Volta aos palcos de Bullet Bane promete atmosfera enérgica e muita emoção
Banda volta aos palcos em 20 de novembro no Fabrique Club, em São Paulo
Com os shows enfim voltando aos poucos, era inevitável que alguém teria de ser o primeiro a subir nos palcos. No new core, o Bullet Bane é o nome com essa “responsabilidade” de estrear o retorno da cena nas apresentações ao vivo.
A banda paulistana teve um 2020 intenso e frutífero quando se trata de projetos e lançamentos. Com singles, lives, álbum, clipes e parcerias realizadas, não é equivocado dizer que Arthur Mutanen (vocais), Danilo Souza (guitarra), Fernando Uehara (guitarra), Rafael Goldin (baixo) e Renan Garcia (bateria) prepararam bem o terreno para essa volta aos palcos, que agora finalmente se torna realidade no próximo dia 20, no Fabrique Club.
“Emocionante”, descreve Renan em entrevista exclusiva ao Downstage sobre a sensação de tocar para o público novamente. “Chegou uma hora [da pandemia] que eu não sabia mais se ia ter show. Teve esse momento de ‘vai passar’, e teve o momento que fiquei ‘será que vai mesmo passar?’. Então é o que tá sendo o grande peso desse momento.”
“No ano passado e começo desse a gente até esqueceu um dos principais propósitos da banda, que é de interagir com a galera”, relembra Dan. “Sempre fomos uma banda que tocou o máximo que deu ao longo da nossa carreira e aí quando parou nos primeiros meses foi difícil, depois a gente acostumou com a sensação de que ter banda é isso agora: divulgar um material online, lançar um disco no Spotify…”
“A gente esqueceu um pouco desse sentimento de show”, admite. “Vai ser uma emoção dos dois lados. O Bullet Bane não é uma banda que tem números gigantescos, mas quem gosta, gosta muito; e é real pra pessoa.”
A energia de tocar perto do público e fazer essa troca sempre foi algo muito forte para a banda, e agora, após dois anos sem esse contato, a expectativa é enorme. “Sempre sentimos muito, até mesmo em shows menores”, comenta Fernando. “Estávamos pra lançar o nosso álbum antes de começar a rolar a pandemia, com um show marcado de lançamento. Era o primeiro disco com o Arthur, a gente viu que ia ter que cancelar e ficamos sem perspectiva.”
Quanto à responsabilidade de ser a primeira banda da cena, a banda revela que “ainda não caiu a ficha”. Voltar a tocar após dois anos ainda é algo com a sensação de novidade para o Bullet Bane. “Temos certeza que é o show que a gente mais tá se preocupando com muitas coisas, com muitos detalhes pra ver se a gente aguenta”, revela Renan, destacando principalmente o fato de ser o primeiro show da banda com 90 minutos de duração. “Existe toda uma preocupação que pode bloquear a visão dessa responsabilidade, mas a gente tá com um olhar tão positivo que não tá tomando conta da dimensão dessa responsabilidade. Alguém vai ter que botar a cara pra fazer primeiro.”
“O rock foi um dos últimos a voltar”, detalha Dan. “Sempre soubemos que seríamos os primeiros a parar e os últimos a voltar — e finalmente esse momento chegou.”
O Bullet Bane durante o isolamento
“A gente aprendeu a olhar para outros lugares da banda”, revela Renan sobre uma realidade nova, em que shows deixaram de ser a prioridade máxima do Bullet Bane pelo simples fato de não terem mais uma previsão de voltar. De repente, novos formatos e novas comunicações precisaram ser impostas à rotina do grupo e de todo o cenário musical. “A gente armava um planejamento em cima da data de um festival, algo assim”, relembra Dan. “Começamos a ficar ligados nessas paradas digital, até gravar foi difícil nessa época.”
“A gente tá aprendendo muito”, adiciona Renan. “Organizamos esse planejamento de lançamentos. A gente vinha naquele embalo, ia marcando shows… a gente precisa saber trabalhar em equipe. Isso mudou a visão.”
“Depois de um tempo a gente consegue enxergar a parada fora da bolha”, comenta Dan. “No começo foi difícil pensar em alternativas, mas a gente conseguiu gerar bastante conteúdo, fizemos muita coisa a distância, clipes, documentário… coisas que fizemos sem estar 100% presentes”, finaliza Fernando.
A saúde mental no isolamento social
“A pandemia me trouxe uma reflexão de que ter projetos conta mais do que ter grana, ter coisas pra te motivar”, revela Renan sobre o Bullet Bane ter servido como um verdadeiro incentivo para continuar durante dois anos. “Quando o sonho acaba, tudo vira pesadelo, se você deixa seus propósitos morrer, fica difícil. É um lance pra mirar, pensar sempre nessas coisas.”
Quando pensa sobre a quantidade de tempo em que a pandemia proporcionou à banda, Renan revela que foi mais um “espaço para pensar”, comparando com o tempo em que a banda lançou o álbum Continental em 2017 e teve uma rotina um pouco mais parada do que o período pré-pandemia. “Foi diferente por a gente não saber o que vinha pela frente […] ter mais espaço pra pensar, mas eu também sinto que a gente fez coisa pra caralho.”
“Jamais teríamos produzido um disco por ano”, brinca Dan.
Mudança de sonoridade
Quem acompanha o Bullet Bane desde o seu debut, o New World Broadcast, em 2011, sabe que muita coisa mudou, que salta fora apenas de questões que envolvem sonoridade. De lá pra cá a banda não só alternou sua formação, como também detalhes dentro das composições: diminuíram a velocidade dos riffs e bpm’s, assim como colocaram diversos elementos que conversam com o que a banda é atualmente. Se fizermos um paralelo entre o passado e o presente, é possível enxergar um Bullet Bane mais sagaz, com sede do amanhã, e hoje, é fácil notar o quinteto mais seguro de si, e certos de como e onde querem chegar, mesmo que acontecendo tudo naturalmente.
Atrelado a essas mudanças, a entrada do vocalista Arthur Mutanen contribuiu, e muito, para essa nova fase que a banda encara. “O Arthur entrou na banda e a gente deu uma rejuvenescida, e isso foi bom!”, comenta Danilo.
Ainda falando da entrada de Mutanen na banda e toda a rejuvenescida que acabou por vir com ele, esse foi um dos ganchos para o Bullet Bane encontrar novos ares e ser descoberto por novas pessoas, fato que começou a acontecer com o lançamento do Ponto, primeiro disco gravado nas vozes de Arthur, que conversa com outra sonoridade e, consequentemente, introduz a banda em um cenário novo e cheio de caminhos para serem descobertos. Uma banda de hardcore rápido em sua fundação, hoje abraça o emo e faz dele sua morada.
“A gente nunca foi uma banda que se limitou a um público, ou fazer uma música pra galera X. Apesar de ter as raízes, a gente sempre ouviu outras coisas, tendo a cabeça aberta pra explorar e atingir. Esse é um dos motivos de cada álbum ter uma característica tão diferente do outro, tem quem pergunte que a gente explora muito, mas no fundo a gente gosta de ouvir música boa e fazer música boa”, finaliza Fernando.
Sentimento transcendendo o som
É fato que o hardcore é um gênero que necessariamente precisa vir acompanhado de uma mensagem. No caso do emo, ou do alternativo, questões emocionais transcendem a mensagem e entram estourando a porta do ser. É isso que pode ser visto, principalmente, nos últimos dois lançamentos do Bullet Bane: intensidade, emoção, entrega e esmero. Isso é geralmente muito particular, mas que sempre contagia quem está no entorno, como é o caso da track Lembra Quando Tudo Começou, que também conta com a participação de Lucas Silveira.
“A Lembro é muito mais profunda do que a galera imagina”, começa Renan. “Até pra gente ela é bem forte. Eu já gostava muito dessa música e quando o Arthur começou a contar [a história da música], eu falei ‘dá um abraço’, por isso que eu acho que ela chega na galera de uma maneira forte, porque ela é forte!”, afirma.Olhar a trajetória sonora do Bullet Bane é saber que o tempo passa, muda e amadurece. É entender que a vida sempre gira de uma maneira que as coisas se encaixem da melhor forma possível, começando, terminando, ganhando, perdendo, mas sempre firmado na verdade, que é a maior faceta que a banda passa: cinco amigos que fazem por paixão, para emocionar quem os deixa entrar.
Bullet Bane volta aos palcos em 20 de novembro no Fabrique Club, em São Paulo. Adquira já seu ingresso.