Do punk ao metal: A influência da cena nos filmes slashers

O impacto do cenário underground em um dos subgêneros mais persuasivos do terror, o slasher

Arte: Tayna Viana / Downstage

O gênero slasher compõe franquias clássicas do terror, como Pânico, Halloween, Sexta-Feira 13 e A Hora do Pesadelo. Além disso, ele tem voltado às tendências do cinema, visto que, nos últimos anos, plataformas de streaming e produtoras de filmes tem ampliado cada vez mais o espaço dessas longa-metragens. A Netflix, por exemplo, lançou, em 2021, a trilogia da Rua do Medo, inspirada em Acampamento Sinistro e outros filmes de terror famosos, e o remake de O Massacre da Serra Elétrica. A A24 também tem apostado nesse subgênero, suas produções deste ano deram destaque a ele, isso porque, dentre os lançamentos da produtora, quatro foram slashers. São eles: X – A Marca da Morte, Pearl, Men – Faces do Medo e Morte Morte Morte

A trilha sonora presente nesses filmes é, em geral, caótica e agitada para, assim, destacar todo o horror, sangue, violência e carnificina representados visualmente. Por isso, a escolha de utilizar a cena alternativa para trazer esse aspecto não é à toa, já que, nela, há diversos gêneros musicais que possuem as características rítmicas que os slashers tanto cultuam.

Nos clássicos

(Imagem: Reprodução / Paramount Pictures)

Não é de hoje que as músicas presentes em slashers são escolhidas dessa forma. A franquia Pânico deixou isso claro desde seu primeiro volume. Sua trilha sonora vai do ska-punk ao metal e é interessante como a sonoridade fica cada vez mais agressiva conforme a sequência vai chegando ao fim. É válido mencionar que ela anda lado-a-lado com o aspecto visual, que vai se tornando cada vez mais explícito na mesma frequência.

O post-grunge, dance-rock e o rock alternativo predominam nos longas, as bandas Birdbrain, Fuel, The Sounds, Locksley e Collective Soul marcam presença nas obras e trazem o ar que elas precisam. O punk também não fica de fora, Ida Maria, Less Than Jake e Alkaline Trio tem seus espaços. E para fechar com um tom ainda mais agressivo, há o metal. Bandas como Static-X e Finger Eleven representam esse tópico muito bem. 

A cena nos slashers atuais

(Imagem: Divulgação / Netflix)

Claro, essa influência não parou nos anos 2000. Filmes atuais e de streaming usam da mesma jogada. A sequência da Rua do Medo é um grande exemplo. O punk e o ska são os gêneros mais utilizados para a composição de sua trilha sonora. The Runaways, Buzzcocks e The Offspring entregam o lado mais fervoroso dela sem muito esforço.

No segundo filme da franquia, ele tem maior destaque. Mortes e correria em um acampamento propagam o caos e o ritmo assíduo do punk só destaca esse fator ainda mais. Por outro lado, o metal, o rock alternativo e o post-grunge também aparecem por aqui: Pixies, Garbage, Bush e White Zombie mostram a parte mais brutal dos filmes. Eles, inclusive, não se contém no quesito de violência e sangue, o que ressalta ainda mais essa sonoridade.

Os slashers na cena

O que nem todo mundo fala, é que essa influência é, de certa forma, mútua. Muitos artistas e bandas se inspiram no subgênero para a criação de videoclipes e conceitos para EPs e álbuns. 

Ice Nine Kills, no clipe de Assault & Batteries, mostra o lado sangrento e sombrio dos slashers, com direito a marretadas e a um banho de sangue. A música facilmente poderia estar em uma dessas trilhas sonoras de filmes de terror atuais. 

Bring Me The Horizon também, recentemente, trouxe um pouco do conceito para sua nova era. O clipe de DiE4u traz brutalidade com facadas, tiroteios e sanguinolência em meio a uma festa reclusa. Isso facilmente poderia ser uma cena de um slasher contemporâneo, ainda que a estética visual neon e intimista dele seja muito utilizada no cinema do horror.

Com o clipe de Tonight Is The Night I Die, Palaye Royale se ambientou bem ao clima de Halloween. Com uma festa de época temática, assassinatos, fogo e, claro, sangue, a banda conseguiu mostrar muito do clássico slasher em apenas três minutos. 

Esses e muitos outros artistas da cena atuais adotaram características do subgênero para conceituar suas melodias. Isso só mostra o impacto do terror na música ainda hoje. A cena, por sua vez, também possui esse poder. Ela e os slashers andam juntos e podem se unir quando bem quiserem, visto que mostram uma junção forte e certeira.

Os gêneros musicais alternativos podem ser tudo o que um filme de terror precisa para ficar mais convidativo, já em relação às composições musicais mais sombrias, o conceito horrorífico pode ser o que falta. São complementos que não falham e que podem se tornar uma coisa só, sem medo.