A todo vapor: Atemiz retorna à cena com Tipo GPS

Moldados pelo pop punk, banda gaúcho Atemiz fala sobre novas perspectivas e vivências com novo álbum, o Tipo GPS

Arte: Rafah Antunes / Downstage

Com mais de 10 anos de atividade, a banda Atemiz marcou o fim de quatro anos de hiato como o lançamento de seu novo álbum, o Tipo GPS, no dia três de fevereiro. Composto por 10 faixas, o disco fala sobre saudade, recomeços e novas aventuras.

Em entrevista ao Downstage, o trio, composto por Guto Gaelzer (vocal e guitarra), Nick Motta (vocais e baixo) e Gui Wildner (guitarra), contou sobre o processo de produção de seu novo trabalho, bem como sobre inspirações e planos para 2023.

Foto: Nicholas Galvão

Mudanças e novas visões

Com uma pegada bem pop-punk anos 2000, o Tipo GPS retorna às raízes de onde Atemiz tomou forma. No entanto, o álbum mostra mais maturidade, dado a pausa da banda, que trouxe consigo novas visões em torno da cena alternativa e da vida. “As temáticas das nossas músicas mudaram também, no começo era muito mais sobre relacionamentos e suas frustrações, mas agora que estamos vivendo fases diferentes da vida, isso reflete nas temáticas também”, contou o grupo.

Foto: Nicholas Galvão

Para o novo disco, a banda voltou acompanhada de novas vivências e perspectivas. Nele, as mudanças ficam visíveis tanto em suas letras, quanto em sua sonoridade. “Tem mudança sim, é uma coisa que acontece naturalmente à medida que o tempo vai passando e você vai escutando coisas novas, descobrindo bandas e deixando de escutar outras. Até o jeito de enxergar e entender música acaba por mudar com o tempo e isso reflete no jeito de compor e estruturar cada música”, o trio complementou.

A produção do Tipo GPS foi diferente das anteriores do grupo, isso porque Gui Wildner havia começado a estudar produção musical neste meio tempo, o que abriu um leque de opções para a Atemiz utilizar e testar novos elementos melódicos. “A diferença é que agora a gente consegue jogar essas ideias no computador, gravar parte por parte da guitarra, programar uma bateria, ir juntando com outros elementos para construir mais rápido, além de ter uma ideia melhor do que a música virá a ser. Isso ajuda a fazer a música crescer em riqueza e complexidade, focar em detalhes específicos, tornar ela mais especial e interessante”, explicou Gui.

O álbum

Capa: Atemiz

Dando novos nortes para suas referências, a banda tem Real Friends, State Champs e Neck Deep como principais inspirações para a construção do novo disco. “Por mais que muitas das referências que nós temos sejam bandas que a gente cresceu escutando, a gente tenta incorporar coisas modernas, essa vibe do pop-punk e sadboi que a gente gosta nessas outras bandas”, contou o trio.

Recomeços e novas fases são os destaques das temáticas do álbum. Segunda Eu Começo fica encarregada de apresentar esses tópicos. A música, em questão, fala sobre virar a página e deixar sua marca no mundo. Ela mistura o pop-punk e elementos eletrônicos que, juntos, casam muito bem e formam uma pegada mais teen. “Acho que foi a música que mais teve nomes provisórios do disco, mas no fundo o nome estava na nossa frente: todo mundo brinca que na segunda vai começar uma dieta, treinos na academia, um curso ou uma nova rotina. Sempre na segunda-feira. Então, na segunda, a gente começa a mudar nossa cabeça para melhorar a vida”, Nick falou mais sobre a faixa.

Embarque também segue na mesma linha sentimental abordada anteriormente. A canção fala sobre deixar o passado para trás e sair da zona de conforto. Ela é excêntrica e enérgica, além de possuir um instrumental mais pesado, com destaque para a bateria, que tem grande presença aqui. “Embarque foi escrita num momento da pandemia, enquanto eu estava com meus pais, todos dentro de casa. Eu trabalhava em home-office e estava naquela bolha, me sentia estagnado. Comecei a descrever o que estava sentindo na letra”, explicou Nick.

As duas faixas são como complementos uma à outra, isso porque, elas falam sobre seguir em frente. No entanto, cada uma explora pontos diferentes a partir disso. “Acho que tanto esse ímpeto de sair do lugar em Embarque, junto com mudar a cabeça em Segunda Eu Começo, acabou conectando um pouco as duas músicas”, comentou Nick.

De antemão, o disco aborda o sentimento da saudade e da solidão diversas vezes. Anos-Luz expressa a saudade muito bem. A faixa possui uma tonalidade mais contagiante e um refrão intenso, daqueles que não seguram nenhum sentimento. Me Sinto Só, por sua vez, aborda a solidão de maneira explosiva e possui riffs potentes. “Ambas músicas carregam muito sentimento, elas contam sobre o momento em que nós sentíamos medo ou estávamos vulneráveis. As situações são diferentes, Anos-Luz carrega aquela dificuldade de aceitar o fim de um relacionamento, enquanto Me Sinto Só é literalmente o sentimento de pandemia, se sentindo numa prisão”, explicou Guto.

Trazendo mais de suas raízes, Bem Aqui traz, mesmo que não intencionalmente, elementos rítmicos de I Miss You, do Blink-182, banda bastante presente na vida dos membros de Atemiz desde antes da grupo existir. É uma faixa nostálgica e significativa, indo de picos leves e graves, naturalmente. “Para quem cresceu na época que a gente cresceu, curtindo o tipo de som que a gente curte, não tem como não ter o Blink-182 como influência. A gente ama a banda. Mas, nessa música em específico, não foi pensada pelo menos conscientemente como uma influência direta deles. Quem sabe, por ser uma música mais lenta pudéssemos traçar um paralelo como se fosse a I Miss You do nosso disco”, contou Gui.

Tipo GPS nos aproxima de Atemiz para externar a solidão motivada por um período delicado, que foi a pandemia. Mas, não se prende apenas nisso. O disco gira em torno de sentimentos ocasionados por diversas situações vivenciadas pelos integrantes. A saudade pós término, o anseio por recomeços e novas conquistas também ganham destaque no álbum. Esses fatores mostram honestidade e cuidado e o tornam sincero e bonito.

Planos para 2023

Foto: Nicholas Galvão

O lançamento do clipe de Embarque, foi um grande passo para a banda começar a dar “cara” para esta nova era. Para a promoção dos singles e do novo álbum, o trio continua com a produção de novos videoclipes, bem como os planos de tocarem juntos. “Além do vídeo de Embarque, que já saiu e que está tendo um ótimo retorno, já começamos a filmar os vídeos de Tipo GPS com o Erick Rocha, em Florianópolis, e de Máquina do Tempo com o Murilo Amâncio, em Coney Island, USA. Ainda temos uma ideia para um quarto vídeo, mas esse vai ficar mais pro final do ano, provavelmente. Mas o certo é que esse ano vamos nos encontrar para filmar o que falta e também para tocarmos juntos. A gente mora longe um do outro e o simples fato de estarmos juntos já é incrível, pois sempre fomos muito amigos” explicou a banda.

Para mais, Atemiz mostrou que voltou para ficar. Sem mais pausas, pelo menos, não agora. O trio está a todo o vapor e pretende lançar novos trabalhos em breve. “Acho que o que posso dizer é que temos algumas demos ainda que poderiam virar música ou mesmo um EP no futuro, ou não. Tudo é possível, nós somos três caras que escutam música 24 horas por dia”, comentou Guto.

Enquanto os novos projetos não saem do papel, o Tipo GPS supre o tempo que a banda ficou inativa na cena e já está disponível em todas as plataformas digitais.