A música como aliada da saúde mental

Presente em diversos momentos da vida, essa arte também é capaz de auxiliar no emocional

Arte: Inaê Brandão / Downstage

Independente do gênero, é inegável que a música tem o poder de mover multidões e provocar catarses por onde passa. Desde a habilidade de trazer de volta memórias da infância aos elos de amizade criados entre fãs em shows, a música serve como uma forma de associar e construir significados para cada indivíduo de forma única.

O musicoterapeuta Pedro Bicaco explica como a música pode ser aliada na saúde mental à medida que ela nos auxilia a desenvolver habilidades de respostas para diversos momentos da vida: “A música nos oferece formas de comunicação que por vezes só a verbal não dá conta. Ela nos ajuda a entrar em contato conosco e nosso ecossistema,  favorecendo uma melhor consciência biopsicosocial”, revela em entrevista exclusiva ao Downstage.

Essa relação também é explicada pela psicologia, como afirma a profissional do ramo Lívia Cortez ao explicar que os frutos positivos da relação com a música se dão principalmente pela construção de memórias relacionadas a elas. “É muito importante porque a música tem o papel de despertar essas memórias com muito mais afeto,” conta.

(Imagem: Eric Nopanen / Unsplash)

 Esse afeto vem para desmistificar a ideia de que ouvir um determinado estilo musical pode interferir negativamente no psicológico de alguém, uma ideia que já foi comumente associada ao movimento underground e emo, principalmente durante o auge do sucesso do estilo. Esse estereótipo chegou a ser uma preocupação entre pais e responsáveis da época, que viam o estilo crescer entre adolescentes com maus olhos, por acreditarem que as letras emocionais e as roupas pesadas derivadas do movimento punk poderiam estar associadas ao desenvolvimento de doenças psicológicas. 

A psicóloga esclarece como essa compreensão de que ouvir um estilo musical pode desencadear consequências negativas para o psicológico de alguém é errônea. “Geralmente escolhemos uma música que acompanhe nosso humor e que represente aquilo que estamos sentindo no momento, que cumpra um papel instantâneo. Não é algo que vá interferir nas nossas atitudes depois”, e brinca: “Não significa que alguém esteja ouvindo uma música sobre estar com raiva, por exemplo, que ela irá desligar o som e quebrar alguma coisa por causa da música. É um processo inverso.” 

Mesmo em maus momentos, escolher uma boa playlist para tocar nas horas difíceis também é uma saída muito usada e tem seus efeitos comprovados. Essa habilidade está relacionada à liberação de dopamina: o neurotransmissor do prazer. Ou seja, dar play naquela música da sua banda preferida no trânsito ou antes de uma prova difícil realmente faz bem.  

(Imagem: blocks / Unsplash)

Porém, é importante destacar que para quem busca na música uma forma de lidar com um problema mais complexo, como uma fase de luto ou ansiedade, Pedro Bicaco alerta sobre a necessidade de acompanhamento de um profissional para definir o tratamento correto. “Procurem um profissional qualificado para lhe auxiliar nesse processo e assim passar a conhecer sua história sonoro-musical, sua identidade sonora. Não existe uma fórmula, cada indivíduo é único então sua expressão sonora também.” 

Por fim, a psicóloga Lívia Cortez recomenda uma boa dose de música de qualquer-que-seja-o-gênero para deixar um dia mais alegre: “Não existe música boa ou música ruim. Música boa é música que te faz bem.” 

O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone (disque 188), email e chat 24 horas todos os dias.