Em Sore Thumb, Oso Oso soa cru, divertido e inovador

Novo álbum do projeto de Jade Lilitri é um registro semi-acidental
sobre a beleza da amizade e dos processos criativos

Capa: Triple Crown Records

O processo de gravação de um disco costuma ser algo metódico e regrado. As bandas precisam partir de composições prévias para criar demos e arranjos, gravar instrumentos separadamente, mixar, masterizar, além de muitas outras decisões criativas que podem levar meses. 

Ao ouvir os primeiros acordes de Sore Thumb, do Oso Oso, você vai perceber que esse não é um desses discos. O quarto álbum da banda dá sequência a trabalhos elogiados pela crítica e público, e chegou às plataformas de streaming de um dia para o outro, sem nenhum aviso prévio. 

Apesar de diferente dos seus antecessores, o disco não deve em nada a eles, e entrega uma banda espontânea e inventiva. E como tudo acontece por uma razão, esse é um daqueles trabalhos cuja história está diretamente ligada à sonoridade.

Após quase um ano isolado durante a pandemia, Jade Lilitri resolveu preparar as demos para o próximo disco do Oso Oso. Para isso, no início de 2021, convocou seu primo e melhor amigo Tavish Maloney, e propôs que registrassem as ideias iniciais, ainda de forma bastante livre e fluida. 

Foto: Nick Karp

Durante o inverno novaiorquino, os dois passaram uma temporada visitando o Estúdio Two Worlds Recording, fazendo gravações e trocando ideias com o produtor Billy Mannion. O clima entre ambos era leve e animado, regado a drogas recreativas e partidas de videogame, entre ideias de riffs, letras e melodias. 

Jade não podia esperar que aqueles seriam os últimos dias que passariam tão próximos. Pouco mais de um mês depois, Tavish acabou falecendo e deixando incompletos esses e muitos outros planos. 

Em um primeiro momento, Jade se afastou e respeitou o próprio luto. Depois de quase um ano distante da música, ele revisitou as fitas que havia feito com seu primo para verificar o que poderia ser aproveitado, e também como forma de homenageá-lo. O que ele ouviu foi exatamente o conjunto de doze faixas que se tornou o Sore Thumb.

O álbum não teve nenhum retrabalho, a não ser a mixagem e adição de um ou outro detalhe. É por isso que ele pode soar menos “refinado” que seus antecessores, trazendo canções em suas versões mais cruas e orgânicas.

As gravações de Lilitri e Maroney partem da sonoridade emo, que é o fio condutor da carreira do Oso Oso, mas também se permitem passear livremente por gêneros como o indie rock, o rock alternativo noventista e o folk. Em tudo, eles utilizam elementos que reforçam a identidade da banda, tornando o repertório diversificado e único. 

É por isso que uma canção como Pensacola soa estranhamente como uma mistura de Oasis e Regina Spektor, e Give a Fork lembra Death Cab For Cutie. Ao mesmo tempo, para fazer jus às raízes, Computer Exploder e Sunnyside representam facetas diferentes do midwest emo.

Foto: Nick Karp

As letras de Jade, por sua vez, falam sobre um personagem tentando correr atrás da felicidade. Para isso, ele expõe alguns de seus excessos e canta sobre os desencantos de uma vida comum, e é na maioria das vezes divertido.

Por falar nisso, a faceta bem-humorada é algo que chama a atenção, especialmente em Father Tracy e Because I Want To. Entre as faixas, inclusive, é possível encontrar brincadeiras que a dupla fazia durante as gravações, reforçando o clima e a sinergia entre os dois. 

Carousel, que conta com alguns vocais de Tavish, pode até soar como uma despedida dramática devido ao ar melancólico, que vai de encontro com todo o pano de fundo do álbum. Apesar disso, é uma canção linda, e à altura de fechar um tracklist de alto nível como esse.

Embora seja menos polido, Sore Thumb diz muito sobre a beleza de grandes encontros como os de Jade e Tavish, e tudo o que eles podem proporcionar. O Oso Oso acerta pela sensibilidade de saber como externar esse momento e eternizá-lo em sua discografia. Afinal, tudo acontece por uma razão.

Para fãs de: Tigers Jaw, The Hotelier e Slaughter Beach, Dog