Crônica Ativa entrega segurança e mix de influências em seu novo disco, Alvorecer
Em um momento de retomada, Crônica Ativa honra legados e encontra o momento certo para lançar seu novo trabalho
A Crônica Ativa é de São José dos Campos, interior de São Paulo. Atualmente formada por Ewerton ‘Cuelo’ (voz), Markin (guitarra), Mr. Allan (guitarra), Júlio (bateria) e Sandro (Baixo). A banda se deu início em um quarteto, no ensino médio, com a proposta de unir amigos e fazer covers de hardcore, new metal e pop punk.
Em 2011, ganhando mais corpo, encontraram o momento para escrever músicas autorais. “As composições puxavam pro metal e começamos a ir aos estúdios com mais frequência, ensaiando e refinando”, comenta Markin em uma entrevista exclusiva ao Downstage.
Em 2015, o Crônica Ativa foi consolidado com o single Caminhos Opostos. Com uma forte influência do new metal e hardcore, teve boa aceitação da cena local, porém os anos de 2016 a 2019 foram marcados por diversas mudanças na formação e somente em 2020, com a volta da formação original, que foi possível lançar o primeiro EP com faixas antigas compostas nos primeiros anos de existência da banda.
Era o momento, também, de compor novas faixas, e tendo mais uma mudança na formação com a chegada do Allan na segunda guitarra. Agora, em anos, o time estava totalmente sólido para encarar algo maior, um álbum completo. “No lançamento do nosso primeiro EP, em 2020, a pandemia estourou e se deu o início da quarentena e medidas de segurança, como o distanciamento social. Então não houve nenhum tipo de divulgação além das mídias sociais”, comenta Allan.
Em quarentena e buscando trazer novidades às redes, o Crônica Ativa sentiu a necessidade de relançar o trabalho com uma qualidade maior, buscando ressaltar o álbum no momento da retomada e da flexibilização das casas de shows. “Surgiram também festivais online e isso nos deu mais um motivo para o relançamento do EP, buscando atingir um público maior”, complementa.
Um baque e um novo começo
Em 2021 juntamente com o lançamento do single Submersa marcando a nova fase da banda, também veio uma grande perda, o baixista Diego Araújo, veio a falecer em decorrência do COVID-19 durante o processo de gravação do clipe do single. Mais um impasse e mais um episódio de reflexão profunda caiu sobre o grupo. “Ficamos um período de dois meses buscando compreender a melhor forma de seguir e tudo o que veio depois, as músicas, o processo de concepção do Alvorecer teve total influência nessa passagem que a banda teve em abril de 2021”, comenta Markin.
Submersa foi escolhida como single por retratar o sentimento de muitos em decorrência da pandemia. Buscaram o Estúdio Toth como teste para gravação do single e posterior gravação do disco, para conhecer a qualidade sonora de produção, compreender como eles trabalhavam e como era a experiência em gravar presencialmente com eles. “Definimos um tempo para colocar a cabeça no lugar e continuar com as gravações do clipe e decidimos lançar em homenagem a ele e à família”, ressalta Allan.
Decidindo continuar o projeto, Sandro Sanders assume os graves e o Crônica Ativa deu início à pré-produção do álbum, que teve parte de suas gravações realizadas no home studio da banda e estúdio Toth, com mixagem e masterização realizadas neste último, pelos produtores Danilo Souza e Fernando Uehara.
“Entrei praticamente na mudança da banda, fiquei até um pouco perdido na composição, era música pra cacete. Perguntava pro Markin como ia fazer e foi tudo se encaixando e foi sendo mais tranquilo, acabou fluindo e foi muito massa participar do álbum, foi muito legal”, compartilha Sandro.
O disco
O álbum Alvorecer traz em sua gama de influências, estilos como groove metal, metalcore, metal progressivo, hardcore e post-grunge; apresentando uma sonoridade agressiva, com instrumental pesado e linhas vocais berradas e melódicas. É, sobretudo, o registro mais sincero dos integrantes diante das mudanças constantes na sociedade e as adversidades vividas nos últimos dois anos.
“O álbum fala muito sobre mudanças e adaptações. Não só desde quando a pandemia começou, mas desde quando a banda começou”, adianta Markin. “Foram uma série de adaptações, tivemos uma curva de aprendizado e fomos nos adaptando, sempre conversando, sempre unidos e o disco fala muito disso, como as mudanças nos impactam. Então queríamos contar uma história.”
Ele continua: “As coisas acontecem, a gente sofre, a gente enfrenta os percalços, a gente aprende, a gente passa a entender e a gente sai modificado de alguma forma, enxergando de uma maneira diferente. A primeira música fala do mesmo assunto que a última, mas de maneira diferente, para que entendamos de outra forma, para que cada pessoa, independente da religião, da fase em que está vivendo, vai ouvir e interpretar à sua maneira. Fazer música com sentimento, com propósito, é foda, é sobre isso, não tem como ser diferente.”
A primeira faixa, Alvorecer traz não somente o nome do disco nas costas, mas também é uma faixa instrumental que caminha na linha tênue entre a esperança e as sombras. Afinal, algum equilíbrio precisamos ter para fazer alvorecer as mudanças em nossas vidas.
Ego Inflado inicia com groove marcante, que logo se transforma no mais puro hardcore, entregando em seus versos o alerta de como nossas vontades podem nos consumir.
Inspirada no filme Corra, a enérgica Imperium, além lançar um olhar punitivo para o cinismo da mídia, mostra em seu breakdown a junção de tudo que pode atormentar nossa mente. Com participação especial da cantora Lilian Araújo, sua voz soa como um refúgio no meio do caos.
Causa e Efeito inicia explodindo em peso e groove. Mudando o clima no refrão com linhas vocais melódicas e imersivas, finalizando com pulsos graves do contrabaixo e ambiência dramática nos sintetizadores; a imperceptível emenda inicia a quinta faixa, Terra Prometida trazendo um dueto de quintas e oitavas na dupla de guitarras, mantém-se dançante, carregada e pesada finalizando a primeira parte do álbum.
Essência traz a busca espiritual, flertando com post-grunge e metalcore, muda de face para trazer mais groove em sua ponte.
Sacrifícios começa tímida e calma, remetendo aos primeiros trabalhos da banda com vários elementos do new metal, crescendo em influências e agressividade a medida que se aproxima do fim.
A mistura de groove metal e hardcore fica em evidencia em A Outra Face com riffs e duetos de guitarra cortantes do início ao fim.
Pra cima e animada, cercada de síncopes e contratempos de bateria, Mantos e Diamantes foi o primeiro single, e encaixa um breakdown pesado e um solo marcante e melódico, funcionando quase como uma extensão das linhas vocais no último refrão.
O riff final mal consegue respirar antes de Idolatria nos mergulhar ainda mais fundo em uma debandada de riffs destruidores de pescoço enquanto Cuelo rasga versos raivosos sobre um jeito estúpido de se fazer política em nosso país. O refrão com muito sentimento nos leva à uma viagem única, antes de repousar em uma ponte totalmente brasileira, mesclada com um insert de Chaplin, que só corrobora tudo que foi berrado até agora, finalizando com o mesmo riff inicial porém com uma pitada de groove metal.
O inicio do fim com Reconstruir, parte para o hardcore com pitadas do bom e velho metalcore, destaque aqui para o refrão marcante e linhas de violino e cello, encerrando de maneira bem experimental o álbum.
Alvorecer, é sobre equilíbrio, é um trabalho construído por cada integrante, com relatos e aprendizados. A arte da capa colagem foi feita pelo guitarrista Markin e representa esta dualidade presente em nossa jornada. Devemos aceitar e reconhecer tanto a luz quanto as sombras como parte de um todo, e neste processo sem fim, enxergar a linha tênue necessária para viver pendendo sempre para o amor e luz.