Bodies: AFI é elegante e minimalista em um de seus melhores trabalhos

Novo álbum da banda aposta na sonoridade oitentista e se mostra mais um acerto em sua diversificada discografia

Capa: Ex Noctem Nacimur Music

O AFI sempre foi uma banda em constante evolução musical. Ao longo dos anos, o grupo foi experimentando diferentes sonoridades, desde o punk rock agressivo explorado no início de carreira, passando pelo emo em seus discos mais comerciais e flertando com o rock alternativo em sua fase atual. Em Bodies, seu décimo primeiro álbum de inéditas, o AFI explora com mais intensidade o pós-punk e a new wave, inserindo elementos do gótico e dos anos 80.

Em seu último trabalho, o autointitulado e também conhecido como “The Blood Album” (2017), a sonoridade da banda já apontava para o que seria feito em Bodies. Faixas como Aurelia e Snow Cats já flertavam com o que viria a ser explorado em seu álbum mais recente.

É impressionante a versatilidade que o AFI apresenta, conseguindo lançar discos completamente distintos entre si e ainda assim manter sua personalidade presente em todos eles. A estética musical da banda sempre foi incorporando diferentes sonoridades e se tornando cada vez mais característica ao longo dos anos.

(Imagem: Reprodução/A Fire Inside Net)

Bodies trabalha muito bem todas as qualidades do AFI, usando com sabedoria o seu vasto catálogo de influências. É possível perceber que a banda aposta em uma abordagem minimalista e elegante, sem exageros e com uma estética discreta.

O álbum abre com a ótima Twisted Tongues, uma faixa que vai crescendo aos poucos e envolvendo o ouvinte em sua atmosfera dark. A sintonia entre o instrumental e os vocais de Davey Havok é um dos pontos altos da canção. Far Too Near poderia estar em qualquer trabalho recente do AFI, com uma estrutura bem comum e familiar. Representa bem a era pós Decemberunderground, flertando com o rock alternativo.

Com uma linha de baixo sedutora e envolvente, Dulcería é facilmente um dos melhores momentos do álbum. A música foi co-escrita por Billy Corgan do The Smashing Pumpkins, resultando em uma parceria excepcional. A influência musical dos anos 80 é bem presente na canção, principalmente em sua estética. Uma faixa deliciosa de se ouvir.

Em On Your Back o AFI fica na zona de conforto, sem se arriscar e com uma estrutura linear. Está longe de ser uma música ruim, mas não foge muito do que a banda está acostumada a fazer. Já Escape From Los Angeles mergulha em uma vibe synth pop e flerta com a new wave. Uma faixa bem interessante e cheia de personalidade, onde a estética retrô é bem evidente.

Begging For Trouble é outra faixa em que o baixo se destaca bastante. Uma canção bem competente e que mantém a qualidade do álbum. Back From The Flash é introspectiva e calcada no pós-punk, com leves pinceladas de música gótica. Além de envolvente, coloca em evidência a excelente performance vocal de Davey Havok. Um dos melhores momentos de Bodies. A vibe new wave volta a dar as caras em Looking Tragic. Com uma cozinha bem marcante, a faixa conquista o ouvinte logo na primeira audição. O refrão é grudento e viciante, fazendo da música um dos destaques do álbum.

O AFI volta a flertar com o synth-pop em Death Of The Party. A abordagem anos 80 da música é dançante e imersiva. É interessante ver como o AFI consegue navegar com tranquilidade neste tipo de sonoridade, sem soar desconexo ou datado. É possível notar a influência do projeto paralelo de Davey Havok e Jade Puget, a Blaqk Audio, onde o duo explora com mais intensidade o synth-pop e a darkwave.

No Eyes é mais uma faixa no estilo “clássico” do AFI, sem muita inspiração. Tied To A Tree encerra o álbum de maneira intimista e sombria, com passagens grandiosas ao longo da faixa. Um belo final para a obra.

Bodies é um ótimo álbum e mantém a qualidade musical que o AFI vem entregando em seus trabalhos recentes. Novamente, a banda consegue inovar sem se perder, sabendo dosar com precisão suas influências e deixando sua personalidade se sobressair. A abordagem oitentista, com flertes de pós-punk e música gótica cai de forma elegante na sonoridade do AFI. A produção do guitarrista Jade Puget também agrega bastante ao trabalho. Com Bodies, o AFI entrega mais uma obra acima da média, deixando evidente o motivo de ter uma legião tão fiel de fãs.

Para fãs de: Anti-Flag, Alkaline Trio e The Used