico.

Referente aos shows, a banda segue respeitando a situação atual que vivemos e tem expectativas de subir aos palcos em breve. “Sobre shows é um assunto mais complicado, levando em consideração o atual cenário de pandemia, que esperamos muito que diminua sua gravidade e estamos fazendo a nossa parte ajudando na situação, mas temos planos, muitos planos, de fazer shows, grandes shows com bandas companheiras e esperamos muito que isso dê certo e que a situação como um todo melhore pra todos nós.”