Como a Odeon tornou-se uma das melhores surpresas de 2021

Banda fecha o ano com Vans Musicians Wanted, feat com Lucas Silveira e mais de 10 mil ouvintes mensais no Spotify

Arte: Carol Moraes / Downstage

Surgindo diretamente da conexão Rio-São Paulo, não é equivocado dizer que a Odeon é uma das melhores surpresas de 2021. A banda formada por Marcelo Braga (vocais), Marvin Tabosa (bateria), André Casagrande (baixo) e Lucas Moscardini (guitarra) iniciou as atividades bem no meio da pandemia já com o pé na porta carregando uma sonoridade surpreendente e com uma proposta bem autêntica tanto no cenário underground quanto na música brasileira.

Há quem acompanhe o grupo há muito mais tempo, mas o que de fato fez com que as atenções fossem voltadas para a Odeon foi o single dream, lançado em agosto que também conta com a participação especial de Lucas Silveira. Até então, a banda explorava o uso da língua inglesa em suas composições, algo que foi sempre muito natural desde a primeira reunião criativa do grupo. Já em game, a última faixa liberada ao público, além de expor ainda mais suas influências do metal alternativo, o grupo ainda opta por fechar o ano num single 100% cantado em português.

De feats inesperados, sonoridade experimental, clipes divertidos, seleção na Vans Musicians Wanted e finalizando numa estética que serve como cereja do bolo à essa celebração da “mistureba”, a Odeon mostra que chegou para dar uma nova cara a 2021 — além de deixar bem claro que ainda têm muito o que mostrar.

Sonoridade camaleão

Quem ouve o som da Odeon desde o primeiro lançamento em 2020, entendeu o rumo que os caras iam tomar com o passar do tempo. Mas para quem chegou junto com o último lançamento da banda, o single game, não faz ideia de todo o castelo que o grupo já construiu em menos de dois anos. O quarteto que já há tempos tem contato com o metal alternativo, sempre caminhando com muita qualidade e técnica dentro dos trabalhos, agora experimentam de todas as formas possíveis, pensando em se tornarem referência de experimentação e originalidade no cenário underground brasileiro. “A gente sempre buscou inovar nossos estilos, e a nossa maneira de fazer isso foi escutar outros pra implementar no rock e no metal, e aí foi o início dessa misturada toda”, inicia o vocalista Marcelo em entrevista exclusiva ao Downstage.

Marcelo Braga, Lucas Moscardini, Andre Casagrande e Marvin Tabosa (Foto: Murilo Amancio)

Com faixas que é nitidamente possível dançar uma salsa, ao mesmo tempo que o headbang vem com força, já fica evidente que o som da Odeon não é nada comum. Atrelando elementos clássicos do metal, como levadas mais rápidas e densas em alguns pontos, o quarteto disponibiliza com maestria a possibilidade do ouvinte se identificar com quantas nuances quiser dentro do som, e o melhor, sem perder a essência adquirida por anos. “Foi nessa caminhada de descobrir nossa sonoridade que a gente abraçou essa ideia”, ressalta sobre fazer essa mistura de sonoridades. “Tem música nova que tem pagode, piseiro… Tem muita coisa que a gente tenta incrementar na nossa sonoridade”, comenta Marcelo. Ainda passeando pela breve discografia da banda, é possível encontrar elementos de funk, pop, além da já citada salsa, o que afirma com todas as letras a mensagem que a banda quer passar.

A arte pela arte

Vindo do grego ᾠδεῖον – óideîon -, Odeon traz logo no nome o propósito da banda como unidade: expressar arte. Isso explica o formato de lançamentos que o quarteto adotou desde o início para dividir suas músicas com o público, por meio de singles.

(Foto: Murilo Amancio)

“Ficaria difícil montar um álbum (algo com conceito, história, começo meio e fim) no começo”, revela André. “Queríamos experimentar. Temos um ano e meio de banda, não vamo pôr amarras.”

Marcelinho complementa, explicando a origem e a referência do nome da banda ao teatro Odeon, um lugar “onde as pessoas iam expressar arte.”

“O single casou muito bem pra gente desde o ano passado porque conseguimos ousar e fazer coisas malucas”, explica Andre. “Lançando em singles você consegue ter uma resposta um pouco mais rápida e escalar melhor, essa foi nossa estratégia até então.”

Além disso, a banda ainda observou o comportamento da geração do streaming atualmente e a recepção diante de trabalhos mais longos, como um EP ou álbum. “A informação tá muito rápida, se a gente lança um disco experimental demais seria um tiro no pé e ele seria mal consumido”, comenta Marvin. “Com os singles deu tempo de deixar a galera com água na boca, isso foi o mais legal.”

E falando em público, apesar de ter suas referências do metal e do rock, a Odeon deixa bem claro que o intuito é agradar a maior parcela de pessoas possível. “A gente tem o objetivo de ser a banda que toca no churrasco em que o tio pergunta ‘que negócio é esse? que maneiro!’”, brinca Marcelinho. “No Rio de Janeiro a galera gosta de funk (e a gente também), então a gente mistura, tem várias pessoas que não são da bolha do rock e tão consumindo nosso som. O objetivo que tá na nossa cabeça tá indo de um jeito muito legal.”

Marvin complementa, relembrando uma ocasião em que uma das músicas da banda chegou a tocar em uma academia do Rio de Janeiro. “Não é algo muito pesado e nem muito leve, então toca em qualquer lugar”, revela. “Vem aquele questionamento: será que se a gente fizesse algo mais pesado, a gente tocaria numa academia? Não negamos a nossa essência; não fugimos dela, mas conseguimos estar em cada buraquinho que achamos.”

“É a banda do churrasco!”, brinca o vocalista. “Cada música fala de uma forma diferente, a curto prazo não é bom em questão de pegar o público certo, mas a longo prazo eu diria que a gente tá fazendo algo autêntico: é válido, a gente tá construindo algo que vale a pena todo esse esforço.”

Próximos passos

Para 2022, os fãs podem ficar tranquilos: há ainda muito o que ouvir (e falar) da Odeon. Mesmo adotando um formato de singles para o lançamento do grupo, o ano que vem está reservado para a banda experimentar algo mais conceitual, como um EP. Estando sempre “a quatro músicas a frente”, ou seja, sempre com um material de gaveta, não é equivocado dizer que há material o suficiente para ser explorado num trabalho full.

Além disso, o quarteto já está conversando sobre subir nos palcos no segundo semestre de 2022. “É minha primeira banda como frontman e a gente tá há quase dois anos nessa de só internet; é uma parada que eu fico me perguntando, dá um friozinho na barriga legal”, revela Marcelinho quando questionado sobre as apresentações ao vivo.

(Foto: Murilo Amancio)

“A gente começou ao contrário: não começamos fazendo show, começamos na internet”, complementa Marvin. “É meio estranho, eu tô curioso pra saber como vai ser tocar. Todo mundo aqui não toca há anos e não toca junto faz tempo. Dois anos sem palco pra nada e agora a gente quer palco pra tudo [risos].”

Ainda falando em shows, André promete um verdadeiro espetáculo da Odeon: “São músicas complexas, não dá pra ser algo ‘vamo aí’. Tem uma porrada de efeitos”, explica. “A gente quer montar um show legal, uma experiência visual maneira e pra isso a gente precisa de muito equipamento. Aé a gente estruturar vamos ter que esperar um pouquinho.”

Bora pro game!

No último dia 10, a banda disponibilizou nas plataformas o novo e já citado single game, onde diferente dos outros já lançados, chega com o lírico cantado em português com uma letra que coloca o ouvinte dentro do jogo que a banda propõe. No mesmo sentido da sonoridade, a escolha pela maioria das músicas serem cantadas em inglês, foi basicamente no acaso da vontade de apenas fazer. “O mais legal da gente é que a gente só faz”, afirma o baterista Marvin. “tem a estratégia do marketing, clipe, mas esse tipo de coisa a gente testa porque a gente não deve nada a ninguém. se der vontade, a gente faz”, fato que faz com quem toda a estética por trás da banda seja tão orgânica, e trabalhada ao mesmo tempo. 

Essa mescla de tons, cores, sentidos e direcionamentos, é, com certeza, a maior característica da Odeon, banda que chega para quebrar paradigmas e, claro, criar algo grandioso dentro da nossa querida bolha do undergound, dando aquela furadinha, e alcançando ouvintes e adeptos de todas as esferas musicais possíveis com essa troca de cores cintilantes produzidas pelo seu som, algo que o quarteto preza e fica feliz de poder se orgulhar. “Eu brinco que a gente tem o objetivo de ser a banda que toca no churrasco e o tio dizer “que negócio é esse? que maneiro”, brinca Marcelo. “Tivemos relatos de que uma música nossa tocou na academia aqui do rio. não é algo muito pesado e nem muito leve, então toca em qualquer lugar”, se orgulha Marvin. “É a banda do churrasco!”, Marcelo finaliza com risadas.

Cada single é uma nova surpresa. O quarteto que se divide por Rio e São Paulo, trilha seu caminho da maneira mais original possível, respeita sua essência, e escala cada dia mais dentro do mundo da música. Você que ainda não deu o play, corre!