Artso estreia com EP Indigo e entrega criatividade e melancolia

Em seu primeiro EP, o artista dribla a crise de identidade musical e estabelece contato com o público por meio de canções introspectivas e pessoais

Arte: Isadora Espinosa / Downstage

No último dia 11 de novembro, Artso lançou seu primeiro EP, intitulado Indigo. Além de ser o compositor de todas as canções, ele assina a produção e as artes visuais, no melhor estilo do it yourself.

Esse é o primeiro grande marco na carreira do músico baiano, que vem divulgando suas músicas há alguns anos. Durante as seis faixas do trabalho, ele passeia por diferentes influências, e consegue imprimir sua marca, usando sua voz e sua musicalidade como forma de se conectar com o ouvinte.

Em uma conversa exclusiva com o Downstage, ele falou sobre o início da carreira, seu desenvolvimento como artista, seu processo de composição, e por que as pessoas deveriam ouvir seu EP.

capa do EP artso indigo. ilustração de pessoa de olhos fechados, cabelo azul curto, ouvindo música em fones de ouvid
(Foto: Artso / Divulgação)

Embora a alcunha Artso seja relativamente recente, a música é uma paixão antiga para o artista por trás do codinome. “Meu sonho sempre foi ter uma banda. Sempre fiz covers das bandas que me influenciaram ao longo dos anos — eu gravava e postava no Soundcloud durante a minha adolescência toda”, ele nos conta.

E mesmo tocando instrumentos como violão, guitarra e piano, foi ao desenvolver novas habilidades que seu trabalho autoral foi tomando forma. “Eu comecei a fazer esse trabalho do Artso em meados de 2018, quando eu já estava aprendendo a mexer com produção musical e escrever minhas próprias músicas”. 

Continua: “Antes de mexer profissionalmente — em um home studio, por assim dizer — eu já estava fazendo no celular. Eu gravava eu tocando violão e cantando, e aí quando eu consegui ter em mãos um computador, eu comecei a colocar em prática eu mesmo”.

A viagem por dentro de Indigo

De fato, ao ouvir o Indigo, é possível perceber o resultado desse processo de anos de aprendizado. As composições, os arranjos e a produção são quase que indissociáveis, e o músico se destaca ao usar de uma grande quantidade de recursos, mesclando elementos sintetizados digitalmente com guitarra e piano, que o acompanham desde o início de sua jornada.

“Para o EP, exclusivamente, eu comecei escrevendo as letras, e fui fazendo a melodia ao mesmo tempo no programa de produção. E aí fui mesclando os dois”, ele descreve sobre o processo de composição. E apesar da facilidade musical, o artista conta que não tinha facilidade em escrever letras. “É um negócio que fui aprendendo a desenvolver. Eu tenho mais afinidade com as melodias em si.”

Outra característica aparente ao ouvir o Indigo é a imensa bagagem musical de Artso — começando pelo título, inspirado em canções como Solo e Nerve do The Story So Far. Do pop punk ao indie, ele cita os diferentes artistas que fizeram parte da construção do seu primeiro EP — entre eles, Clairo, Joji e Mac DeMarco.

Ele define essa pluralidade como algo proposital: “o EP reflete essa crise de identidade musical”. Em meio à constante busca por sua própria sonoridade, o artista baiano foi regrado em definir uma linha que ligasse as seis faixas do trabalho.

“Eu produzi umas dez músicas e fui filtrando as que batiam em relação a letra, instrumental e pacing. A maioria tem letras melancólicas e o instrumental também segue esse ritmo”, explica Artso. “As músicas que estavam mais ‘felizes’ eu acabei retirando, por isso achei que as que estão no EP se combinam”.

Faixa a faixa

Ao falar sobre as canções individualmente, ele também conta como constrói cada arranjo. As faixas que abrem o EP, Love Letter e Stay, valorizam a qualidade da sua voz, combinadas a melodias no piano — sempre com pinceladas de elementos que tornam a sonoridade mais etérea. 

Em outros momentos, ele também imprime a estética retrofuturista em suas músicas. “Em Telling Myself, eu quis trazer esse resquício dos anos 80”, algo que já havia aparecido em suas músicas antes. “Na [single de 2020] Heaven is Up, eu usei mais como influência a banda Lany; já em Telling Myself [do EP Indigo], me inspirei no The 1975, que tem essa roupagem ‘neo-anos 80’”.

O EP escala até seu ponto alto, a canção de encerramento The Sea. “Eu quis transcrever essa catarse. Tem muita influência de artistas que eu estava ouvindo na época, como Phoebe Bridgers e Taylor Swift (quando ela lançou o Folklore).”

A faixa tem um tom confessional, com letra e melodia muito bem alinhados, e ruídos que complementam sua atmosfera. É como se a própria capa do EP ganhasse vida — uma música para ouvir nos fones de ouvido, de olhos fechados.

Durante essa viagem interna que Artso busca proporcionar em Indigo, ele revela que seu maior objetivo é poder chegar às pessoas com sua música: “[O EP] fala sobre a vida e a maneira como a gente acaba se sabotando, seja nos relacionamentos ou em relação a si mesmo”, explica. “As coisas ficam tão azuis — e por isso o nome Indigo, que eu considero uma cor melancólica.” 

Ele continua: “eu espero que as pessoas se identifiquem, que eu acho que é a mensagem principal da música. É me conectar com as pessoas que gostam das minhas músicas e da mensagem que eu tô querendo passar”.

Artso também revela que já tem planos para o futuro, e que deve explorar novos caminhos. “Eu vou focar mais em músicas em português. Ainda não decidi o rumo em relação à identidade musical, mas provavelmente vai seguir a linha Indigo com algumas coisas mais experimentais do pop punk”.

Até lá, o EP Indigo é um cartão de visita para quem ainda não conhece seu trabalho. Mais que isso, é uma oportunidade de passear pela sua musicalidade e seus processos, e se conectar, seja com o artista ou consigo mesmo.