O Florescer de Boston Manor em Datura
Dividido em duas partes, quarto álbum da banda de Blackpool reflete grande maturidade musical em sua primeira fase
Para aqueles que ainda não conhecem Boston Manor, pode-se dizer que Datura traz consigo o que há de melhor no grupo: sua essência. Para os fãs, esse é mais um trabalho onde o quinteto britânico superou a si mesmo.
Intencionalmente conceitual, a primeira parte de Datura nos leva em uma viagem catártica em apenas 7 faixas. A faixa introdutória, Datura (Dusk), é responsável por criar a atmosfera perfeita para os acordes de guitarra que dão início a Floodlights on the Square; a sequência das três primeiras músicas é praticamente como o desabrochar da flor que dá nome ao disco: à medida que os minutos se passam, é possível ver cada vez mais a alma da banda, brutalmente honesta e exposta.
Os singles Foxglove e Passenger foram disponibilizados antes do lançamento do álbum, no entanto, ambas faixas soam completamente diferentes se ouvidas como parte de uma história a ser contada. Passenger traz novos elementos em sua produção, resultando em uma combinação muito bem executada de sintetizadores com guitarras limpas e consistentes.
Apesar de até aqui todas as expectativas já terem sido superadas, Crocus – o último single lançado horas antes da estreia do disco – consegue ser o ápice de Datura, escancarando a fome de Boston Manor em se consagrar como a maior banda alternativa da atualidade. Desde a produção visual do clipe de Crocus é possível notar a evolução musical do grupo, que nos passa a mensagem de que os garotos de Blackpool agora já não são mais tão garotos assim e estão dispostos a conquistar o mundo.
O interlúdio Shelter From The Rain chega para dar tempo ao ouvinte de assimilar a jornada até então. A faixa instrumental revela sintetizadores futuristas mesclados ao barulho da chuva e de pessoas conversando; se fecharmos os olhos, é possível nos imaginarmos andando pelas ruas e de fato vivendo aquele momento.
Inertia encerra o álbum com chave de ouro em uma versão estendida de seis minutos, que traduz de maneira sincera e vulnerável o amor de Henry Cox por sua esposa. Contrastando com o que foi mostrado durante toda a obra, Inertia carrega um eu lírico poderoso, além de um solo de guitarra de tirar o fôlego. A faixa parece acabar, mas na verdade introduz apenas um intervalo de silêncio que então dá espaço a novos samples, indo de encontro ao barulho de pássaros cantando a fim de nos mostrar que o dia já nasceu e que o ciclo finalmente está completo.
Esse é o primeiro trabalho conceitual do Boston Manor, criado para ser uma jornada que começa ao entardecer (Dusk) e termina ao amanhecer (Dawn). Mas esse não é o fim. Datura reflete um lado extremamente maduro de cinco jovens que estão apenas começando a conquistar o mundo da música, mesmo com muitas dúvidas expostas ao longo de suas composições.
Para fãs de: Trash Boat, Citizen e Movements