O tapete vermelho nada desastroso de Static Dress

Em seu primeiro álbum, o quarteto de Leeds mostra uma banda completamente no controle de sua visão e disposta a fazer a diferença no cenário emocore

Capa: Static Dress

Existem bandas que, quando surgem, deixam um sentimento de êxtase nos amantes da música. Esse é o caso do Static Dress. A banda é formada por Olli Appleyard, responsável pelos vocais e a mente por trás de todo o conceito do grupo, o misterioso e mascarado guitarrista conhecido como Contrast, o baixista George e o baterista Sam Odgen. 

Em atividade desde 2018, o quarteto de Leeds compartilhou com o público o seu primeiro álbum, o Rouge Carpet Disaster. A narrativa desse disco começa ainda antes, com o lançamento do EP Prologue juntamente de uma história em quadrinhos, desenvolvida por Appleyard e Tannya Kenny, que antecede os eventos de Rouge Carpet Disaster em um perfeito storytelling. Produzido por Erik Bickerstaffe, do Loathe, e com todos os detalhes da parte visual pensados pelos quatro integrantes, o Static Dress é a grande promessa do novo cenário do emocore.

Foto: murrydeaves

Versátil, Rouge Carpet Disaster nos faz mergulhar em um mar de nostalgia, questionando por que a sua sonoridade soa tão familiar, ao mesmo tempo que carrega em si algo totalmente novo. É quase impossível não fazer comparações com grandes clássicos dos anos 2000, porém é nítido como a banda deixou sua marca magistralmente registrada a ponto de não ser comparada com absolutamente ninguém. É possível ouvir elementos de certos gêneros em cada música, mas isso vai muito além de ser colocado dentro de uma caixinha com limitações.

Carregado de emoção, o conceito por trás da obra pode ser definido como um relacionamento amoroso frustrado, com suas letras pesadas, melodias extremamente encantadoras e metáforas para lá de inteligentes. Porém, todos esses elementos parecem ficar em segundo plano dentro da atmosfera caótica que a banda cria.

Tudo isso fica claro logo no início da obra, em fleahouse é possível enxergar o âmago de Appleyard, vomitando palavras duras, sem nenhuma cerimônia, acompanhado de uma bateria eletrizante e riffs pesados. A partir daqui começa uma jornada pela narrativa ficcional do frontman. ‘sweet’ mantém o ritmo forte e acelerado, adicionando mais profundidade e efeitos de pedal, além de sintetizadores muito bem colocados. Tudo parece encaixar perfeitamente.

‘Push Rope’ é outra agradável surpresa, com sua introdução caótica e versos carregados de emoção, ela nos apresenta um riff fascinante de shoegaze, com uma letra tão melancólica e profunda que é quase impossível não se impactar. Já Courtney, just relax e Di-sinter conseguem ser as músicas mais pesadas de todo o álbum, mostrando todos os melhores elementos da banda, uma metamorfose que permeia entre o caos e a suavidade. Um grande destaque aqui é que Di-sinter conta uma participação especial de King Yousef, um produtor e musicista visionário na cena. 

Dando início a segunda parte do disco, temos aqui talvez a melhor sequência da obra. such.a.shame, …Maybe!!?, Lye Solution e Unexplainabletitlesleavingyouwonderingwhy (Welcome In) trazem consigo um lado pouco menos agressivo, mas ainda pesado e com um toque especial do pop punk e do hardcore. Pedais duplos, instrumentais brutos e vocais implacáveis são características em destaque nas canções.

Attempt 8’ e Marisol são as faixas mais delicadas e pessoais, onde Olli Appleyard se despe de todas as suas camadas e permite que elas sejam expostas, além de serem músicas fáceis de escutar e compreender, mas que não deixam a desejar em nenhum momento. E para fechar com chave de ouro, temos cubicle dialogue, uma canção que revisita os temas líricos das demais faixas do álbum e deixa um gostinho de quero mais.

Foto: murrydeaves

Veredito

É notável o que o grupo conseguiu realizar ao capturar a essência do post-hardcore e dos gêneros relacionados, trazendo tudo para o presente e fazendo com que se pareça algo novo.

Em suma, o Static Dress pode ser considerado uma peça do futuro do post-hardcore, pois possui exatamente tudo aquilo que um fã do gênero precisa. Rouge Carpet Disaster é uma experiência única, que te leva de volta para os momentos da adolescência, ao mesmo tempo que te faz almejar o futuro. E, embora todas as músicas possam soar distintas, elas são o Static Dress em sua forma mais pura.

Para fãs de: Loathe, SeeYouSpaceCowboy…, Profiler