Karen Jonz envelopa a era “Papel de Carta” com álbum deluxe

Arte: Inaê Brandão / Downstage

Skatista, cantora, artista e mãe, Karen Jonz, santista de 39 anos, não carece de conquistas. Tetracampeã mundial de skate, a mais nova conquista de Karen foi realizar sua estreia oficial no mundo musical com excelência.

Foto: Pedro Pinho

Familiarizada com diversas sonoridades, Karen já havia se aventurado em outros gêneros anteriormente. Contudo, diferente de Kyber Krystals, na qual focava em pop alternativo, e Vaconaut and the Apple Monster, duo de pop punk com Lucas Silveira, Karen Jonz agora mostra suas cores através de seu próprio nome, criando uma conexão maior entre sua música e o público.

Papel de Carta, álbum que marca a estreia oficial de Karen como cantora solo, teve uma recepção muito positiva do público junto com os lançamentos seguintes, o que levou à produção de uma versão deluxe.

“Muita gente falava que toda hora ficava voltando no Instagram para ouvir versões específicas que gostavam muito, então pensei, ah, a gente lança”, revelou Jonz sobre a origem das canções classificadas como IG Version.

Os lançamentos seguintes ao álbum, Coocoocrazy e Certeza Absoluta, também integram a nova versão como parte da estreia de Karen, reunindo todos os lançamentos em uma só obra que contempla a era Papel de Carta.

Gótica fofinha: a essência de Karen Jonz

A forte presença de uma dualidade entre instrumentais agitados e letras sensíveis marca uma dinâmica que sempre esteve presente na vida da atleta, que frequenta as pistas de skate desde 1999 e colecionava papéis de carta quando criança.

Foto: Pedro Pinho

“A imagem de skatista, seja homem ou mulher, passa uma ideia de algo brutão, uma pessoa durona, mas no meu caso não é nada disso. Eu sempre tive esse lado mais sensível, tendo que equilibrá-lo com a vivência em um ambiente muito masculino durante décadas”, contou Karen.

A artista também conta que se enxergava como um “patinho feio” no início, pois a cena de skate – tanto no Brasil como no exterior – girava  muito em torno do rap e do hard rock, enquanto Karen se identificava mais com bandas como No Doubt, Hole e Silverchair, e cantoras como Alanis Morissette e Lauryn Hill.

O forte contraste presente no álbum, no entanto, conseguiu retratar muito bem a essência da artista, que conta sobre a primeira vez em que mostrou o álbum para Manu Gavassi

“Uma das primeiras pessoas a quem eu mostrei o disco foi a Manu Gavassi. Ela falou assim, vou resumir em duas palavras: gótico fofinho. E é muito isso, define bem, porque eu acho que até a maneira como eu me expresso tem um pouco dessa coisa da força, mas tem a coisa da delicadeza também”.

A cultura do skate, a força do movimento hardcore em Santos – cidade onde Karen nasceu – e o gosto por emo e indie rock durante a adolescência foram grandes influências em sua carreira musical, mas também uma grande motivação para querer definir a sua própria imagem em seu primeiro álbum.

“Foi surpreendente para as pessoas ouvirem o disco e não ser o que esperavam, foi uma quebra de estereótipo no começo. Foi muito necessário até pra eu me autoafirmar como não só skatista. Eu sou uma mulher, sou inteligente, escrevo bem e tenho uma sensibilidade. Eu não sou tão fútil quanto vocês acham, mas eu vou ser fútil em algum momento, e está tudo bem”, explicou.

Foto: Camila Cornelsen

Inicialmente, durante a produção do álbum, Karen revelou uma preocupação com a variedade de assuntos abordados e emoções presentes, ressaltando o contraste entre Afogar ou Mergulhar – que abraça um lado mais melancólico com uma letra existencialista – e ET – música mais agitada que brinca com a existência de alienígenas.

“No final, o elemento que une tudo sou eu. Acho que a gente, como humano, é um pouco assim também, às vezes a gente está mais triste, às vezes mais feliz… Então no final eu gostei muito do resultado e essa impressão, de que não tinha nada a ver, sumiu e a mistura ficou boa”, revelou Karen sobre o processo de produção.

Coocoocrazy e Certeza Absoluta

Apesar de terem sido compostas na mesma época de Papel de Carta, Coocoocrazy e Certeza Absoluta saíram, inicialmente, como singles após o lançamento do álbum, porém foram as primeiras canções que contemplavam um videoclipe.

Ambas presentes no top 5 de Karen Jonz no Spotify, as canções foram responsáveis por entregar uma identidade visual impecável que ilustra perfeitamente as cores, sonoridades e sentimentos presentes em Papel de Carta.

Em colaboração com a banda paulista Cansei de Ser Sexy (CSS), grande nome do rock feminino nos anos 2000, Coocoocrazy abraça um lado mais descontraído e colorido, retratando versões mais novas das cantoras e brincando com a criatividade e imaginação fértil da infância.

A ideia inicial partiu de Karen, que entrou em contato com Luisa – vocalista do CSS e também conhecida pelo nome artístico Lovefoxxx – para fazer um cover de uma das músicas da banda, a qual era muito fã. No entanto, a conversa evoluiu e Karen fez a proposta.

“Eu pensei que eles não iam querer fazer um feat comigo nunca, mas quando eu falei elas toparam. Todas as colaborações são pensando no que faria sentido para as músicas e pro resultado final, não foi fazer por fazer, ou fazer porque a pessoa é famosa e tem ouvinte, tanto que o CSS nem em atividade estava né?”, explicou Jonz. “Mas eu acho que se estivessem tocando, a gente seria da mesma cena e faria festivais juntos”.

Certeza Absoluta, canção com um instrumental forte e cujo videoclipe é repleto de cores mais escuras, soa como um desabafo exausto retratado através de diversas Karens, ou também diversas mulheres, como foi o caso das que se identificaram com a canção.

“É muito incrível se identificar com o trabalho de alguém. A gente vive tentando se expressar e se comunicar, e quando alguém consegue dizer o que você estava tentando e não conseguia, isso gera muita conexão, tipo uma eureka”, revelou.

Sobre o videoclipe, Karen conta sobre a influência da diretora Camila Cornells: “Ela teve uma leitura de que às vezes você não escuta a sua própria voz da intuição. A letra fala isso, mas não foi o que eu quis dizer, então a música tomou um novo significado de algo que eu nem estava pensando. Quando as pessoas ouvem e trazem algo que nem você tinha percebido, a música vai crescendo”.

Planos futuros, novas colaborações e lançamentos

Com o sucesso de sua estreia, Karen garante que já está com trabalhos futuros – incluindo colaborações – e está ansiosa para poder divulgar seus próximos lançamentos, que serão um pouco diferentes. “Não vou dar spoiler por enquanto, mas eu acho essa troca muito importante, principalmente pra um artista que está começando, que é o meu caso”, revelou.

Outro diferencial também será a influência de tocar as canções mais animadas em shows ao vivo. “Acho que a Karen triste vai ficar mais em Papel de Carta. Essas músicas vêm também pra poder compor o show de uma maneira que eu consiga até contemplar o meu público de skate um pouco mais”, contou a artista.

A versão deluxe amarra e encerra a estreia de Karen Jonz com muita nostalgia, originalidade e conexão com os fãs, além da forte presença das primeiras performances ao vivo e a expectativa de muitas outras pela frente.