Pioneer: 10 anos do renascimento independente do The Maine

Terceiro disco da banda foi lançado em 6 de dezembro de 2011

Arte: Giovanna Zancope / Downstage

I’m what time and consequence have made me

As primeiras linhas de Identify chegaram ao mundo em seis de dezembro de 2011 marcando mais do que o início de um novo ciclo para o The Maine. Pioneer foi um renascimento.

(Imagem: Reprodução / 8123)

O terceiro álbum do quinteto norte-americano é fruto da decepção ao ter o sonho de estar em uma grande gravadora minado por interesses comerciais divergentes, interferências constantes e promessas quebradas.

Depois de um período conflituoso em 2008 com Black and White, o The Maine se viu na necessidade de recuperar a própria essência e redescobrir a paixão pela música. 

Para isso, a banda decidiu viajar para o deserto, sem avisar o time da Warner Bros Records ou os fãs. Apenas cinco caras com autonomia total para criar algo excepcional ou falhar completamente munidos de alguns instrumentos, papéis e canetas.

Desacreditados pela gravadora, o The Maine resolveu seguir em frente com o projeto e lançar o Pioneer mesmo assim. 

Time to give them what they are waiting for

Nas 13 faixas do álbum, de Identify à Waiting for My Sun to Shine, o pulo gigantesco que a banda deu da fase pop (e até com toques de country) do Black and White para voltar às raízes do pop punk e pop rock no Pioneer é notável. 

O passeio pelo álbum permite que o ouvinte se coloque em qualquer linha do tempo do The Maine para entender o que e sobre o que a banda sobe aos palcos para tocar. O Pioneer é a cara do The Maine: o pop rock de My Heroine que agita shows, a sensação de nostalgia em Like We Did e o eu lírico sofrido e conflituoso em Misery compõem o disco e dão identidade à banda.

A receita pop rock do Pioneer ainda garantiu ao The Maine sucesso em outros álbuns, como canções do American Candy, Lovely Little Lonely e do You Are OK, que mostram semelhanças do pop-rock com o projeto de 2011. 

Essa coragem que surgiu do Pioneer ainda resultou na criação do trabalho mais indie da banda e queridinho entre os fãs, seu álbum seguinte, o Forever Halloween.

O The Maine soube apostar no que quis e mirou certo na construção de um som para a banda que pudesse perdurar mas sem cair em uma zona de conforto.

Here comes the fireworks, baby

O público garantiu à Pioneer uma estreia na 90º posição da Billboard 2000 e 12 mil cópias vendidas logo na primeira semana. Uma queda considerável em relação aos números do antecessor que debutou em 16º e vendeu 22 mil CDs no mesmo período, mas sem dúvidas uma conquista e tanto para um lançamento independente.

Contando agora com investimento e estrutura de divulgação limitados, inferiores aos do álbum anterior e um mercado menos aberto para atos do nicho emo-pop punk-alternativo, o The Maine usou da arma mais potente que tinha em mãos para sobreviver dentro de uma indústria incerta: a base de fãs.

(Foto: Dirk Mai)

Estava ali o embrião da 8123 family. Mais do que uma forma de demonstrar carinho e agradecimento pelo apoio, ao olhar com mais atenção para os desejos e necessidades dos fãs, o grupo encontrou meios para transformá-los em ações que fossem além da música.

Ao longo dos anos a banda se destacou por ser bastante inventiva no modo de promover os trabalhos, investindo pesado na identidade visual dos ciclos. Das peças de merchandising aos conteúdos digitais e espaços interativos nos shows, tudo é pensado de modo a envolver o público o máximo possível criando assim um senso de comunidade.

É  quase impossível imaginar como o The Maine teria se reinventado tantas vezes e garantido sua emancipação, que perdura até hoje, se não fosse o momento de coragem da banda em abandonar a gravadora e tomar as rédeas da sua produção e do marketing da banda, de volta em 2011. 

(Foto: Reprodução / The Maine)

Outro exemplo recente foi a campanha de marketing para Lovely, Little, Lonely, em que o The Maine incentivou os fãs a comprarem o álbum e também vendê-lo, além de recomendá-lo para amigos. Como recompensa a banda ofereceu ingressos vitalícios, shows privados e até mesmo composições exclusivas. O resultado foi um CD em 1º lugar no iTunes e 3º na lista de álbuns independentes e top álbuns alternativos da Billboard. 

Fora os aspectos financeiros, alimentar os fãs para além da música também deu ao The Maine liberdade para se arriscar e fazer o som que tivessem vontade, sem amarras, barreiras de gênero ou preocupações com desempenho comercial. Nada disso teria sido possível fora do modelo de autogestão, impulsionado pelo desejo de independência da banda. E o The Maine deve isso ao Pioneer.

Pioneer no Brasil

Pioneer também marcou a relação entre a banda e o Brasil. A primeira passagem do grupo pelo país aconteceu em 2011 e foi aqui a estreia nos palcos de Identify, My Heroine, Some Days e Don’t Give Up On Us, dias antes do disco chegar às lojas.

Meses depois o grupo surpreendeu ao anunciar novos shows e a gravação do DVD Anthem For A Dying Breed, algo inédito na carreira. 

Além do registro feito em São Paulo, o filme traz extras como clipes e um documentário sobre o processo criativo do álbum. Depois disso o The Maine retornou ao Brasil mais cinco vezes. 

A última vinda aconteceu em agosto de 2019 e foi marcada por diversas reviravoltas, colocando à prova a flexibilidade e gerenciamento de crise da banda. Inicialmente a Back In Brazil and On Tour passaria por 4 cidades com Pioneer sendo tocado na íntegra.

(Imagem: Reprodução / Sympla)

Mas problemas com a produção e logística quase levaram ao cancelamento da turnê e após alguns meses de negociações e ajustes a saída encontrada foi transformar as quatro datas em um evento de três dias em São Paulo, com um show comemorativo do álbum, Meet & Greet e um festival com artistas da 8123.

Além disso, a banda se desdobrou para conseguir descontos e parcerias com empresas de viagem e hospedagem para que os custos envolvidos não fossem um empecilho para fãs de outros estados.

Provando mais uma vez entender bem o organismo que os mantém como um dos nomes mais relevantes do segmento, ainda durante as apresentações o vocalista John O’Callaghan fez questão de ressaltar a importância da base brasileira para o The Maine. “Esse é um lugar especial para nossa banda. Ninguém no mundo nos ama como os brasileiros”.