The Rose quebra barreiras e torna-se a primeira atração sul-coreana no Lollapalooza Brasil

Em sua terceira vinda ao Brasil, a banda substituiu Omar Apollo no festival e teve uma estreia surpreendente e encantadora

Arte: Tayna Viana / Downstage

Formada por Kim Woosung (vocalista e guitarrista), Park Dojoon (vocalista e tecladista), Lee Hajoon (baterista) e Lee Jaehyeong (baixista), The Rose, a primeira atração sul-coreana do Lollapalooza Brasil desembarca pela terceira vez no país para entregar carisma, talento e muito amor e dedicação aos fãs.

Diferente dos grandes atos de K-Pop conhecidos internacionalmente, The Rose não surgiu de intensos treinos, integrantes meticulosamente selecionados e produções fabricadas. Os integrantes se conheceram em 2015 através de performances de rua – prática popular no bairro de Hongdae – e contatos entre amigos.

Assim nasceu Windfall, banda de indie rock que futuramente viria a ser o que hoje conhecemos como The Rose. Com composições próprias, covers postados no YouTube e apresentações de rua, Windfall começou sua trajetória da mesma forma que muitas bandas independentes: com pequenos, mas consistentes passos.

Em 2016, Windfall assinou com a empresa J&Star Company, que promoveu a banda durante quase quatro anos. A estreia como The Rose ocorreu em agosto de 2017, com o single “Sorry”, que foi nomeado pela Billboard como uma das melhores músicas coreanas do ano.

O quarteto seguiu com prosperidade, esgotando shows na Europa quando tinham apenas dois singles. Ao longo de 2018, The Rose lançou dois EPs, definidos pela Billboard como obras que “realçam o lado sombrio das emoções humanas através de um pop rock dinâmico”, e seguiram em turnê internacional, incluindo shows em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Lançado em abril de 2018, “Void”, primeiro EP de The Rose, foi o primeiro contato do público com o estilo musical da banda. Marcado pela mistura de ritmos melancólicos e acelerados, românticos e lentos, guitarra e baixo contagiantes e uma bateria capaz de guiar as canções do início ao fim, “Void” emplacou a banda como um dos grandes nomes do pop rock coreano.

O segundo mini álbum, “Dawn”, lançado em outubro do mesmo ano, consolidou ainda mais a sonoridade da banda, mostrando consistência em sua identidade e trazendo letras, vocais e instrumentais ainda mais evoluídos em baladas carregadas de emoções.

Processo judicial, alistamento militar e hiato

Com mais uma turnê internacional, lançamento de apenas um single durante todo o ano de 2019 e agendas lotadas e corridas, The Rose deu início a um processo contra a empresa J&Star Company em fevereiro de 2020.

Foto: Divulgação / T4F

Alegando falta de pagamentos aos membros, rotinas exaustivas, decisões tomadas exclusivamente pela empresa e omissão de relatórios mensais de receita, além de má gestão da banda, o processo judicial impossibilitou que lançassem novas músicas incluindo o nome da empresa, que provia os estúdios e gravadoras.

Além da pandemia e do processo judicial, o ano seguiu duro para os fãs com a chegada do alistamento militar obrigatório para os integrantes nascidos na Coreia do Sul. Com três dos quatro membros no exército, The Rose foi obrigado a entrar em hiato enquanto a empresa negava as acusações, causando uma crise na banda.

Em meio a todos esses obstáculos, Woosung – dispensado do serviço militar por ter nacionalidade americana – abriu sua própria gravadora para administrar e trabalhar em sua carreira solo durante o ano de 2021, mas sempre afirmava que a banda estaria junta quando voltassem do exército.

Batendo de frente com acusações de “quebra de integridade e dignidade”, a luta para a anulação do contrato exclusivo com J&Star Company chegou ao fim em junho de 2021, trazendo de volta a liberdade criativa, musical e profissional da banda. Ao final desse mesmo ano, o período conturbado chegou ao fim com o retorno do alistamento militar, marcando o início de uma nova era para The Rose.

A vitória judicial, além de importante para a banda, também deu luz aos contratos abusivos presentes também em outras empresas, mobilizando fãs, artistas e empresas pela garantia dos direitos prometidos.

O retorno de Windfall como The Rose

Assim, o espírito independente, livre e criativo de Windfall estava de volta em uma nova casa e com um novo nome. The Rose assinou com a gravadora Transparent Arts, criada pelo grupo estadunidense Far East Movement, e deu origem a um selo próprio com o antigo nome da banda.

Ao final de 2022, agora sob nova gestão, The Rose lançou seu primeiro álbum completo, Heal, que soa como um abraço quentinho aos fãs que acompanharam cada passo ao longo dos últimos turbulentos anos. 

Com sonoridade similar a de seus lançamentos prévios, Heal mantém o estilo característico e cativante de The Rose, agora com uma significante liberdade lírica e pessoal. Dispensando grandes mudanças em sua essência e respeitando suas origens, The Rose entregou exatamente o que os fãs precisavam: familiaridade, mas agora com o sentimento de recompensa após tanto tempo longe e inúmeras dificuldades.

The Rose no Lollapalooza Brasil

Substituindo Omar Apollo no Lollapalooza, The Rose marcou presença nas edições do Chile e Argentina e se apresentou no domingo, 26, terceiro e último dia do festival. A banda reuniu um significativo número de fãs e curiosos em torno do Palco Adidas e entregou carisma e muito talento durante a tarde de domingo.

Adotando seus nomes americanos, Woosung (Sammy), Dojoon (Leo), Hajoon (Dylan) e Jaehyeong (Jeff) apresentaram seus maiores sucessos de todas as eras da banda, com hits em inglês e em coreano, e não deixaram faltar agradecimentos pelo carinho do público e pela oportunidade de estar no festival.

Foto: Divulgação / T4F

Para os que entraram em contato com The Rose pela primeira vez, a imagem tão destoante do que conhecemos popularmente como música coreana, ou K-Pop, pode ter sido uma surpresa agradável. Com partes acústicas, sem muita cerimônia e com muita naturalidade, a banda se mostrou tão genuína quanto as outras atrações aclamadas no festival.

A recepção positiva do público também contribuiu para que os membros se sentissem em casa, confortáveis em sua apresentação e entregando muita presença de palco e conversas com a plateia – repleta de fãs, conhecidos como Black Roses, que cantavam em coro todas as músicas, independente do idioma.

Foto: Divulgação / T4F

Fazendo história como primeira atração sul-coreana no Lollapalooza Brasil, The Rose ainda tem muito caminho pela frente. Já confirmados nas edições estadunidense e sueca do festival, a banda também conta presença em eventos na França, Espanha e Filipinas.

Além do show incrível, o quarteto também deixou sua marca no Lollapalooza nos fazendo refletir sobre a enorme concentração de atrações norte-americanas no festival e o pouco espaço aberto para nomes em ascensão e com demanda de público que sejam provenientes de outros países.

Aos que conheceram a banda no festival, há faixas para todos os gostos. Yes, Baby e Candy podem agradar os que curtem uma batida mais marcada em um rock melódico, enquanto She’s In The Rain, Childhood e Beauty and The Beast são apostas certas para conquistar o coração dos amantes de um indie melancólico.