A banda de Boston, Massachusetts, formada originalmente por Spencer Charnas (vocal), Andrew Smith (baixo e backing vocals), Grant Newsted (bateria) e Jeremy Schwartz (Guitarra). Começaram nos anos 2000 sob o nome de Ice Nine como uma banda de ska pop punk, mudando o nome para Ice Nine Kills oficialmente em 2006, juntamente com seu primeiro álbum: Last Chance To Make Amends. 

Em 2008, logo em seguida, veio o EP The Burning, que já trazia as primeiras características do INK que conhecemos hoje, com aquele tom mais pop metalcore bem exagerado.

Em 2010, trouxeram sua segunda obra completa, o Safe Is Just a Shadow, mantendo os fatores musicais citados anteriormente, aumentando a qualidade sonora e a pós-produção, junto com a entrada do guitarrista e produtor Justin DeBlieck (JD), aumentando a complexidade das linhas de guitarra e trazendo um backing vocal berrado totalmente novo, seco, cru e desesperador.

Após muitos altos e baixos entre 2010 e 2014, incluindo a perda de contratos e da sua própria assessoria, a banda se reergue com a entrada de Shane Bisnett como baixista e com o primeiro álbum que moldaria o que conhecemos hoje. O Predator Becomes The Prey, com letras mórbidas somadas a refrões que levantam os mortos, com hooks de arrepiar, riffs e breakdowns simples, porém um arroz com feijão incrível e muito bem-feito. Ali, já tínhamos o embrião do que estava por vir em 2015 e nos anos seguintes. Com destaque para as músicas: The Power In Belief, Let’s Bury The Hatchet….In Your Head, The Fastest Way To a Girl’s Heart is Through Her Ribcage e Connect The Cuts. O álbum não é uma obra genial e revolucionária, mas tem sentimento, revela gostos pessoais dos integrantes, é bonito, assustador e definitivamente um passo na direção certa para os meninos de Boston.

Até essa época, a banda já havia feito tours abrindo para bandas grandes, como I See Stars, As I Lay Dying, A Day To Remember e até mesmo Paramore, mas com o grande sucesso do terceiro álbum da banda, em 2015, acabaram se tornando headliners do seu primeiro grande tour, tendo seus shows abertos por bandas como Get Scared e Upon This Dawning, seguido de seu primeiro single para o volume 6 do Pop Goes Punk.

EVERY TRICK IN THE BOOK (2015)

 Ainda em 2015, a banda conseguiu assinar um contrato com a gigante Fearless Records e, no final do mesmo ano, lançaram o grandioso Every Trick In The Book, o quarto álbum do grupo, que definiria padrões musicais e estéticos que os acompanhariam até os dias atuais, surgindo uma grande influência do metal sinfônico em suas músicas, o início de um storytelling que perambula – mesmo que de forma sutil – durante todo álbum, a estética teatral das letras, dos instrumentais e de toda a performance, além de um profundo conceito de ter algo da cultura popular por trás de todas as músicas do álbum. Esse último fato é crucial na nova fase da banda, porque com a chegada dessa obra, os músicos definiriam que todas as músicas dentro dela fossem baseadas em contos literários. Cada música, cada verso, cada nota, são uma explícita referência a literatura popular de horror e suspense.

O álbum começa com a Nature of the Beast, que em pouco segundos já nos apresenta toda a estética das músicas. Um início teatral e imersivo dentro da história de Animal Farm, por George Orwell – uma letra de revolta e um tom crescente durante toda a música.

Com um início eletrizante, a peteca de ETITB não cai, a trindade Communion of the Cursed, Bloodbath & Beyond e The Plot Stickens (baseadas nas obras: O Exorcista de William Peter Blatty, Drácula de Bram Stoker e Alive: The Story of the Andes Survivors de Piers Paul Read, respectivamente) elevam o nível dos chorus, riffs, breakdowns e de todo teatro e fantasia de uma forma absurda, com destaque para Communion, que possui um videoclipe classificado pela própria banda como um Remake reduzido de O Exorcista, com direito a um “breakdown de exorcismo” e berros intercalados de Spencer e de JD.

Já no meio da obra, temos uma demonstração de um lado mais focado na melodia vocal da banda, demonstrando a versatilidade dos musicistas, Star Crossed Enemies (Romeu e Julieta, de William Shakespeare) e Alice (Go Ask Alice, de Beatrice Sparks) trazem um lado mais sentimental dentro de sua estrutura, um trabalho bem mais focado nos vocais de Spencer, criando melodias que arrepiam a cada sílaba e que combinam com o fator de drama dos livros dessa sessão. Porém, para não esquecermos o que estamos ouvindo, temos a Me, Myself & Hyde (O Médico e o Monstro, de Robert Louis Stevenson) que divide a parte emocional do álbum da parte mais sombria dele, com um instrumental agressivo e uma letra pesada e pútrida, que consegue, junto a intro, nos manter ainda mais vidrados dentro desse mundo criado pelo INK e pelos livros nos quais eles se inspiraram.

The People in The Attic (Diário de Anne Frank, de Anne Frank) abre a reta final do álbum, tirando o público do mundo mais fantasioso e romancista, e os levando a uma realidade nua e crua do que o ser humano é capaz. Uma faixa ligada às raízes do metalcore clássico, com berros desesperadores e um refrão que, apesar de parecer inspirador e querer te fazer levitar, te joga no chão com força quando escutado, juntamente à letra, que retrata as vivências de Anne Frank em meio à perseguição e os terrores que sofreu durante a segunda guerra.

Tess-Timony (Tess Dos D’urbervilles, de Thomas Hardy) é uma música profunda, com uma sinergia entre um piano esperançoso e depressivo e o poderoso canto limpo de Spencer, finalizada com um solo espetacular e melódico, combinando perfeitamente com o tom da música, abrindo as portas para o grande fim do álbum.

Hell in Hallways (Carrie, de Stephen King) definitivamente não é o final feliz de algum conto fofo, mas sim, um fim destrutivo e revoltante, tanto pela história descrita quanto por ser o fim de uma grande jornada, fechada com chave de ouro.

O ETITB é cativante, obsceno, original e divertido de se escutar do começo ao fim, e a cada música que passa, mesmo que o ouvinte não tenha lido algumas ou todas as obras, ele consegue se sentir imerso nesses universos criados pela união entre a genialidade da banda e a literatura entrelaçada em cada faixa – e quando toda a   jornada dentro dessa obra é finalizada, fica um gosto agridoce pela experiência única dentro do álbum, mas que tenha acabado após uma série de músicas profundas e surpreendentes que, para os fãs da banda na época, seria saciado em 2018.

E 3 anos após o sucesso inegável de ETITB, em 5 de outubro de 2018, a banda lança seu quinto e mais decisivo álbum de todos, o The Silver Scream.

THE SILVER SCREAM (2018-2019)

Com uma proposta parecida com a de ETITB, pegando filmes de terror e os transformando em obras primas musicais e até mesmo teatrais, o álbum já começa mostrando como será o tom principal da obra.

American Nightmare (A hora do Pesadelo, de Wes Craven) traz um peso nunca visto vindo da banda, com riffs elaborados e complexos, uma bateria cheia e poderosa, um vocal dividido entre a voz limpa e angelical de Spencer com os berros assustadores do mesmo e de seu guitarrista, e os samples e gravações de vozes e cantigas que são um show à parte, já abrindo caminho para a trindade divina dos Slashers dos anos 80, junto com Thank God It’s Friday ( Sexta-Feira 13, de Sean S. Cunningham) e Stabbing in The Dark (Halloween, de John Carpenter) que acompanham American Nightmare em suas características estruturais, com destaque para toda parte teatral por trás da atmosfera das músicas – que conseguem hipnotizar e levar até pessoas que não são fãs de filmes de terror para a tela do cinema imaginário criado pelo INK.

Savages (Massacre da Serra Elétrica, de Tobe Hooper) demonstra um lado ainda não tão explorado pela banda. Uma música explicitamente feita para grandes arenas, com um chorus que gruda facilmente na cabeça, um instrumental mais simples e voltado para um metal de sellout e um tom de revolta e raiva por trás de sua letra, demonstrando as indignações da família de canibais, Sawyer, a respeito do seu isolamento da sociedade, e contando a história da matança protagonizada por Leatherface (vilão principal da saga), seguido por The Jig Is Up (Jogos Mortais, de James Wan) que inicia o meio do álbum, abrindo a oportunidade de mostrar um lado mais sensível do Silver Scream.

Grave Mistake (O Corvo, de Alex Proyas) traz uma letra e um feeling melancólico porém lindo, com guitarras extremamente melódicas, hooks e um chorus com muito feeling, e um solo sentimental. A música é, definitivamente, uma das melhores da banda, deixando explícito todo o sentimento por trás de uma letra triste, que se apoia na história da morte do ator Brandon Lee – falecido no set do filme após um acidente envolvendo balas de festim -, e deixando uma linda homenagem dentro do mundo da música, que toca até os Pyschos mais durões

A sétima música da obra, Rocking the Boat (Tubarão, de Steven Spielberg) segue na mesma direção das 3 músicas iniciais do álbum, com um destaque para o breakdown cheio estáticas de rádio e uma guitarra junto com a bateria que acompanham o ritmo da música tema do filme

Não diferente, Enjoy Your Slay (O Iluminado, de Stanley Kubrick), investe muito no fator teatral e lírico, citando de forma sutil e metafórica os horríveis acontecimentos no Hotel Overlook, acompanhado da participação especial dos vocais do próprio neto do diretor do filme, Sam Kubrick, da banda Shields.

Freak Flag (Rejeitados Pelo Diabo, de Rob Zombie) e The World In My Hands (Edward Mãos de Tesoura, de Tim Burton) miram na mesma proposta de SAVAGES. São músicas muito mais acessíveis e fáceis de ouvir para a grande massa não acostumada ainda com berros e breakdowns de grande parte das bandas de metalcore atuais, mas que são capazes de manter a força dentro da história e das letras, não decepcionando quando o assunto são refrões de arrepiar cada pêlo de cada corpo e a vontade de pular a cada hook.

Abrindo a reta final do The Silver Scream, Merry Axe-mas (Natal Sangrento, de Charles E. Sellier Jr.) deixa de lado os filmes mainstream do terror e mostra o gosto duvidoso para filmes trash do grupo, combinando com a estrutura da música que se consolida como a mais pesada do SS, quase que inteiramente berrada, com um breakdown lento e insano, um solo técnico e desesperador e a quebra de qualquer vontade de conhecer o Papai Noel descrito na letra.

Já em Love Bites (Um Lobisomem Americano em Londres, de John Landis) traz uma letra romântica e mórbida, com sintetizadores inspirados nos anos 80 e uma vibe completamente voltada para as baladas. Calma, com um foco gigante na voz de Spencer e na de Chelsea Talmadge (Stranger Things), que fazem um dueto com extrema química, trazendo lágrimas aos olhos de qualquer um que escute.

It Is The End ( It, a Coisa, de Stephen King) finaliza de forma magistral e épica a jornada percorrida dentro das trilhas melódicas de The Silver Scream, resgatando as origens de ska pop punk da banda, com participações de integrantes do Less Than Jake e do Fenix TX, a música consegue retratar a história do palhaço Pennywise de uma forma peculiar, o sentimento de estar num circo permanece durante todos os quase 5 minutos da música. Entretanto, a banda faz questão de lembrar o que estamos ouvindo, e em meio a tantos trompetes e buzinas alegres, temos o destruidor som das guitarras dropadas e dos pedais duplos da bateria, combinado com berros chegando a níveis de bandas de deathcore, trazendo o fim do álbum, que não decepciona em sua versão deluxe lançada em 2019.

Trazendo mais 20 minutos de conteúdo, sendo: Your Number’s Up (Pânico, de Wes Craven), um cover de Thriller, a versão ao vivo de Grave Mistake e 3 versões acústicas com participações especiais, incluindo a do Vocalista do Trivium, Matt Heafy.

The Silver Scream é uma jornada viciante e macabra pelos filmes de terror clássicos. É carismático, extremamente bem-feito, e é diferente de qualquer coisa vista dentro da cena do metalcore. Um álbum que prende não apenas os fãs do gênero, mas também os fãs de horror, que ficaram ainda mais alegres com todo o marketing em volta do lançamento da obra.

5 Videoclipes foram lançados em forma de storytelling (American Nightmare, Thank God Its Friday, A Grave Mistake, Stabbing In The Dark e It Is The End), que contam a história de Spencer Charnas e seu psicólogo, que investiga os supostos sonhos do vocalista ligados a assassinatos que realmente aconteceram. Merry Axe-mas também ganhou um clipe extra, sendo canônico, mas feito apenas para complementar o backstory do protagonista.

Após o lançamento do The SIlver Scream, a banda se depara com sua formação mantida até hoje, com: Spencer Charnas (Vocal), Ricky Armellino (Guitarra rítmica e backing vocals), Joe Occhiuti (Baixo), Dan Sugarman (Guitarra solo) e Patrick Galante (Bateria) e com a trágica morte de seu ex-baixista Shane Bisnett, que teve uma camiseta lançada em sua homenagem na loja da banda – e 100% dos fundos arrecadados com as vendas doados à família do baixista.

THE SILVER SCREAM 2: WELCOME TO HORRORWOOD (2021-2022)

Assim como todo filme de terror tem sua sequência ainda maior e com melhor produção, a parte 2 de The Silver Scream, The Silver Scream 2: Welcome to Horrorwood, apenas aumenta todos os aspectos positivos vistos no álbum anterior, tendo como abertura um interlúdio (Opening Night…) e a única música do álbum que não se apoia em nenhuma obra cinematográfica (Welcome to Horrorwood) que nos recebe de forma excepcional ao novo mundo da banda, com um tom extremamente irônico, um sentimento de alegria e medo acompanhado à guitarra estridente de Dan, finalizando a música com um solo muito bem escrito – deixando claro a grande atenção que vai ser dada ao instrumental desse álbum.

A Rash Decision (Cabana Infernal, de Eli Roth) e Assault & Batteries (Brinquedo Assassino, de Tom Holland) abrem alas para as inspirações cinematográficas, mantendo o tom alegre e refrões melódicos, misturado com viradas menores, letras carnicentas e um instrumental rápido e técnico, dando muito destaque para a guitarra solo.

O duo Shower Scene (Psicose, de Alfred Hitchcock) e Rainy Day (Resident Evil, de Paul W. S. Anderson) demonstram o lado menos focado no instrumental de TSS2WTH e destacam o vocal limpo extremamente bem trabalho e evoluído de Spencer, intercalados pela brutal Funeral Derangements (Cemitério Maldito, de Stephen king), que marca a segunda aparição do rei do horror. Uma música com um solo marcante, berros e baterias brutais e um refrão grandioso, representando muito bem o filme de King, falando da esperança de trazer alguém de volta à vida, mas as consequências permanentes causadas por tal decisão.

Começando o lado mais experimental do INK, Hip to Be Scared (Psicopata Americano, de Mary Harron), o lead single do álbum, traz não apenas a participação de Jacoby Shaddix (Papa Roach), mas um breakdown new wave e um diálogo parodiado do próprio filme, sendo um dos pontos altos do meio da obra.

Take Your Pick (Dia dos Namorados Sangrento, de George Mihalka) não fica pra trás em sua peculiaridade. Sendo a música mais pesada do álbum, ela conta com a participação de Corpsegrinder (Cannibal Corpse), que deixa sua marca, trazendo elementos de death metal e deathcore, capaz de deixar qualquer alma penada desavisada completamente assustada e impressionada com os gritos mais graves do vocalista.

The Box (Hellraiser, de Clive Barker) demonstra realmente o prazer e a dor em sua composição, com os 2 pés dentro das vertentes mais clássicas do metalcore e a participação de Ryan Kirby (Fit for a King) e de Brandon Saller (Atreyu), a música é a melhor representação possível do que bandas como: Killswitch Engage, All That Remains e até mesmo o próprio Atreyu se apoiam musicalmente. Harmonias de guitarra, um refrão que gruda na cabeça na primeira escutada e um breakdown de cair o queixo, deixando a porta aberta para a reta final do álbum.

F.L.Y. (A Mosca, de David Cronenberg) sacia aquela saudade das baladas da banda, mesmo ainda que riffada, a música é fácil de ouvir até para não fãs de metal, com uma levada mais melódica e a participação de Buddy Nielsen (Senses Fail), definitivamente não é inovadora, mas mata a saudade de músicas como The World In My Hands, do primeiro álbum.

Com grande inspiração em bandas de metal industrial, como Rammstein,  Wurst Vacation (O Albergue, de Eli Roth) traz gravações em alemão, um instrumental que se mantém durante boa parte da música e uma quebra de expectativa para aqueles que esperavam um fim menos caótico, juntamente com Ex-Mørtis (Uma noite Alucinante, de Sam Raimi) que traz uma vibe de música teatral dos anos 80, cheia de trompetes, elementos de percussão e vozes demoníacas dentro de um coral. Tudo entrelaçado com um ritmo diferente para músicas de metal, terminando com um fade out para a intro de zumbidos de abelhas, piano calmo e voz limpa de Farewell II Flesh (Candyman, de Clive Barker) – uma finalização mais que perfeita para a obra, um tom épico, ao pé da letra, uma guitarra neoclássica, um refrão inspirador, mas mesmo assim com um tom decadente, de dor, representando a violência sofrida no passado do vilão principal da obra que, com tal homenagem, não precisa ser citado 5 vezes para aparecer em seu espelho.

TSS2WTH é a última criação de INK até então, tirando sua música em parceria com o jogo PUBG:Mobile: Hunting Season e o videoclipe para Shower Scene.

Mas esse último álbum traz uma sequência digna de aplausos em pé nos créditos, com o medo de ser mais do mesmo ou algo que não cativasse tanto quanto seu antecessor. As pessoas receberam uma bela surpresa no halloween de 2021, algo que mesmo sendo uma parte 2, (tanto para o álbum anterior quanto para os videoclipes e storytelling que se mantém), trouxe inovação e uma cara nova. É experimental e até progressivo, conseguindo se aprofundar ainda mais na mente criativa e perturbada dos integrantes que confirmaram uma versão deluxe, mas nada relacionado a uma parte 3. Entretanto, é impossível não ficar ansioso com o que o quinteto pode tirar de dentro das mangas…. ou do caixão.