A nova Era: Bring me the Horizon abre alas para a nova geração
Novo álbum de Oliver Sykes e companhia é inovador e poderá ditar o rumo que a cena irá seguir
O Bring Me The Horizon não teve misericórdia ao fazer seus fãs aguardarem o lançamento deu seu novo álbum por quase quatro anos.
Isso significa que a banda ficou parada durante todo esse período? De forma alguma. Entretanto, o sucessor de POST HUMAN: SURVIVAL HORROR foi esperado com muita ansiedade pelos fãs da banda, pois muitos tinham a seguinte pergunta em mente: Qual caminho a banda seguirá agora?
Desde o lançamento de Sempiternal em 2013, os holofotes em cima do Bring Me The Horizon se tornaram mais frequentes, e não é difícil entender os motivos. A banda conseguiu praticamente reinventar o seu gênero e influenciar diretamente toda a safra de atos que surgiu posteriormente.
Para fins de comparação, o BMTH está ao lado de bandas consagradas quando se trata de números de ouvintes no Spotify, sendo atualmente a quinta banda de metal mais ouvida da plataforma.
Com a recente viralização da faixa Can You Feel My Heart nas redes sociais, novos ouvintes foram chegando e ocupando seu espaço dentro da comunidade de novos fãs da banda.
POST HUMAN: NeX GEn é um disco que não apenas conversa com os fãs mais antigos, mas também, e principalmente, com os fãs mais novos.
Welcome to the NeX GEn!
Definir POST HUMAN: NeX GEn apenas como um disco que passa por várias fases da banda é um tanto errôneo, pois ele pega grande parte do que o BMTH fez até hoje e dá um toque especial, deixando tudo com um ar mais moderno.
A banda fez questão de mostrar suas habilidades em mesclar diversas influências para criar algo único. Logo de cara, após a intro “[ost] dreamseeker”, somos apresentados a “YOUtopia“, que já começa com um riff eletrizante, no melhor estilo de uma motoserra. A versatilidade vocal de Oliver Sykes é muito presente aqui, indo de vocais mais potentes a quase sussurros em questão de segundos. Sua letra é um tanto romântica, e, isso somado aos riffs pesados, batidas e elementos eletrônicos, cria uma atmosfera única que já dá ao ouvinte a ideia de qual será a vibe do álbum daqui pra frente.
Logo em seguida, o ouvinte é apresentado ao último single lançado deste disco, aquele que se tornou um clássico instantâneamente: “Kool-Aid”.
Com uma atmosfera pesada – lembrando muito as composições dos primeiros trabalhos, temos uma faixa densa, pesada, que une o melhor do metal com um refrão que fará os fãs cantarem em plenos pulmões.
Seu videoclipe é um espetáculo à parte, com direito a toda a excelente produção e estranheza presente na grande maioria dos clipes do grupo. “Kool-Aid” é, possivelmente, a melhor faixa para definir essa nova fase da banda.
Em “Top 10 staTues tHat CriEd bloOd”, percebe-se uma atmosfera alegre e enérgica, algo que vemos com mais frequência em alguns álbuns mais pontuais da banda. Apesar de ser uma faixa mais good vibes, conta com passagens mais pesadas, com direito a muitos berros que ficam em segundo plano, porém ainda evidentes, e um belíssimo breakdown na metade da faixa.
É interessante ressaltar que esta track tem um solo de guitarra que é muito característico de bandas de metal japonesas. Isso não é coincidência, afinal, temos Daisuke Ehara, o guitarrista da banda Paledusk, como um dos compositores.
“liMOusIne”, faixa que conta com o feat super especial da AURORA, é super densa, mais lenta se comparada as demais, estruturada com uma crescente em que a banda vai trabalhando pouco a pouco.
Os vocais etéreos presentes aqui dão a sensação de estar ouvindo algo da banda Deftones, pois a faixa transita entre vocais e passagens super recheadas de riffs pesados e bem acentuados. Infelizmente, a participação de AURORA não teve tanto destaque. A voz da cantora foi um tanto ofuscada devido ao instrumental que pareceu estar alto demais, não fazendo tanto jus ao talento da vocalista.
Outra faixa que certamente é outro clássico moderno: “DArkSide” tem uma atmosfera sombria e é um tanto melancólica, resultado da sua letra que segue o mesmo padrão.
Seu instrumental abusa dos riffs contínuos e sintetizadores que dão um toque único a esse single.
Um destaque do disco é como a banda vai trabalhando na sequência das músicas, deixando uma faixa mais densa seguida de uma mais enérgica. Isso acontece com a sucessora de “DArkSide”. “a bulleT w/ my namE On” é rápida, melódica e agitada, e conta com uma participação que pegou muitos fãs de surpresa, a banda Underoath.
O dueto de Sykes e Chamberlain é algo fantástico, e é possível ouvir tantos seus vocais limpos quanto gritados. É certamente um grande presente para os fãs de ambas as bandas.
“[ost] (spi)ritual” é uma faixa de transição carregada de batidas eletrônicas. Ela vai preparando terreno para a chegada de “n/A”, que de início dá a impressão de ser uma faixa mais lenta e calma, mas que logo explode em um grande coral. É uma faixa muito boa, mas pode deixar alguns ouvintes um pouco perdidos, pois a banda explora vários terrenos em poucos segundos e não define um caminho com clareza. A impressão é de que “n/A” parece outra faixa de transição, mas, felizmente, a música seguinte é um dos pontos mais altos do disco.
“LosT” é, certamente, um dos maiores acertos deste trabalho. Alguns fãs a estranharam quando foi lançada como single, pois ela era totalmente diferente de tudo aquilo que o Bring Me The Horizon havia lançado até então.
Uma atmosfera que muito remete ao pop punk se faz presente o tempo todo aqui, e temos aquele feeling de um dia ensolarado. Seu videoclipe é outro trabalho audiovisual digno de admiração, pois casou perfeitamente com a vibe da faixa, causando aquela estranheza que apenas o BMTH é capaz de fazer.
“sTraNgeRs” é poderosa, uma faixa que tem como seu tema central a luta contra doenças mentais e emocionais. É importante destacar que é uma composição mais madura se comparada às demais faixas deste trabalho, tanto pelo seu instrumental como pela parte lírica. Certamente uma das favoritas dos fãs.
Mantendo a estrutura do disco, depois de uma faixa mais introspectiva, temos o retorno de uma mais animada e agitada. “R.i.p (duskCOre RemIx)” é extremamente dançante e pulante, capaz de remover as bad vibes causadas por faixas anteriores.
All hail the next gen.
Essa frase é encontrada em “AmEN”, uma música extremamente bem trabalhada e que conta com a participação do rapper Lil Uzi Vert e Daryl Palumbo, vocalista da banda Glassjaw.
O conteúdo lírico é extremamente forte, com uma atmosfera apocalíptica que vai brincando com a mensagem explícita contida aqui.
Seguida por outra faixa de transição, “[ost] p.u.s.s.-e” parece ter saído diretamente de um festival de música eletrônica. Com direito a muitas batidas intensas, ela logo cede seu lugar ao primeiro single deste álbum, que foi lançado em 2021.
“DiE4u” foi responsável por abrir as portas dessa nova fase do Bring Me the Horizon. Musicalmente falando, ela ditou como seria o próximo álbum do grupo, e também deu indícios de como a banda trabalharia toda a sua estética, utilizando muitos seres de orelhas pontudas tais como vampiros ou elfos, e toda a atmosfera mística dentro do audiovisual.
Por fim, depois dessa longa jornada, chegamos em “Dig It”, a faixa mais longa do álbum todo, com mais de sete minutos de duração. É possível dizer que o disco encerra com chave de ouro. A faixa transita com maestria por diversos estilos, mas sem perder a essência característica de um trabalho do BMTH.
No entanto, essa música tem um corte abrupto, deixando o ouvinte sem entender muito bem o ocorrido. Passados alguns minutos, a amiga pessoal multidimensional dos fãs, M8, aparece e diz que foi encontrado um erro fatal e, para obtermos mais informações, é preciso acessar um portal específico que não é revelado, pois outro corte inesperado ocorre.
Será que os fãs podem esperar por um POST HUMAN 3 futuramente?
A COMUNICAÇÃO COM OS TEMPOS ATUAIS
Desde os tempos de ouro de Vans Warped Tour e MySpace, o Bring Me The Horizon sempre soube conversar de maneira certeira com seus ouvintes, conseguindo assim se adaptar a diferentes sonoridades sem perder a sua essência como banda.
Em POST HUMAN: NeX GEn isso não foi diferente. A banda conseguiu captar toda a atmosfera que permeia seus ouvintes, como se os conhecessem pessoalmente. Como resultado disso, o álbum todo é trabalhado em cima de elementos do que é produzido dentro da indústria musical atual. As batidas eletrônicas, os sintetizadores, efeitos sonoros e demais elementos eletrônicos não estão presentes apenas por um acaso, eles fazem total diferença – e a banda sabe muito bem.
Além disso, toda a estética visual do álbum foi feita baseada em anime/mangá e cultura pop japonesa. Outrora mais voltado para o cyberpunk, em alguns momentos para o gótico e em outros no pós-apocalíptico, porém sempre com a estética japonesa.
É possível perceber também referência a games, como por exemplo na logo de divulgação do álbum, contando com uma clara referência a franquia Final Fantasy.
Sem contar da maneira na qual os títulos das faixas foram escritos, todos remetendo diretamente a como a nova geração se comunica nas redes sociais.
As faixas estão conectadas?
Ao parar para analisar minuciosamente cada uma das faixas, é possível notar que, na maioria, não existe de fato um fim, e sim uma conexão com a música seguinte.
De acordo com os tempos atuais, a sociedade é bombardeada com informações a todo tempo, seja nas redes sociais, televisão e afins. Diante disso, o cérebro já está condicionado a receber quantidades massivas de informação, e as vezes até pede por isso.
O fato das faixas estarem “conectadas” mantém o ouvinte atento e preso a elas, e muito se deve a quantidade de efeitos e informações presentes a todo momento dentro das músicas. As músicas possuem muitas camadas, e a cada ouvida novos detalhes se revelam, que antes passaram despercebidos.
Certamente é um álbum que deve ser ouvido muitas e muitas vezes.
Mas… e o Jordan Fish?
Em dezembro de 2023, a banda anunciou em suas redes sociais que o tecladista Jordan Fish, que integrava a banda desde 2012, não fazia mais parte do grupo.
Entretanto, a sua influência pode ser notada no trabalho todo. Jordan ajudou na composição de faixas como “DArkSide”, “sTraNgeRs”, “DiE4u” e outras.
Isso deixa os fãs estão curiosos para saber qual caminho a banda irá seguir sem a presença do antigo tecladista.
O legado que POST HUMAN: NeX GEn poderá deixar
Bring Me The Horizon é certamente uma das bandas que possui maior influência no cenário atual. Seus álbuns são sempre muito comentados e ditam uma certa direção que diversos outros grupos acabam seguindo.
Não seria estranho se diversas bandas daqui para frente começarem a utilizar mais elementos eletrônicos e ter a sonoridade parecida, ou até mesmo explorar diversos gêneros e vertentes dentro de um mesmo trabalho.
De qualquer forma, esse álbum é um presente para todos os antigos e novos fãs, e deve ser ouvido sem moderação.