Analisando a discografia de Avril Lavigne
Completando vinte anos desde o lançamento do seu primeiro longa, Avril conta com um repertório singular marcado por muitos hits
Há 20 anos, a gravata, a calça cargo e o estilo tomboy skatista estavam prestes a adquirir um novo significado graças a uma jovem canadense de 18 anos. Em um período que o pop punk vivia uma fase inicial de consolidação, Avril Lavigne surgiu na cena como um dos grandes nomes do gênero, despertando a curiosidade de fãs do mundo todo que queriam ver de perto as composições e o estilo único da cantora, que chegou quebrando barreiras e recordes impensados.
De Let Go (2002) a Love Sux (2022), Avril Lavigne tem um repertório em sua discografia com direito a todos os tipos de narrativas: da fase adolescente à adulta, do emo ao pink e do sucesso aos erros. Por uma longa caminhada, a princesa do pop punk leva à mão do ouvinte a conhecer fases do estilo musical e a apostas no pop rock que explicam porque ela ainda lota shows e marca presença no imaginário coletivo mesmo vinte anos depois:
Let Go (2002)
Com canções escritas pela própria Avril Lavigne entre seus 16 e 17 anos, são treze faixas que lançaram a canadense para o mundo: o álbum aborda temas pessoais da vida da artista durante a adolescência, como frustrações, desilusões amorosas e crescimento, mas de um jeito que conseguiu conversar com um público amplo de idades diversas.
Fazem parte do repertório do álbum músicas que acompanham a cantora até hoje e ainda tocam em rádios pelo mundo todo, como as inesquecíveis Sk8er Boi, Complicated e I’m With You, singles que entraram no Billboard Hot 100.
O Let Go moldou a Avril e a imagem construída na época, seja da menina moleca, andando de skate no shopping em Complicated, ou das munhequeiras e as correntes na emotiva I’m with You ainda perdura entre o público.
Esse sucesso do álbum e do estilo da cantora renderam ao Let Go um espaço definitivo nos 200 álbuns do Rock and Roll Hall of Fame, além de uma indicação ao grammy e mais de 16 milhões de cópias vendidas no mundo todo.
No Brasil, a chegada ao público geral se deu também pelas novelas: os três singles foram trilha sonora de duas edições da Malhação e de Mulheres Apaixonadas, respectivamente, nos anos de 2002 e 2003. Em uma época em que os adolescentes se juntavam à frente da TV para assistir a trama do Cabeção, foi questão de tempo até as músicas da cantora estourarem.
Let Go foi o lançamento da Avril para o mundo com muito pop punk, um eu-lírico identificável e estilo único.
Under My Skin (2004)
O segundo álbum da cantora mostra um lado mais emocional de Avril, ao que, passada a fase brincalhona e festeira do pop punk, das calças cargos e skates, as bandas e artistas mudaram para uma tendência mais voltada às questões internas e mergulharam no estilo emo.
Se foi o momento do cenário mundial, a própria vida da cantora ou o sucesso do hit I’m with You que fizeram a Avril seguir uma linha mais emotiva e profunda em Under My Skin, não se pode saber, mas que a execução do disco foi mais uma vez impecável não se pode negar, e as faixas Don’t Tell Me, My Happy Ending e He Wasn’t existem para provar isso.
Em Under My Skin, o ouvinte pode realmente conhecer por dentro da pele da cantora em um equilíbrio perfeito entre as frustrações e as decepções, com muito pop punk e baladas tristes.
The Best Damn Thing (2007)
O que pode ter sido um susto para quem acompanhava a Avril Lavigne desde o início, com os looks rockeiros e o apelido de princesinha do pop punk, o The Best Damn Thing foi um marco transitório na carreira de Avril, que a levou de vez ao público geral.
Um dos responsáveis por isso foi o single Girlfriend: unindo rockeiros e fãs do pop, a Avril trouxe o conceito do rosa choque, líderes de torcida e a estética escolar dos anos 2000 para um lugar só, no meio ainda das baladas tristes, como When You’re Gone, e do bom e velho pop punk quebra-tudo, como Hot.
O que poderia ter sido uma receita para o desastre acabou funcionando para Avril e trazendo ainda mais pessoas para a sua base de fãs, encantados pelo carisma, voz e habilidade de composição da cantora.
Goodbye Lullaby (2011)
Passado o rebuliço de The Best Damn Thing, Avril volta quatro anos depois com um álbum mais voltado para si, com a presença de músicas mais lentas e outras em um tom mais pop acústico. Goodbye Lullaby tem uma pegada muito pessoal, sentimental e amadurecida, e fala de um lugar inusitado da Avril. O álbum conta com uma estética que remete ao Under My Skin, porém mais pop e menos adolescente.
Mesmo não de destacando entre os álbuns de mais sucesso da cantora, o Goodbye Lullaby presenteou os fãs com os singles What The Hell, Smile e Wish You Were Here, sendo as duas primeiras canções enérgicas e divertidas, enquanto Wish You Were Here é uma das baladas mais intensas já escritas pela cantora. Outro ponto de destaque para o álbum está em Alice, música da trilha sonora de Alice no País das Maravilhas.
Avril Lavigne (2014)
O homônimo da canadense chega em um momento em que o pop punk não estourava em rádios e as tendências musicais seguiam fontes diversas, e, com isso, a cantora traz um tom nostálgico de revival, em uma tentativa de manter os fãs por perto e fazer jus à sua trajetória, mas também aposta em tendências pop.
O álbum Avril Lavigne é ousado e conta com canções que remetem ao início da carreira da cantora em tom nostálgico, como Here’s To Never Growing Up e Rock n Roll, enquanto traz faixas puramente pop e as participações de Chad Kroeger, seu ex-marido, na emotiva Let me Go, e Marilyn Manson em Bad Girl.
O que pode não ter sido compreendido por um público geral marcou uma fase de transição na vida pessoal da cantora, que aborda em seu álbum temas sobre amor e nostalgia.
Head Above Water (2019)
Depois de um período caótico em sua vida pessoal, em que Avril lutou contra a doença de Lyme e passou por uma separação, foram cinco longos anos que culminaram em uma reviravolta em suas músicas.
Por sempre abordar temas pessoais em suas composições, Head Above Water é um álbum extremamente pessoal e surgiu como um desabafo da cantora. Por isso, não é nada como o que ela já fez antes: o álbum fala de dor, de superação e de sua luta de uma forma dramática e crua, com muito piano e um instrumental forte.
Love Sux (2022)
Duas décadas após seu primeiro lançamento, Avril faz uma homenagem às suas raízes para presentear seus fãs de longa data com Love Sux, e, mesmo dividindo opiniões, a cantora traz um pop punk adaptado e moderno com a cara da cantora.
Investindo em uma estética tendência da geração Z e do pop punk dessa segunda década do século XXI, Love Sux tem muita guitarra, músicas sobre corações partidos e parcerias com grandes nomes do gênero, além da produção impecável por parte de Travis Barker. Diferentemente dos últimos álbuns da cantora, este aposta na indústria e foge um pouco da linha pessoal, com canções mais chicletes.
Com vinte anos de carreira, Avril Lavigne nos mostra porque se tornou um dos maiores nomes do pop punk e pop rock do mundo, ao mostrar sua habilidade de se reinventar a cada lançamento sem perder a sua essência.