Surra fala sobre inspirações, turnê e novidades

O Downstage conversou com a banda Surra sobre o EP Sempre Seremos Culpados e o final de 2022

Arte: Ana Beatriz / Downstage

A banda de thrash punk Surra, é um dos nomes mais ativos e relevantes do cenário underground atual. Com seu instrumental rápido e agressivo, acompanhado de letras politizadas e repletas de críticas sociais, a banda da baixada Santista segue colocando o dedo na ferida e colocando seus ouvintes para pensar e contestar.

Imagem: Cortesia @surrathrashpunk

Com seu mais recente lançamento, o EP Sempre Seremos Culpados, que assim como seus antecessores conta com quatro músicas de até no máximo três minutos e meio de duração, mais uma vez faz um alerta em suas composições. Em quase todas as músicas, o instrumental segue pesado como sempre, mas o vocalista canta mais como se fosse uma conversa com o ouvinte, tentando desabafar os sentimentos sobre o atual cenário do país. Segundo Leeo, nesse trabalho decidiram revisitar algumas composições pré-pandemia que não estavam terminadas e mantiveram praticamente toda a estrutura, refazendo os riffs e pontes em casa. Tiveram como inspiração o imperialismo norte americano, violência policial, filmes e séries mórbidos com finais horríveis, problemas pessoais e falta de propósito na vida, sendo o terceiro e último EP da série ‘Culpados’.

O EP

Mísseis Democráticos abre o EP com um riff marcante seguido de uma letra carregada de críticas aos conflitos causados por países de primeiro mundo e de como eles conseguem convencer as pessoas de que seus atos são heróicos tal qual como se vivêssemos em uma produção hollywoodiana. Destaque para a parte final da música que é cantada em Esloveno (segundo um tradutor confiável) e é seguida por um solo frenético capaz de deixar o ouvinte admirado.

Em Sempre seremos culpados (música que leva o nome do EP)Surra vem com um instrumental agressivo e um vocal menos gritado, mas que nos passa uma mensagem carregada de questionamentos sobre como o trabalhador sempre será culpado e descartável pela burguesia e ainda assim sendo mal remunerado, tendo uma “vida curta e morte solitária”

A música perfeita para entrar em um mosh pit, Joga No Meio Da Rua é rápida, cadenciada e violenta. E acima de tudo é uma crítica a violência policial desnecessária que (infelizmente) vem se tornando cada vez mais comum em nossa sociedade. A música fala também do medo diário do cidadão de classe média baixa de ser tratado como um marginal por essas figuras de autoridade. Contendo outro solo de destaque no EP, essa é uma faixa eletrizante e que deve ser vista nos setlists de futuros shows.

Em A vida cobra, a ultima faixa do EP, com uma intro de voz “demoníaca” nos traz uma mensagem muito clara que a falta de organização das pessoas contra o “inimigo” causou a vitória dele e assim, a vida nos está cobrando até 2022, onde muitos brasileiros sem ver saída, e muitas vezes arrependidos pela sua escolha buscam chegar à caixa de remédios pra tentar fugir dos problemas vividos atualmente pela classe média/baixa.

Um segundo semestre de grandes emoções

Imagem: cortesia de @surrathrashpunk

O Surra se apresentou na edição de 2022 do Rock in Rio, os dos shows mais importantes da banda no segundo semestre. O público do show foi o maior na carreira da banda, superando o do Araraquara Rock, que é um festival bem grande no interior de São Paulo. “Deu um friozinho na barriga, mas no fim passou voando e nem deu tempo de levar esse nervosismo para o palco”, conta Victor.

Por conta do setlist reduzido, eles pensaram em um repertório só com as músicas mais fortes da banda, sem nenhuma pausa. Para isso, foi feito pouco mais de 1 mês de ensaios focados somente nisso. Após a apresentação, houve uma repercussão muito positiva, onde receberam várias mensagens de pessoas que não conheciam a banda, viram a apresentação por um acaso e curtiram o trabalho. “Um evento desse porte sempre dá uma impulsionada na banda” , diz Victor.

Também teve show fora do país, no Chile, e mesmo não sendo a primeira vez fora do país, a banda ainda ficou tensa com apresentações internacionais. “Ainda mais no Chile que é um país que curte tanto metal. Estamos ansiosos e esperamos que seja o primeiro de vários países latinos que vamos tocar”, afirma Guilherme. Outro fator que gerou um frio na barriga foi o fato de não sabe falar espanhol, tendo que falar “o pior portunhol do mundo igual fiz na Espanha”, relembra Leoo.

Com 10 anos de estrada e um EP recém lançado, o Surra garante que tem alguns projetos gravados e tomando forma aos poucos, e que entre o fim de 2022 e começo de 2023, já vai estar na pista para os fãs. “De resto é continuar a fazer shows, compor mais música e inventar itens de merch de boa qualidade, porém, de gosto duvidoso”, diz Leeo.