Antes de relembrarmos o lançamento de Lights and Sounds, é importante fazer uma rápida retrospectiva do cenário o qual o Yellowcard se encontrava na época. A explosão do emo e do pop punk no começo dos anos 2000 foi algo realmente marcante. 

Diferente do emocore feito nos anos 90, onde a parte emotiva era concentrada nas letras das músicas, o som feito no início dos 2000 era complementado pelo visual. Nesse contexto, uma estética se formou e, em certo momento, se tornou o fator principal para rotular uma banda, independentemente de sua sonoridade. 

O pop punk ganhou força e chegou ao mainstream de mãos dadas com o emo da época e em pouco tempo as bandas do gênero acabaram sendo rotuladas como emo também. Nomes que já estavam em constante atividade como Good Charlotte, Fall Out Boy, My Chemical Romance e o Yellowcard ganharam maior visibilidade na mídia e se tornaram as principais bandas do movimento emo. 

O começo de tudo

O Yellowcard sempre se destacou entre as bandas do gênero por contar com o violinista Sean Mackin, que agregava algo novo e fora do comum ao som da banda. Formada em 1997, na cidade de Jacksonville, na Flórida, o Yellowcard é a típica banda feita por amigos no colégio, que na época contava com os integrantes Ben Harper (guitarra), Longineu Parsons (bateria), Warren Cooke (baixo), Todd Clarry (guitarra) e Ben Dobson (vocal). 

Em 1997, é lançado o primeiro full da banda, Midget Tossing, com uma sonoridade crua e rápida, longe da pegada pop e cativante que a banda viria a ter. Em 1999, a banda lança o álbum Where We Stand, que conta com a entrada oficial de Sean Mackin para a formação. Com a saída de Todd Clarry e Ben Harper, Ryan Key assume os vocais e a guitarra, e em 2001 temos o primeiro disco com a nova formação, o clássico One For The Kids. 

Ocean Avenue e o sucesso na hora certa 

Com o sucesso do álbum Ocean Avenue, o Yellowcard embarca em sua primeira turnê americana e conquista um contrato com a gravadora Capitol Records. Warren Cooke deixa a banda e Peter Mosely assume o baixo. 

Em 2003, o grupo lança o excelente Ocean Avenue, disco que catapultou o Yellowcard para as paradas de sucesso e consolidou sua sonoridade de vez. O álbum conta com vários hits como Way Away, Ocean Avenue e Only One, trazendo um pop punk cativante, marcado pela combinação inusitada, porém muito assertiva, de violino e guitarras. O disco vendeu milhões de cópias e colocou a banda em outro patamar, se tornando um dos principais nomes do fenômeno emo que dominava a grande mídia e os mp3’s de 256mb dos adolescentes. 

Analisando o disco

Lights and Sounds chegou às lojas no dia 24 de janeiro de 2006 e apresentou mais uma mudança na formação da banda, com a saída do guitarrista Ben Harper e a entrada de Ryan Mendez. Com produção de Neal Avron (que trabalhou com nomes como Fall Out Boy, Weezer, New Found Glory e Anberlin) e Mixado por Tom Lord-Alge (Trabalhou com nomes como Avril Lavigne, Blink-182 e U2), o álbum mostra um Yellowcard seguro e confortável com sua sonoridade, que apresenta leves mudanças em relação ao trabalho anterior. 

O sucesso de Ocean Avenue criou uma grande expectativa em Lights and Sounds, que apesar de não ser tão consistente e marcante como seu antecessor, não decepciona e prova que o Yellowcard não ficaria à sombra de um grande sucesso e nem preso à lembrança de um fenômeno musical passageiro.

A música de abertura, Three Flights Up, já nos mostra que a banda aponta para uma sonoridade mais madura. Lights and Sounds é uma das melhores faixas do disco, com uma abordagem calcada no rock alternativo, mas sem deixar a raiz pop punk inteiramente de lado.  Down On My Head e Sure Thing Falling seguem basicamente a mesma estrutura, pop punk padrão com uma pegada mais melancólica. Não são faixas ruins, mas soam parecidas e meio apagadas.

City of Devils é uma baladinha onde o violino de Sean Mackin se destaca, dando uma beleza extra à canção. Rough Landing, Holly é empolgante e dá uma boa levantada no álbum, um hit certeiro e com um videoclipe muito divertido (assista abaixo). Two Weeks From Twenty é uma música bem calma e desconexa, sendo um dos pontos baixos do trabalho. 

Waiting Game é uma boa música e trabalha muito bem o lado melancólico que predomina no álbum. Space Travel levanta a bola novamente e é o Yellowcard jogando em casa, fazendo o que sabe, sem medo de ser feliz. Grey é uma ótima faixa, onde mais uma vez o violino se prova um instrumento essencial na melodia. 

Words, Hands, Hearts é longa e um pouco cansativa, principalmente por estar alocada na reta final do disco. How I Go conta com os vocais da cantora Natalie Maines, vocalista do Dixie Chicks. Uma música muito gostosa de ouvir e com uma ótima combinação de vozes. Holly Wood Died encerra o álbum muito bem, com um pop punk certeiro como só o Yellowcard sabe fazer. 

Nem tão bom, mas longe de ser ruim 

O Yellowcard apresentou leves mudanças em Lights and Sounds, com músicas mais melancólicas, fugindo um pouco da estrutura padrão do pop punk. Apesar de ser louvável a tentativa de mudar ao invés de seguir a fórmula usada no seu disco de maior sucesso até então, algumas faixas não funcionaram tão bem e o álbum soa cansativo em alguns momentos. 

O disco tem ótimas músicas sustentando muito bem a obra. Ryan Key apresentou problemas em suas cordas vocais em decorrência de um cisto, o que levou a banda a adiar sua turnê para que o vocalista fizesse uma cirurgia. Na turnê deste álbum, tocaram pela primeira vez no Brasil em agosto, retornando em outubro para tocar no Mix Music Festival, em São Paulo, com um público de 40.000 pessoas. 

Lights and Sounds foi importante por manter o Yellowcard em evidência e mostrar que a banda ainda tinha muito o que dizer. Infelizmente encerraram suas atividades em 2017, mas deixaram sua marca no coração de inúmeros fãs que certamente vão celebrar esta data tão especial revisitando este disco.