O efeito Placebo e a inevitável dor da humanidade em Never Let Me Go
Banda desembarca no Brasil em março para um show em São Paulo
Passada quase uma década desde Loud Like Love, seu último álbum de inéditas, Placebo retornou, em março de 2022, com o poderoso Never Let Me Go. O já não-tão-novo disco leva o ouvinte, através dos tons eletrificados das guitarras e da inconfundível voz metálica de Brian Molko, numa viagem ao âmago dos prazeres advindos da escuridão que permeiam a existência humana. Apenas Placebo sendo Placebo, mais uma vez.
Dar play em Never Let Me Go é ser atingido por uma série de respostas psicossomáticas que surgem desde a primeira faixa. Forever Chemicals, abertura do álbum, aborda o uso de remédios – tema recorrente nas canções de Placebo – como mediador para lidar com a complexidade das relações, emoções e relacionamentos, assim como as consequências de seu uso. Ao longo dos versos, somos apresentados a um protagonista preso em sua própria jaula mental, que enfrenta dificuldade em exercer sua criatividade e imaginação, e vive em um constante estado de apatia e anseio pelo desprendimento dessa dor que o atormenta.
Beautiful James é a faixa seguinte, lançada como single em setembro de 2021 e que tratou de traçar os primeiros indícios da sonoridade e temática do álbum que estava por vir. Segundo Brian Molko, a letra fala sobre normalizar as relações não-heteronormativas como protagonistas. Novamente, não se trata de um tema exclusivo deste trabalho, visto que Placebo é conhecido promover, ao longo de quase 30 anos de carreira, uma desconstrução sexual e de gênero, desprezando a binariedade dominante na sociedade. Entretanto, em entrevista à NME, o vocalista do duo britânico ressaltou que não deseja que sua própria sexualidade e experiências determinem a interpretação do público: “Continua sendo imperativo para mim que cada ouvinte descubra sua própria história pessoal dentro dela – eu realmente não quero dizer a você como se sentir”.
Ainda segundo Molko, estes e outros temas surgem como uma resposta aos conflitos atuais mundiais, polarização política/social, desastres naturais e o período pós-pandêmico – que é um caos à parte. O baixista Stefan Olsdal, por sua vez, afirma que o álbum é o resultado da tentativa de “[…] capturar a confusão de como é estar vivo hoje, […] sendo continuamente dominado por informações e opiniões”.
São várias as maneiras para escapar dessa confusão; em Hugz, Placebo cita o toque físico de um abraço e o humor desesperado como algumas das rotas de fuga. Já em Happy Birthday in the Sky, que retrata temas como perda e o processo de luto, Molko canta sobre outras tentativas desesperadas de encontrar conforto na escuridão. A trajetória conflituosa do protagonista continua em The Prodigal, relatando o processo de aceitação de passado doloroso e acatando a tristeza como um dos caminhos para a libertação do espírito.
O que você faria se soubesse que andam te espionando? Brian Molko escreveu uma música! Em Surrounded By Spies, ele traz um relato pessoal contado “através de uma lente de paranoia”. Para esta canção, o objetivo – atingido com maestria – é conseguir retratar a sensação claustrofóbica causada pela constante vigilância por parte das tecnologias e redes sociais.
Assim como Beautiful James e Surrounded By Spies, Try Better Next Time chegou ao público antes do lançamento do álbum, estreando como terceiro e último single de Never Let Me Go. A faixa retrata bem a visão da dupla de rock alternativo em relação aos tempos modernos. Explicitamente, Placebo discorre sobre mudanças climáticas e e o iminente fim da vida (humana) na Terra.
Nas faixas Sad White Reggae, Twin Demons e Chemtrails, a banda também fala sobre escapismo e utiliza de diversas metáforas para elucidar os temas abordados. Nas ultimas músicas presentes em Never Let Me Go, Placebo continua passeando entre o descontentamento, o conformismo e a busca por um olhar mais otimista, mesmo que a forma de encontrá-lo seja pelo isolamento voluntário, como narrado em Went Missing. Por fim, na icônica Fix Yourself, Placebo convida o ouvinte – com um curto e grosso “Go fuck yourselves!” como empurrãozinho – a priorizar seu crescimento pessoal, rejeitando julgamentos externos e ideais, sejam eles religiosos ou culturais.
O que esperar do show do Placebo no Brasil
Créditos: Mads Perch
O impactante Placebo retorna ao Brasil pela quinta vez em 17 de março para o tão aguardado show da turnê de divulgação de Never Let Me Go. Por se tratar de uma banda com uma discografia rechada de canções marcantes, não é de se espantar que fãs especulem sobre a setlist escolhida para os shows da América Latina, pedindo por músicas como Meds, Every Me Every You e Special Needs. E para você, que música o Placebo não pode deixar de tocar?
Se você não quer perder a chance de prestigiar um dos maiores nomes do rock alternativo, visite o site oficial da Ticket360 e garanta seu ingresso para o reencontro do Placebo com seus fãs brasileiros, que acontece já no próximo mês, no Espaço Unimed. See you (at the bitter end?)