Glow On: Turnstile busca o futuro do hardcore olhando para o passado

Com diversos elementos de décadas passadas, Glow On mostra que é possível fazer hardcore sem pagar de machão 

Imagem: Reprodução / Roadrunner Records

Por Bruno Porfirio

Lançado no dia 27 de agosto desse ano e com 15 faixas, Glow On é o terceiro álbum de estúdio do Turnstile, banda de hardcore fundada em 2010 em Baltimore, Maryland, nos EUA. Desde o começo, o grupo busca trazer uma sonoridade que seja diferente do habitual do gênero, que musicalmente falando, é bem conservador.

Em seu disco de estreia, o Non Stop Feeling, de 2016, a banda já trazia uma cara mais estranha para o estilo, como uma mudança repentina em Drop, uma música a la Descendents com Blue By You. Em seu segundo full lenght, Time & Space, de 2018, essa veia mais esquisita ainda está se mostra presente, como o interlúdio Bomb, umas palminhas em Can’t Get Away e etc — e com Glow On, a coisa se acentua. 

O álbum abre com as faixas Mystery e Blackout, que já trazem uma estética noventista e a primeira até com um sintetizador meio rock progressivo. Já a segunda tem um instrumento de percussão para dar uma quebrada em meio a tanto peso; Don’t Play começa como se fosse um clássico do Bad Brains e descamba para algo dançante e um pouco torto; Underwater Boi poderia estar em um disco do Terno Rei ou em um disco dos anos 80 se não fosse as partes mais sujas.

Holiday é aquela música perfeita para abrir um show de hardcore e ver um monte de gente correndo pelo palco e dando stage dives altíssimos. Humanoid / Shake it up tem uma cara de faixa feita para preencher o álbum, mesmo com a segunda parte sendo muito estereótipo do hardcore da costa leste americana nos anos 90. Endless é uma faixa que poderia entregar mais com uns “iê iê iê”. Fly Again é aquela música que entra na sua cabeça e demora a sair. Ela lembra uma mistura de grunge com os elementos característicos do Turnstile.

(Imagem: Reprodução / Spotify)

Alien love call é a balada do disco – algo praticamente inexistente no hardcore viril e cheio de testosterona – se não fosse o peso da bateria, poderia facilmente tocar em um consultório odontológico. Wild Wrld começa com aquela expectativa crescente da música com um elementos eletrônicos de percussão dando uma diferenciada e é mais uma faixa onde os fãs vão se jogar do palco como se não houvesse amanhã e cantar com o vocalista a plenos pulmões. Dance Off traz aquela vibe experimental e uma guitarra sendo tocada no estilo Tom Morello.

Mas é em New Heart Design que acontece a quebra de expectativa do álbum: imagine uma banda de hardcore se encontrando com os Titãs no começo dos anos 80 — é essa a impressão que a faixa deixa e que muitos fãs da banda estão adorando-a. T.L.C (Turnstile Love Connection) é o maior clichê do hardcore no álbum, é curta, rápida e com vocais feitos para o vocalista dar o microfone para o público. No Surprise é um interlúdio meio dream pop e acaba abruptamente para dar sequência na última faixa do disco a Lonely Dezires, que assim como a Alien Call Love conta com participação do cantor e produtor Blood Orange

Turnstile segue sendo uma banda de hardcore, mas parece ter perdido o medo de experimentar novos elementos, ritmos e estéticas diferentes, sejam elas de décadas passadas, ou algo extremamente em voga em 2021. Com essas mudanças e os vídeos lançados na internet para a promoção do álbum, muitas pessoas vão chegar e se apaixonar pela banda. 

Para fãs de: Title Fight, Turnover e Such Gold