23 anos de Infest: o começo da infestação incontrolável do Papa Roach na cena do nu metal

Considerado um clássico do nu metal, Infest catapultou a carreira do Papa Roach com vários singles explosivos

Arte: Tayna Viana / Downstage

No começo dos anos 2000, o nu metal ainda era um dos principais gêneros dentro da música pesada a bombar no mainstream. Bandas como Korn, Deftones e Limp Bizkit foram os precursores do estilo musical que tinha como uma de suas principais características a mistura de rap com rock. No dia 25 de abril de 2000, o Papa Roach lançou seu segundo trabalho, Infest, responsável por catapultar a carreira da banda com singles que se tornaram clássicos do grupo e do próprio nu metal, marcando a adolescência de toda uma geração.

Foto: Reprodução / Instagram @paparoach

 O primeiro trabalho por uma grande gravadora

O Papa Roach nasceu em Vacaville, Califórnia, em 1993, sendo formada pelo vocalista Jacob Shaddix, o guitarrista Jerry Horton, o baixista Will James (que seria substituído posteriormente por Tobin Esperance) e o baterista Dave Buckner.

A banda lançou seu primeiro álbum, Old Friends from Your Young Years (1997), de maneira independente e se auto produzindo. Após lançar mais dois Ep’s de forma independente, que venderam mais de 1000 cópias em seu primeiro mês, o grupo conseguiu chamar a atenção da Warner Music Group, que deu um suporte financeiro para a banda gravar uma demo promocional com cinco faixas.

O material não cativou o interesse da Warner, que acabou saindo de cena e permitindo que a Dreamworks Records assinasse com o Papa Roach.

A banda então lançou em abril de 2000, seu segundo álbum, o poderoso, pessoal e já clássico, Infest. O disco colocaria o Papa Roach no mainstream com singles explosivos como Last Resort, Broken Home, Between Angels and Insects e a canção Blood Brothers, que entraria para a trilha sonora do jogo de Playstation Tony Hawk’s Pro Skater 2.

O disco!

Infest é um disco de 52 minutos com 12 tracks inéditas que giram em torno da necessidade em ser ouvido e da alastração, infestação do manifesto que Papa Roach grita para que todos escutem. As temáticas de existencialismo, natureza humana, morte e abuso também são muito presentes nas composições, todas sendo assumidamente e propositalmente obscuras.

O álbum já começa com a música que recebe seu nome, Infest. Com uma introdução longa antecipando a bateria e a guitarra pesadas fazendo jus ao heavy metal, Jacoby Shaddix entra com os vocais puxados ao rap – um dos principais elementos ao longo do disco, e um dos principais também ao classificar a banda dentro do nu metal. É uma boa escolha de introdução que já vai direto ao ponto: Papa Roach quer que seu manifesto infeste a cabeça do ouvinte e revolucione o que eles sentem que precisa mudar: o governo, a mídia, ou até mesmo a sua família.

Last Resort é a segunda track do disco e é, também, a música mais icônica da banda em toda sua discografia – se mantendo até hoje. Foi a popularidade de Last Resort que fez com que, no ano seguinte do lançamento, Infest fosse certificado três vezes Platina pela Recording Industry Association of America (RIAA). A energia dos vocais, que em certos momentos da música vão do rap para screaming, os sussurros no meio da track que combinam com a letra pesada sobre suicídio fazendo com que o ouvinte se sinta dentro da cabeça do vocalista e os instrumentos energéticos, intensos – a guitarra de Jerry Horton é explosiva e cativante – justificam todo o sucesso da música e o motivo pelo qual ela fica na cabeça por tanto tempo após escutar.

Broken Home evidencia bastante o gênero musical que a banda está inserida. Várias características do nu metal aparecem nessa música, a referência um pouco grunge, os instrumentos pesados e rasgados do metal, os gritos do vocalista e o rap em diversos momentos da track A faixa contém uma atmosfera densa e uma letra muito pessoal, com foco na relação problemática de Jacob Shaddix com seu pai o sobre sua infância atormentada por problemas familiares.

Dead Cell, que vem em seguida, traz uma influência – seja intencional ou não – de outra banda importante na cena do gênero desde os anos 90, Rage Against the Machine, mas com o toque único do Papa Roach. Tanto na composição, na estrutura da música e na progressão dos instrumentos, puxados pra um metal mais pesado e hardcore. 

A 5ª track, Between Angels and Insects, abre com um riff de guitarra mais melódico e o vocal começa na mesma pegada, mas a bateria de Dave Buckner traz intensidade e energia pra uma música que já tem letra de peso. Uma crítica direta ao sistema, ao modelo de trabalho e a ganância. Os vocais raivosos e poderosos fazem com que essa narrativa criticando a sociedade, que se mantém ao longo de todo o álbum, seja mais impactante ainda.

I just wanna be heard, loud and clear are my words

Coming from within man, tell ‘em what you heard

It’s about a revolution

  Blood Brothers é rápida, frenética e o vocal não dá muitos momentos de respiro. A guitarra distorcida junto com a melodia é um toque interessante nessa track, que fala sobre a natureza humana e defender seus “irmãos de sangue” não importa o quê. A distorção na guitarra é um elemento muito presente nesse álbum – e dentro do nu metal em geral – tendo uma participação muito forte também na 7ª track, Revenge. A música usa sintetizadores comuns do hip hop junto aos vocais falados dentro do rap, e uma letra bem emotiva, pesada, sobre abuso doméstico e dependência emocional.

Snakes segue a mesma pegada que Revenge. Bem puxada para o hip hop, tanto nos sintetizadores como no vocal, refrões e ponte mais gritantes e energéticos. Em Never Enough, que vem em seguida, Jacoby canta com o registro mais baixo, colocando sua energia nos refrões e na ponte – que, na letra, são os ponto mais desesperadores da música, justificando essa mudança no tom da voz. Never enough, do I deserve what I got?

Binge traz uma estrutura parecida com a anterior, com um arpejo marcante entre o refrão e a ponte e uma composição trazendo mais uma temática intensa e dolorosa, dessa vez sobre vício.

A 11ª track, Thrown Away/Tight Rope, é a maior música do disco, com 9:37 minutos de duração. Ela traz uma característica interessante na qual Last Resort utilizou bastante, os sussurros cantados. Esse elemento traz uma sensação de delírio, como se o ouvinte estivesse escutando os pensamentos do vocalista – uma camada de imersão para a música. Voices in my head. E, além disso, a música é praticamente cortada ao meio a partir do minuto 4. Rompendo o ritmo frenético e pesado que o ouvinte estava acostumado ao longo de todo o álbum, ela desacelera e entra em um momento mais atmosférico, mais groovy, quase que puxado a um reggae com alguns ritmos sincopados.

Thrown Away/Tight Rope era, originalmente, a última música de Infest. É uma escolha interessante para fechar o disco, com a mudança de ritmo que destoa de todo o resto da tracklist, entregando um desfecho inusitado, inesperado. Porém, o álbum foi relançado em 2001 com mais uma track inédita e uma versão de Dead Cell ao vivo. A 12ª track, Legacy, acaba sendo uma conclusão mais adequada, mantendo o ritmo que o ouvinte está acostumado das últimas faixas e uma composição pertinente à toda a narrativa que a banda apresentou até agora – mostrando um dedo do meio para o governo e os formatos tradicionais que a sociedade espera que todos sigam.

I was here from the start

and I’ll be here in the end

O Legado de Infest

Infest se tornou um clássico não só na discografia do Papa Roach como dentro do nu metal. O álbum condensou todos os principais elementos do gênero e ainda abriu espaço para a banda inserir outros elementos do rock alternativo, algo que seria melhor explorado nos trabalhos posteriores. A obra ainda serviu como um desabafo do vocalista Jacob Shaddix, que pode expurgar alguns de seus demônios, principalmente os ligados a sua problemática infância, atormentada por problemas familiares. Essa sinceridade ajudou a criar uma conexão com os jovens da época, que enfrentavam problemas semelhantes e foram inspirados pela perseverança de Shaddix.

23 anos depois, Infest continua sendo um dos discos mais memoráveis dentro do metal alternativo. Com um som pesado, intenso e eletrizante, é difícil encontrar um entusiasta da cena que não conheça esse álbum. Papa Roach, em seu segundo lançamento, cumpriu o que prometeu desde a primeira track: espalhou seu manifesto de maneira rápida, agressiva e impossível de conter, como uma verdadeira infestação de insetos.