Impermanente: uma experiência musical à flor da pele 

Com uma verdadeira explosão de sentimentos e autenticidade, o primeiro álbum da R4vel é um verdadeiro abraço musical

Capa: Ravel

Além de ser uma “estreia” muito esperada, o primeiro disco da R4vel mostra que sempre é possível se transbordar de novas maneiras, música após música. Depois de 2 EPs e alguns singles, 2024 é o ano do álbum de estreia de uma velha conhecida da cena.

Foto: Giuliana Miniguiti

O disco recebeu o nome de Impermanente, o que acaba sendo uma bela ironia, já que o disco é tão diversificado dentro da identidade da banda, que é quase impossível alguma música não ser permanente na nossa cabeça (com o perdão do trocadilho).

O disco, que é resultado de um ano de trabalho e dedicação, deixando nítido que cada membro da banda transbordou um pouco de si, fazendo do disco um quadro de respingos que formam uma bela obra de arte. 

Foto: Giuliana Miniguiti

Sete Chaves é o som que abre o álbum. A faixa começa com uma melodia mais calma e melódica, com uma breve provocação sobre o que a música quer abordar. Mas, antes mesmo de percebermos, somos arrebatados pela explosão do instrumental e com os vocais sendo a cereja do bolo. A canção fala sobre as dificuldades do cotidiano e como sofremos para nos reerguer depois das rasteiras que recebemos ao longo da vida.

O primeiro single do disco a ser lançado, Névoa,vem na sequência para manter o ritmo do trabalho. A música começa um com um ar intimista, mas não demora para vir com tudo. Extravasando um sentimento de angústia e frustração, que fica nítido na letra e nos vocais impecáveis do Edu, parece um retrato do período político turbulento que passamos com o último governo.

Flores é um ótimo contraponto a faixa anterior, trazendo uma mensagem mais positiva. Com um instrumental envolvente, a canção vai nos guiando por uma pequena viagem, verso após verso. Falando sobre como tudo melhora com o tempo, “desapegar do que não dá pra carregar” é aquela mensagem que todos precisamos ouvir para lembrar que não se dirige olhando só pro retrovisor.

Com um dos refrãos mais agradáveis de cantar gritando, Então é Isso é uma música sobre finais, sobre fechamento de ciclos e como nós e nossas relações estamos sempre vulneráveis ao que está em volta, e isso vale para qualquer tipo de relação. Todo mundo já passou por algo na vida que torna fácil a conexão com a letra da canção, afinal, todo mundo já não soube lidar com algo.

A balada acústica do disco, Fora do Lugar, fala sobre sentimentos, memórias e momentos ruins sem ser específica, tornando fácil a identificação com música. A verdade é que não importa quão feia seja a nossa queda, é importante que a gente nunca esqueça de que não somos os rótulos ou as coisas que criam de nós. “Subi, quando voltei a ser quem eu sou” é um verso muito poderoso, que bate muito forte e que fecha perfeitamente a faixa que divide o disco.

Radar tem um instrumental bem rico e com diversos elementos diferentes. Isso faz dela uma das mais interessantes da obra. Com um riff principal que lembra muitas bandas de midwest emo, a letra encaixa perfeitamente no instrumental, criando uma experiência sinestésica muito agradável. A música tem tantos diferenciais que representa bem a banda e não seria estranho se tivesse sido um dos singles do álbum.

Foto: Giuliana Miniguiti

Novo Ideal é uma música direta. Todo mundo já sentiu que precisava se podar para encaixar em algum lugar, e só vamos descobrir os danos disso na nossa vida muitos anos depois. Não importa quantas peças a vida pregou em você, o que fica são os aprendizados que cada um trouxe, afinal, a vida é um eterno cai, levanta e continua, e essa música fala muito bem sobre isso.

Caminhando para o final do disco, Leal possui uma letra muito bonita e que pode facilmente se referir a um parceiro, um amigo ou até mesmo uma mensagem da banda para quem acompanha o seu trabalho. Uma experiência musical muito gostosa, que apesar de ser a cara da R4vel, tem seu destaque no meio de um disco com tanta música boa.

E pra coroar uma experiência incrível, o álbum fecha com Planar, que também foi o último single lançado. A faixa tem um instrumental poderoso e que bate forte junto com a mensagem que quer passar. Temos muitos motivos pra desistir, mas persistir e se manter forte é o melhor caminho. É com essa pancada que o disco termina, deixando com gostinho de quero mais.

Uma experiência de tiro curto, algo em torno de 25 minutos, Impermanente é fácil de ouvir em loop. Uma música leva a outra, que leva a outra e quando você percebe, você já ouviu o disco três vezes e está cantarolando todas as músicas.

O álbum é tão rico e envolvente que qualquer desavisado duvidaria ser uma estreia. Com muita maturidade, sinceridade e sentimentos que vão além do amor pela música, a R4vel com certeza trouxe um dos melhores trabalhos do ano. Impermanente é tão incrível que posso finalizar parafraseando a própria banda: “então é isso, tá difícil verbalizar”.

Para fãs de: The Story So Far, Movements e Bullet Bane