Dibob retorna a eventos ecléticos com novos lançamentos e muita nostalgia

Um dos nomes mais marcantes da juventude carioca dos anos 2000, Dibob volta a relembrar os velhos tempos em eventos que mesclam a nostalgia do pop, rock, rap e funk

Arte: Rafah Antunes / Downstage

Composta por Dedeco (André), Gesta (Felipe), Miguel e Faucom (Pedro), Dibob retornou ao estúdio em 2021 e, como nos velhos tempos, voltou a realizar shows em festivais e eventos que unem a diversidade musical da cidade maravilhosa.

Em entrevista ao Downstage, Gesta, baixista, e Faucom, baterista, relembram a formação do Dibob, que começou com os outros dois membros em uma competição de bandas realizada pela Sprite, em 2001. Emplacados em segundo lugar, o quarteto assumiu sua atual formação através de contatos entre amigos após o concurso. “Eu já ficava com a música na cabeça, fui um dos primeiros fãs”, relembra Faucom sobre o dia em que foi convidado a ser baterista da banda, quando ainda estava aprendendo a tocar.

Com esses quatro jovens, além de uma banda que segue junta há mais de duas décadas, também consolidou-se uma nova cena no Rio de Janeiro que fugia da clássica imagem do rock já determinada por bandas mais antigas.

“Era uma época em que todo mundo consumia muito skate, surfe, e isso era muito presente nas trilhas sonoras dos filmes”, conta Faucom sobre as referências presentes no início da carreira, que foi marcada por campeonatos de surfe e saraus de colégios.

Em pouco mais de dois anos, Dibob deixou de ser uma simples banda de garagem que acompanhava seu crescimento através do número de downloads no Napster e se tornou um dos nomes assinados com a gravadora Sony BMG, conquistando o posto de segunda música mais tocada do ano de 2005 na Rádio Cidade. 

“Quando começamos a fazer show era um trabalho de formiguinha para conquistar o público, valia a pena naquele momento porque era o momento em que a gente estava começando com a banda”, relembra o baterista acerca dos anos iniciais da carreira, em que o quarteto conciliava festivais e eventos de grande porte com pequenos shows em cidades distantes na mesma época.

De classic rock ao Bonde da Stronda

Além dos esforços para conquistar o público e a paixão pela música, Dibob se destacava por angariar fãs que conversavam com diversos artistas fora do nicho punk rock e gêneros musicais diferentes. “O fã do Dibob não vai ser o fã do Slipknot, vai ser o fã do MC Fox, McMãe, Natiruts, ele vai gostar de um monte de coisa nada a ver”, contou Faucom. 

“Eu acho que os fãs são um retrato da gente, uma galera que se identifica com a nossa vibe”, disse o baterista, que também revelou haver referências musicais muito plurais por trás da banda. “A galera que curte o som normalmente é muito eclética. A gente tocava em festivais como o Tirei Onda, que tinha de tudo, funk, pagode, e eu acho engraçado porque no final das contas isso se traduz na banda também, porque a gente é muito assim, a gente não é metaleiro, punk, a gente curte tudo”.

Similar aos eventos plurais dos anos 2000, Dibob se apresentou na última terça-feira de carnaval, 21, no CarnaMango, evento realizado pela MangoLab em parceria com a Vibra. No line-up também estavam presentes nomes como Furacão 2000, Ibrejinha, Glitterada e DJ Saddam. A banda também marcou presença no Baile do Millenium, evento realizado com apoio da Budweiser durante os jogos da Copa do Mundo que reuniu artistas cariocas de samba, rap e rock. 

“Apesar de tocar punk rock, às vezes surge uma melodia mais parecida com funk carioca, tipo Claudinho & Buchecha, alguns solos de guitarra são influenciados por Guns N’ Roses e bandas que tem essa presença de guitarra. A gente traz diversos elementos e essa junção resulta no nosso som. Obviamente há um ponto comum da sonoridade, algo bem próximo ao punk rock, mas todas essas influências estão muito presentes”, completou Gesta.

Foto: Larissa Queiroz

A banda como reflexo dos integrantes

Apesar do sucesso da banda, os comprometimentos exigidos não agradaram muito o quarteto que, na época, ainda estava na faixa dos vinte e poucos anos. “A gente adorava tocar, adorava essa coisa de querer ser uma banda profissional, só que a gente não gostava muito do profissionalismo em si pelos compromissos de ter que ensaiar toda hora”, revela o baixista. 

“Chegou uma época em que a gente talvez não se divertisse tanto porque começou a virar uma obrigação quase que chata, sabe?” contou Gesta acerca de um dos motivos que levaram Dibob a ter um hiato criativo de quase dez anos. 

Contudo, a maturidade veio junto de uma mudança de prioridades, algo que se reflete muito nos membros e na própria banda como um todo. “Hoje em dia a gente tem filho, tem trabalho, é um outro momento da vida e a gente acaba impondo certas condições pros shows e pra banda rolar”, complementou.

Foto: Larissa Queiroz

A nostalgia e o retorno às atividades

“Lá atrás, quando a gente começou, a gente tinha uma sensação muito gostosa de fazer parte daquilo, de ter uma banda, tocar, ter um público, ficar amarradão, e eu acho que isso voltou para a banda toda após o nosso hiato criativo”, refletiu Faucom. 

A ideia de voltar ao estúdio surgiu em 2021, quando os quatro membros perceberam a vontade de gravar algo novo. “Quando a gente transforma as nossas ideias em música acontece uma mágica, é incrível quando nos juntamos e sai algo legal”, contou Faucom sobre as recentes experiências nas gravações. “Quando fomos pro estúdio gravar ‘Só alegria’, deu aquele gatilho de lembrar que é muito legal, sabe? Eu estava com muita saudade disso e nem sabia”, completou.

A presença em eventos que revivem os anos 2000 também foi um dos fatores determinantes para a chama reacender. “A gente voltou a tocar ano passado, foi muito legal essa onda de shows que fizemos no Sad Club Fest, Rio Rock Tour, teve o Rock The Mountain… Só  recebemos esses convites de festivais legais depois que a gente voltou a tocar”, contou Gesta. “Foi uma junção de elementos que fizeram tudo dar certo naquele período. A gente quer continuar a fazer música, estar junto, fazer show e tudo mais”. 

Sobre as mudanças nas letras, Dibob se mostra consciente da importância de suas faixas mais famosas, mas reflete sobre não fazerem mais sentido no momento. “Quando você tem 20 anos você vai escrever uma letra que quando você tem 40 já não faz mais sentido num geral, mas faz sentido no contexto de tocar pra galera que ouvia lá atrás”.

Faucom faz um paralelo entre o hiato criativo da banda e o declínio do chamado Rio Core, que esfriou ao mesmo tempo em que grandes nomes como Forfun, Scracho e Catch Side acabaram ou também deram uma pausa. “Parece que a galera ficou meio órfão dessa época, então quando a gente toca parece que o pessoal se teletransporta”, contou.

“É maneiro ver essa galera até hoje indo lá e como marcou uma época, uma parte da vida da pessoa que faz questão de ir lá no show pra ver aquilo e voltar no tempo. Hoje o nosso show tem esse efeito. As pessoas vão e falam sentem nostalgia, como se tivessem voltado no tempo. Isso é muito legal de proporcionar, né? Eu fico felizão”. 

Contudo, o público não se limita apenas aos lançamentos antigos. “O mais legal é saber que o pessoal está curtindo as novas músicas que a gente vem fazendo, eles já sabem cantar ‘Só Alegria’, ‘É Só Chamar’”. contou Gesta, que também revelou o interesse da banda em lançar novos projetos.

“A gente tem falado muito nos bastidores de gravar músicas novas. No último ano e meio a gente gravou três músicas, mas agora queremos colocar alguma coisa mais parecida com um disco, gravar um monte de música de uma vez, pelo menos um EP”, explicou.

Além de novos lançamentos, os planos de Dibob incluem continuar no mesmo padrão de qualidade de shows e gravar uma apresentação ao vivo. “Com vinte anos de carreira, uma banda merece ter esse registro, né? De um show e uma performance ao vivo. O nosso desafio agora é achar um parceiro pra entrar com a gente nesse projeto”, completou Faucom.