Bayside Kings renova sua existência em novo EP

Existência é um marco na carreira da banda santista, sendo o primeiro trabalho cantado em português

Arte: Inaê Brandão / Downstage

Com mais de 10 anos de caminhada, o Bayside Kings segue se consolidando como um dos nomes mais relevantes do hardcore e da cena underground nacional. A banda santista sempre levou a palavra do hardcore para além dos palcos, impactando todos ao seu redor e construindo uma verdadeira comunidade com seu público. Dando início a mais uma fase em sua carreira, o Bayside Kings agora passa sua mensagem em português, tendo seu primeiro registro neste formato com o EP Existência.

O Downstage teve acesso aos outros dois sons que completam o EP, bateu um papo com o vocalista Milton Aguiar e deu suas percepções acerca das 4 faixas presentes no Existência.

Trilhando sua estrada de forma magistral, os santistas constroem uma base sólida desde o dia que colocaram os pés no primeiro palco, sempre com olho no olho, e partilhando as vitórias e os desafios com a galera que acompanha o quarteto. Parte dessa base que acompanha a banda desde 2010, vem muito de encontro com a forma como uma noção de comunidade foi criada ao redor do Bayside Kings. “Tem gente de diversos lugares que as vezes eu não sei o nome ou como ela é, mas ela de fato, faz parte desses 11 anos e tem partilhado de algum jeito força na construção para chegarmos aqui e ir além.”, afirma Milton.

(Imagem: Divulgação / Jow Head)

E quem acompanha essa trajetória, sabe a espera e a ansiosidade para a chegada da nova era dentro do Bayside Kings: letras cantadas em português. Como uma forma de comunicar diretamente sem curvas, os planos para essa virada de chave vêm desde 2015, após o lançamento do álbum Resistance, onde escrever de forma direta, mesmo que ainda em inglês, era algo necessário.

Mas ainda assim, faltava algo. “A velha “cobrança” do BSK “é muito foda”, comenta Milton. “Até das vezes que atuamos fora do Brasil, as pessoas e bandas perguntavam sobre isto e paralelamente eu sempre participei de colaborações com outras bandas de diversos gêneros”, revela.

“Agora vamos para a matemática que me fez mergulhar neste vazio que era para mim, cantar em português”, revelou, referindo-se à soma do momento sociopolítico do Brasil, à colaboração em Aliança parte 2 da banda John Wayne, à crítica interna de comportamento dentro da comunidade hardcore punk e ao desejo de ocupar novos espaços dentro do Brasil. Tudo isso, resultava em apenas uma coisa: Cantar em português.

E desta vontade, somada com a iniciativa e o direcionamento direto dentro dos ideais da banda, surgiu o primeiro EP intitulado Existência, contado com quatro faixas explosivas e intensas, que ainda dão margem para mais três EP’s que ainda serão lançados dentro do cronograma da banda.

“Com toda esta mentalidade de evolução, percebemos que para o álbum novo, nosso primeiro trabalho em português, teria que ter uma estratégia para sermos produtivos, no caso, fazer o esforço certo, no tempo certo com o conteúdo certo.”, pontua Milton. “Então pegamos o álbum como todo, o #livreparatodos e fragmentamos ele em 4 partes através dos EP’s Existência, Tempo, Dualidade e (R)evolução. Onde cada uma dessas partes, as músicas conversam com o tema central em diferentes pontos de vista, sem contar que, com a fragmentação e em um período forçado sem shows, nós focaremos mais nos singles, explorando-os além da música.”, completa.

O EP

Existência é visceral em sua essência, atrelando a sonoridade rápida, furiosa e urgente do hardcore punk, as letras profundas e reflexivas presentes na obra. O Bayside Kings sempre teve um cuidado extra com a mensagem transmitida em suas canções e com a mudança no idioma, o grupo abre novas possibilidades e conexões.

Abrindo o trabalho com a faixa título, que foi o primeiro single de divulgação, o Bayside vem com seu hardcore acelerado e frenético, com peso e atitude, mostrando aos fãs que valeu a pena esperar pelo EP. Miragem entrega doses de melodia em meio a sonoridade agressiva característica da banda e um refrão poderoso. É um dos melhores momentos do EP.

Ronin, fala sobre a busca pelo valor da existência, trazendo uma reflexão sobre as escolhas e as decepções da vida. O instrumental da faixa é um absurdo, com uma dose extra de energia. Uma faixa que vai colocar o público para “dançar” nos shows.

Fechando o EP, Alpha e Ômega volta com o instrumental melódico misturado com a fúria do hardcore, algo que o Bayside Kings domina com maestria. Falando sobre se libertar de regras pré-estabelecidas e a dificuldade de lidar com finais, a música encerra com perfeição um dos trabalhos mais importantes na carreira da banda.

Próximos Passos

(Imagem: Divulgação / Jow Head)

Ponta pé inicial dado. Agora é manter a chama acesa e continuar dando vida a essa nova fase que o Bayside Kings finalmente ousou encarar. “Estamos aproveitando as janelas em conjunto para produzir novas músicas, arranjar jeitos de se comunicar mais com a galera que nos dá suporte e formas de produção sem danos.”. O propósito se mantém vivo, sempre conectando o máximo de pessoas e ideias possível, e deixando o caminho mais amistoso para aqueles que virão. “Começamos o #LIVREPARATODOS, onde ele vai contar uma jornada com um único propósito que é de liberdade para todos, onde ser livre é deixar o próximo ser livre e que todos somos células de auto revolução com um questionamento que é: “o que eu posso fazer para as coisas valerem a pena?”, finaliza Milton.

Existência abre os novos caminhos do Bayside Kings com uma qualidade impressionante. O vocalista Milton fez um ótimo trabalho com as métricas em português, se adaptando muito bem à nova mudança e alcançando um resultado extremamente positivo. Mais uma vez, o Bayside Kings mostra que a música pode transcender e se expandir para debates, ideais, lifestyle e criar uma comunidade unida. A banda segue transmitindo uma mensagem relevante e necessária, atrelada a essência do hardcore, agora com um novo alcance.