Os 20 anos do No Pads, No Helmets… Just Balls!: uma retrospectiva do sucesso do Simple Plan

Álbum de estreia da banda completa duas décadas e continua sendo um dos maiores lançamentos do gênero

Arte: Munique Rodrigues / Downstage
Reset (Foto: Reprodução / SimplePlan.cz)

Em um porão em Montreal, no Canadá, há pouco mais de 20 anos, quatro jovens ensaiavam acordes. Da ex-banda Reset, Pierre Bouvier e Chuck Comeau se juntaram aos amigos de escola de Chuck, Jeff Stinco e Seb Lefebvre, para fundar o que se tornaria um dos maiores nomes do pop punk.

Depois de assistir a um show do Reset para matar a curiosidade de quem havia substituído os vocais do Pierre na banda, os quatro não pensaram duas vezes em convidar o baixista David Desrosiers para o projeto, e ali nasceu o Simple Plan

David abrindo para o Reset (Foto: Reprodução / SimplePlan.cz)

Alguns meses e muitas músicas produzidas depois, o Simple Plan assinou contrato com a gravadora Atlantic Records, e a sua estreia estava no mundo: o álbum No Pads, No Helmets… Just Balls foi lançado em 2002 e garantiu à banda certificados multi platina na Austrália e Canadá e platina nos Estados Unidos.

Em um tempo em que o pop punk ainda estava se consolidando, com nomes de referência como blink-182 e Good Charlotte, o Simple Plan é um dos grandes responsáveis por permitir uma vida longa ao estilo. A estética rebelde, de calças cargo, cinto de rebite e cabelo arrepiado não demorou a fazer sucesso entre os adolescentes, que viram no quinteto e em outras bandas do gênero uma forma nova de se expressar.

Essa nova era da música marcou o fim da década de 90, com o punk progressista, à ascensão de uma de suas ramificações mais brincalhona, com um eu-lírico mais voltado para si e foco em temáticas como corações quebrados e frustrações do dia-a-dia.

Capa do No Pads, No Helmets… Just Balls! (Imagem: Reprodução / Rhino Entertainment Company)

Influenciados por esse período, o No Pads, carinhosamente apelidado pelos fãs como tal, chegou como um sinal dos tempos para marcar uma geração e além.

O álbum

Com 14 faixas, a estreia do Simple Plan para o mundo, No Pads, No Helmets… Just Balls engloba o pop punk característico do início dos anos 2000, repleto de guitarras e muita energia. Gravado no porão do baterista, Chuck Comeau, o álbum foi lançado em março de 2002.

Outras versões do álbum contém faixas extras como One By One e Grow Up na Austrália/Japão, Grow Up e American Jesus (cover do Bad Religion) na Europa e até uma versão ao vivo das músicas no Live in Japan 2002, lançado no ano seguinte.

(Imagem: Reprodução / Rhino Entertainment Company)

Do conceito do álbum, cinco jovens na casa dos 20 anos, cheios de aspirações e frustrações, surge a narrativa do disco. Seu encarte, um ensaio em que a banda “invade” uma despedida de solteiro, cria uma linha que o Simple Plan segue até os dias de hoje em seus lançamentos: a busca por fotos divertidas e nomes para os discos que remetem à piadas com duplo sentido.

Músicas como I’m Just a Kid, God Must Hate Me e Grow Up mostram para o ouvinte o dilema da transição para a vida adulta e a típica sensação do não-pertencimento. As desilusões amorosas ficam para I’d Do Anything e Addicted, enquanto o lado que posteriormente desenvolve o estilo emo aparece em Perfect e Meet You There.

Os clipes da era do No Pads, No Helmets… Just Balls marcaram por trazer ao audiovisual essa versão jovem e divertida do Simple Plan. O destaque ficou para os singles: I’m Just a Kid, em que se retrata um dia fictício na escola e nada sortudo dos cinco, I’d Do Anything com Mark Hoppus, do blink-182, e a famosa cena no telhado de Perfect.

O sucesso de Perfect, que rendeu a quinta posição no Canadian Hot 100, a sexta na ARIA Singles Chart e a vigésima quarta na Billboard Hot 100 à época de lançamento, permitiu que o Simple Plan rompesse ao público geral e internacional, que, aos poucos, foi conhecendo o trabalho da banda canadense e aderindo ao estilo.

O motivo de identificação é uma soma de fatores: a balada grudenta, a letra que trata problemas familiares e o boom da estética emo criaram uma receita para o sucesso. Não à toa, a música não sai da setlist da banda: religiosamente encerrou os shows de quase todas as turnês que o Simple Plan já fez, nunca saindo do top 3 de reproduções e ainda fazendo aparições frequentes em rádios.

A turnê de 15 anos do No Pads, No Helmets… Just Balls!

Logo em seguida ao seu lançamento em 2002, a banda saiu em turnê com  o blink-182 o Green Day na América do Norte pela Pop Disaster Tour. Depois de lá, vieram uma série de shows e aparições em programas de grande relevância nos Estados Unidos, como o Late Night with Conan O’Brien, Jimmy Kimmel Live! e o The Tonight Show with Jay Leno

O Simple Plan virou a sensação do momento e estava em todos os lugares: da rádio à televisão, era possível ver e ouvir o grupo percorrer os Estados Unidos acompanhados de nomes grandes da música, inclusive da estrela em ascensão, Avril Lavigne. A amizade com a cantora canadense se firmou de tal maneira que, em abril de 2003, a banda saiu em apoio à turnê dela, Try To Shut Me Up!, nos Estados Unidos.

Quando o disco fez 15 anos, o Simple Plan anunciou uma turnê mundial que durou dois anos, em 2017 e 2018, para celebrar a vida longa do hit da banda. Pelo Brasil, o Simple Plan tocou em cinco cidades: Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro e Uberlândia, com casas lotadas e shows animados.

A turnê rendeu também uma regravação para a banda: o No Pads, No Helmets…Just Balls (15th Anniversary Tour Edition) foi lançado em em 2018 e tem gravações que incluem a versão ao vivo de Addicted e Perfect na Califórnia, em 2017, e uma versão acústica de Perfect

(Imagem: Reprodução / Rhino Entertainment Company)

Não mais crianças

Prestes a comemorar os 20 anos de seu álbum “primogênito”, o Simple Plan teve uma surpresa ao ver um de seus singles mais antigos, I’m Just a Kid, cair na mão da geração Z e voltar ao topo das paradas. O motivo foi uma trend que surgiu no TikTok: a brincadeira de refazer fotos antigas rendeu mais de 3 milhões de vídeos e 700 milhões de visualizações na tag #imjustakidchallenge.

O sucesso de I’m Just a Kid é uma representação da capacidade de identificação do Simple Plan, que os mantém relevantes até os dias de hoje, mesmo depois de mais de 20 anos de carreira. Apesar de repentino, a forma que o single voltou a fazer sucesso demonstra o tanto que a banda não deixou de ser atual. As canções, que em outrora embalaram uma geração que cresceu em meio à tendência do emo, agora traz mais fãs que estão chegando ao gênero por outros meios e nomes.

@simpleplan

Throwback to before #ImJustAKid was a TikTok song 🤣🤪 And these green screens we got on Amazon… best money we ever spent 🤑 #imjustakidchallenge

♬ I’m Just a Kid – Simple Plan

No fim, o segredo para o No Pads, No Helmets… Just Balls ainda ser relevante, mesmo 20 anos depois, tem muito a ver com a característica de atemporalidade do Simple Plan.

Desde a época do seu primeiro lançamento, das franjas compridas e olhos delineados, a banda soube manter uma legião de fãs fiéis que os acompanham  em um canal aberto, entendendo os seus desejos e frustrações e trazendo-os para mais perto da música. A conversa com os fãs flui para os dois lados, e, assim, o Simple Plan aprendeu a se reinventar com melodias e letras que são identificáveis para os mais variados públicos.