Bad Omens: conheça o sucesso por trás do novo fenômeno do metalcore

Banda lançou no último dia 25 o novo disco THE DEATH OF PEACE OF MIND

Arte: Giovanna Zancope / Downstage

Bad Omens é uma banda americana de metalcore formada em 2015 na Virgínia. Composta por Noah Sebastian (vocal), Nicholas Ruffilo (baixo e guitarra), Joakim Karlsson (vocal e guitarra) e Nick Folio (bateria). A ideia de começar a banda veio de Noah, em 2013, quando escrevia músicas em um projeto paralelo. Então, em 2015, junto com Nicholas, Vincent (antigo membro) e Joakim – Nick entrou logo em seguida –, fundaram o que hoje conhecemos como uma das bandas mais proeminentes do metalcore moderno.

(Foto: Orie McGinness)

Inicialmente, o grupo lançou um EP sem título com demos de algumas faixas do álbum de estreia – o que chamou a atenção da Sumerian Records. Em dezembro de 2015 assinaram o contrato com a gravadora e lançaram seu primeiro single intitulado Glass Houses. Um mês depois, lançaram Exit Wounds e partiram para a sua primeira turnê no inverno de 2016, tocando ao lado de nomes como Veil of Maya, Born of Osiris e Erra. Em abril, The Worst In Me foi lançado, chamando a atenção do público e alcançando quase um milhão de streams em apenas um mês. Com singles bombando, turnês rolando, Bad Omens foi tornando-se cada vez mais conhecido no mundo da música.

O autointitulado e primeiro álbum de estúdio de Bad Omens é, enfim, lançado em 19 de agosto de 2016, recebendo críticas positivas, sendo até comparado com Sempiternal, do Bring Me The Horizon. Ao longo dos meses a banda foi sendo mais conhecida e reconhecida, até que, em 2017, recebeu seu primeiro convite para tocar no Warped Tour. Com o sucesso de seu álbum de debut, Bad Omens saiu em turnê com outras bandas, apoiando até Parkway Drive em sua turnê de Reverence. Após todos esses shows, o grupo decidiu dar uma pausa para trabalhar em seu segundo álbum de estúdio que – spoiler – foi um sucesso inimaginável. Desde então a banda tem crescido cada vez mais e se tornado um fenômeno do metalcore, ganhando uma base de fãs gigantesca e os devidos reconhecimentos por seu incrível trabalho.

O álbum de debut foi uma grande surpresa para os fãs de metalcore. Singles densos, consistentes e com letras pesadas. Tudo o que um bom fã adora. Sem falar em toda a estrutura de storytelling que ele traz, despertando curiosidade e prendendo o ouvinte do começo ao fim.

A intensidade do álbum desperta os mais profundos sentimentos, abordando temas como hedonismo, pactos, demônios, perdição e tudo do mais obscuro. Mas o que prende o público não é nem tanto a história por trás das letras, mas sim a forma como elas se conversam e se intercalam.

E chegamos para a parte que mais importa: as melodias, batidas, refrões, gritos e muitos riffs. Não é à toa que esse primeiro álbum é tão parecido com Sempiternal e que Bad Omens seja sempre comparado à BMTH, os traços que o self-titled traz são carregados de referências e o sentimento que perdura é algo bom e sincero. Profundo. Você consegue sentir na sua alma enquanto Noah grita do fundo do seu ser, passando todos os mais intensos sentimentos em apenas uma frase.

Se formos analisar todo o álbum, as faixas escolhidas com single não são assim tão comerciais, Bad Omens não é uma banda que existe apenas para fins comerciais. Eles não vendem música, mas tocam a sua alma como um musicista toca um violoncelo. Cativante e eterno. Assim é o primeiro álbum da banda.

FINDING GOD BEFORE GOD FINDS ME

Após três longos anos de espera, em agosto de 2019, Bad Omens finalmente entrega o seu segundo álbum de estúdio. Finding God Before God Finds Me é o que podemos chamar de um trabalho ambicioso. Se em seu álbum debut a banda era muito comparada à outras musicalidades e bandas, em FGBGFM o grupo começou a se desprender totalmente dessas narrativas, mostrando toda a sua capacidade musical, tanto nas composições quanto em produção.

(Imagem: Reprodução / Sumerian Records)

O disco começa da melhor maneira possível, Kingdom Of Cards é o tipo de música que te leva em uma imersão de camadas vocais, letra interessante e uma percussão dramática. Ela abre espaço para dois grandes momentos da obra que são Running in Circles, um metalcore moderno lapidado na sua forma mais pura e Careful What You Wish For, música lançada como single e a mais madura da banda até então, mostrando toda a genialidade por trás do quarteto.

A próxima tríade do álbum é a mais completa para quem gosta de um clássico e pesado metalcore. As faixas The Hell I Overcome, Dethrone e Blood mostram o lado mais agressivo, selvagem e cru do Bad Omens. Nessa parte também fica mais claro toda a temática por trás das composições, que muito falam sobre céu, inferno e suas controvérsias. 

Caminhando para o final do álbum, a sequência de músicas se torna mais amena, com composições menos complexas, Mercy é bonita e intensa, enquanto Burning Out tem um refrão cativante, perfeito para arenas. Por fim, If I’m There é um desfecho coeso para uma banda que ainda tem muito a mostrar. Noah, Rufillo, Jolly e Folio inovaram e conseguiram segurar sua potência instrumental do início ao fim. Um bônus para FGBGFM é a versão deluxe, que contou com um cover de Duran Duran e dois singles, Limits e Never Know, que, futuramente, acabaram se tornando os maiores sucessos do álbum e colocaram o quarteto em posição de destaque novamente no cenário do metalcore.

THE DEATH OF PEACE OF MIND

O terceiro álbum de estúdio da banda, intitulado The Death Of Piece Of Mind, mal foi lançado e já recebeu críticas positivas. Não surpreende, já que todos os singles lançados antes do álbum foram um enorme sucesso.

TDOPOM é um trabalho obscuro, poético, futurista, eletrônico e sensual. Toda a sua composição é hipnotizante, com letras densas e cativantes, batidas suaves e constantes e refrões intensos. Com 15 faixas surpreendentes, podemos até arriscar que este é o álbum do ano e o melhor do Bad Omens até agora.

(Imagem: Reprodução / Sumerian Records)

A grande composição poética dele já começa pela sua capa, que representa o conceito de como é lutar contra a sua própria mente diariamente. É a mais perfeita representação de pessoas que sofrem com problemas psicológicos, como ansiedade, depressão e distúrbios de personalidade. A falta de roupa da mulher representa a falta de personalidade que muita gente sofre durante seus episódios de crise; a postura debruçada mostra o grande peso que esses problemas causam, o fardo pesado de cada doença; o quarto vazio significa a solidão.

Pessoas ansiosas e depressivas tendem a ser mais sozinhas, inconscientemente empurrando todos para longe, porque, para elas, é mais fácil viver assim; e o vermelho representa a paixão, o amor e a felicidade que essas pessoas podem sentir, ao mesmo tempo que sentem raiva, dor, angústia e estresse constante. São sentimentos profundos e intensos que rodeiam essas pessoas durante toda a sua vida, constantemente. 

Resumindo, o conceito completo da capa é você olhar para alguém que uma vez conheceu e não ser capaz de reconhecê-la mais, porque sua personalidade e mente estão em constante mudança, sempre lutando contra seus próprios demônios.

Toda a concepção da capa é visível em todas as faixas do álbum. A profundidade de cada música pode ser sentida em cada batida, em cada timbre do Noah, fazendo o ouvinte sentir diversas sensações e ser transportado para o próprio mundo que Bad Omens criou.

Um álbum completamente coeso e aclamado pelos fãs, transportando cada um para um lugar distante, calmo e seguro, como se sussurrasse “você está seguro aqui dentro e nada pode te machucar”.

(Foto: Oswaldo Cepeda)

O disco já começa com uma batida suave e um vocal hipnotizante. CONCRETE JUNGLE é a faixa mais perfeita para dar início ao álbum, começando lenta e estourando do meio para o final, com um clímax arrebatador e um final marcante. Nowhere To Go é mais rápida, mais urgente, com um lírico mais profundo, uma guitarra sombria, riffs arrepiantes e um refrão cativante, fazendo o ouvinte viajar e se perder dentro de si mesmo. Take Me First já começa com a voz angelical de Noah e uma melodia envolvente. É uma faixa tranquila, mas ao mesmo tempo caótica – o que representa muito bem o álbum em si. O refrão é aquele que gruda na cabeça e mexe com o seu coração de uma forma absurda, impossível de superar.

O maior e mais aclamado single do álbum, The Death Of Piece Of Mind, tem o seu lugar especial na alma de cada fã. Com todo o conceito do álbum guardado nessa faixa, não tem como não adorá-la logo de cara. Letras fortes, batidas precisas e um vocal arrepiante. Bad Omens não podia ter entregado mais. What It Cost é mais uma intro para uma das mais intensas e profundas músicas já escritas por Noah: Like a Villain. É possível se perder completamente e se entregar por inteiro dentro dessa faixa.

(Foto: Oswaldo Cepeda)

bad decisions é uma faixa calma, intensa e pacífica. Apesar de ter uma letra mais profunda, sua melodia é suave, capaz de despertar sentimentos de amor, carinho e fazer o ouvinte projetar um lugar de paz para si. Just Pretend é eletrizante, te cativa do começo ao fim, tem um refrão capaz de transformar os piores sentimentos em borboletas brilhantes. O ouvinte pode se sentir triste e feliz ao mesmo tempo, são sensações completamente mistas, mas satisfatórias, porque a música ao menos te faz sentir.

The Grey mostra um lado de Bad Omens que poucos eram capazes de enxergar. A música traz sensações infinitas e prova que o metalcore moderno é composto por detalhes e diferenciais que muitas bandas não conseguem alcançar, pelo menos não como esse quarteto é capaz. O alcance de qualidade e performance que a banda está tendo é surreal.

A faixa Who are you? é diferente, senão peculiar. Uma vertente que vem crescendo cada vez mais dentro do metalcore. É uma faixa futurista e poética, trazendo sensações distintas e um misto de tranquilidade com desapego. É intensa, ou você ama ou detesta. Somebody Else está dentro da vertente mais futurista da faixa anterior, com sintetizadores constantes e uma batida mais envolvente. É gostosa de ouvir e sentir, sendo capaz de transformar diversos sentimentos e projetar realidades paralelas. IDWT$ é completamente distinta de tudo o que ouvimos até agora. Lembra um pouco o Post Human do BMTH – algo futurista, um metal misturado com um pouco de pop, deixando uma sensação empolgante e viciante.

(Imagem: Reprodução / Instagram @badomens)

E, se estávamos esperando algo mais eletrizante e diferente de tudo o que Bad Omens fez até hoje, eles então fizeram What do you want from me? É também aquela faixa que ou você ama ou odeia, não existe meio termo. Com uma letra profunda e inspiradora, a música traz uma sensação peculiar de nostalgia junto com algo que ainda não vivemos (faz sentido?). É uma faixa única e, sem dúvidas, o que o metalcore moderno estava precisando. ARTIFICIAL SUICIDE é pesada, obscura e terrível, de um jeito bom, óbvio. É a música mais pesada do álbum, com um gutural tenso e sombrio. Delicioso de ouvir e viver cada segundo.

Can you hear me through the white noise? E, para finalizar o álbum com chave de obsidiana, temos Miracle. Cativante, de certa forma assustadora, trazendo uma energia meio halloween, mas ao mesmo tempo algo infinito. Eterno. Bonito de se ver e marcante quando se toca. Não há faixa mais perfeita para finalizar um álbum tão conceitual e poético. 

Bad Omens soube entregar tudo o que a indústria da música e a base de fãs estavam precisando e clamando. Queríamos algo novo, algo único, que despertasse os mais profundos sentimentos e trouxesse à tona tudo aquilo que tanto tentamos esconder. The Death Of Piece Of Mind é completo, transparente e vulgar, mostrando a verdade nua e crua de quem tanto sofre escondido. É o grito daqueles cuja voz se manteve calada por muitos anos, pedindo socorro. Denso, pesado e eterno. Noah Sebastian é o mais novo poeta do século vinte e um e estamos ansiosos por mais de suas intrínsecas obras ao lado de seus colegas de banda que mostraram uma qualidade musical muito acima do esperado.