O céu é o limite para o Pierce the Veil

Baixista Jaime Preciado fala com o Downstage sobre novo álbum, turnê na América do Sul, TikTok e novas bandas

Arte: Carol Moraes / Downstage

Prestes a desembarcar no Brasil, o Pierce the Veil não esconde o entusiasmo na hora de desembarcar no país pela primeira vez desde 2016. “É muito tempo!”, brinca Jaime Preciado, baixista do (agora) trio formado em conjunto com Vic Fuentes e Tony Perry em entrevista ao Downstage. “Todo mundo deveria ir ao Brasil pelo menos uma ou duas vezes por ano.”

“É um lugar tão lindo”, continua ele. “Sou grato por podermos fazer shows novamente e viajar, acho que quando terminarmos o álbum e começamos a planejar todas as turnês eu fui insistente; tenho certeza de que disse América do Sul umas 100 vezes.”

Foto: Celina Kenyon

Com a turnê iniciada na semana passada, o trio passou pelo México, Colômbia e se apresenta nesta sexta-feira (7) no Chile. No Brasil, o Pierce the Veil possui apenas uma data, em São Paulo, no domingo (9).

A turnê, iniciada na América do Sul, é batizada de The Jaws of Life Tour justamente para promover o mais recente disco da banda, lançado em fevereiro. The Jaws of Life chega sete anos após o lançamento de Misadventures e marca um Pierce the Veil mais maduro e dando uma nova cara ao post-hardcore, repleto de influências latinas misturadas a bandas de gosto pessoal do trio — isso tudo sem desprender-se das raízes que fizeram os fãs estarem aqui até hoje.

Questionado sobre todo o processo criativo e de produção, Jaime descreve a fase como “um teste”: “muita coisa aconteceu desde aquela época [refere-se ele a 2016], todos nós nos casamos, Vic tem um bebê agora… foi muita coisa.”

Foto: Anthony Tran

Ele continua: “cada álbum é instantâneo, um reflexo do que estávamos fazendo em nossas vidas e o que estava acontecendo naquela época. Sem contar que uma pandemia aconteceu durante esse tempo, nós não sabíamos o que esperar e nem se poderíamos fazer shows novamente.”

A Era The Jaws of Life fora iniciada com o excelente single Pass the Nirvana, que expõe sobre os traumas que a juventude norte-americana tem sofrido nos últimos anos (covid-19, tiroteios em escolas, BLM). Sobre isso, Jaime descreve o processo de criar o disco como “é uma coisa que nos fez perceber que não sabíamos que precisávamos um do outro, o motivo pelo qual fazemos isso em primeiro lugar: nosso fãs, e isso foi muito especial.”

“Então acho que esse álbum é para os fãs. São as principais pessoas que passaram por isso conosco e que estão aqui por nós também. [Esse disco] mostra nosso crescimento como banda, como músicos e compositores. Eu acho que nosso mantra desde o primeiro dia foi ‘atire para as estrelas, arrisque, seja corajoso’. Porque, sabe, se você cometer erros, você aprende com eles […] e é isso o que nós tentamos fazer. Eu amei todo o processo.”

A escolha dos singles

Voltando a falar de Pass the Nirvana, lançada em agosto do ano passado, Jaime revela que a música sempre foi um consenso geral sobre ser o primeiro single a ser divulgado para os fãs. “Foi a primeira música que nós gravamos e que ficou pronta”, relembra o baixista. “Nós achamos que era diferente, meio estranha, meio fora do nosso normal. Mas isso é a beleza da nossa banda: nós podemos fazer canções como Emergency Contact e também canções como Pass the Nirvana e canções como 12 Fractures.”

Ele continua: “Mas acho que quando se trata de escolher singles, escolhemos essa como a primeira porque queríamos chocar um pouco e, também, como te falei, arriscar”, relembra. “Então foi uma canção que cruzamos os dedos e torcemos para vocês gostarem.”

Pass the Nirvana é um marco na carreira do Pierce the Veil, com fortes influências de Deftones (confirmadas por Jaime) e um pouco de Rage Against the Machine, a canção chegou justamente para trazer um peso diferente do post-hardcore que os fãs estavam acostumados. Já Emergency Contact faz com que o PTV volte a beber da água de suas raízes, como o álbum A Flair for the Dramatic e algumas faixas de Collide with the Sky.

No entanto, quando o disco chegou ao público em fevereiro, a banda se propôs novamente a surpreender um pouco os fãs logo no primeiro play, com Death of an Executioner trazendo elementos hispânicos pouco antes do refrão.

“Eu tenho família em Guadalajara e nós tocamos duas noites lá nessa turnê, então sim, eu acho que essas coisas acabam ressoando na gente conforme crescemos e vamos amadurecendo”, revela ele. “Eu acho que cada álbum é um pouquinho do que somos e de que ponto estamos na vida, das pessoas que conhecemos, do que estamos ouvindo. Esse disco é um pouco mais maduro – óbvio, estamos todos com mais de 30 anos -, então é diferente. Mas sempre será Pierce the Veil.”

King for a Day 2 e TikTok

No ano passado, uma das músicas mais icônicas da carreira da banda (e, talvez, a melhor colaboração existente na história do post-hardcore), completou 10 anos do seu lançamento: King for a Day. A faixa, que conta com a participação de Kellin Quinn, voltou a bombar com um TikTok da cantora Lizzo e se tornou uma trend no aplicativo, além de retornar às paradas musicais alcançando a posição #1 no Hard Rock chart da Billboard.

Foto: Ashley Osborn

Questionado sobre uma possível parte 2 da música, Jaime não deixa de comentar a recepção, mostrando muita gratidão aos novos fãs e a aqueles que nunca deixaram a banda.

“É um tipo de coisa que você não espera, ser viral assim é uma oportunidade única na vida”, comenta ele. “Ainda explode a minha mente que isso tenha acontecido. Foi um timing incrível porque tínhamos músicas novas para serem lançadas e nos trouxe alguns fãs novos. Parece que estamos começando novamente, nos rejuvenesceu como banda, nós podemos fazer todas as coisas que queríamos fazer no passado e não pudemos fazer.”

“Mas… para responder a sua pergunta”, Jaime adiciona. “Eu não tenho certeza, foi uma canção muito especial que agora tem um significado diferente para nós.”

“Que época para se estar vivo!”, brinca Jaime, relembrando sobre o TikTok de Lizzo. Sobre isso, inclusive, questiono se com a pandemia e a popularização do aplicativo, o jeito de consumir e produzir música, tanto da banda quanto de Jaime particularmente, mudou: “quando a banda começou, redes sociais não eram coisas tão fortes, mas começaram a crescer junto conosco.”

“É doido”, adiciona ele. “Eu não consigo imaginar uma banda começando agora e tendo que lidar com tudo isso acontecendo, mas quando se usa essas ferramentas com inteligência, você realmente consegue construir seu público.”

Recomendações

Jaime ainda deixa uma recomendação exclusiva para os leitores do Downstage, quando questionado sobre qual disco ou qual banda não tem saído de seus fones de ouvido.

“Eu estou ouvindo bandas novas o tempo todo, mas tem esse disco novo que eu tenho ouvido bastante ultimamente”, comenta o baixista. “Não é uma banda nova, o The Devil Wears Prada, eu tenho certeza que vocês gostam deles também. Eles lançaram esse álbum recentemente, o Color Decay, e é incrível, eu tenho ouvido bastante nas últimas duas semanas, sem parar.”

“Nós conhecemos eles desde o início e eles são músicos incríveis, então quem não conhece com certeza deveria checar”, diz ele. “E sobre novos artistas, tem a Chloe Mariano, que fez um feat no nosso álbum, ela tem uma vez incrível. Não consigo agradecê-la o suficiente por isso.”

Foto: Celina Kenyon

O Pierce the Veil se apresenta em São Paulo no próximo domingo, 9 de abril, na Audio. Os ingressos estão a venda pelo Clube do Ingresso.