Motionless In White é obscuro, inovador e catastrófico em Scoring The End Of The World
Banda traz uma mistura de gêneros que harmonizam perfeitamente com sua essência, entregando originalidade e um toque de sensualidade
De When Love Met Destruction ao Disguise, Motionless In White soube qual rumo queria tomar, qual estilo adotar e como conquistar e hipnotizar os fãs com suas músicas melodicamente arrepiantes. Com Scoring The End Of The World não foi diferente. Maior que isso, a banda da Pensilvânia conseguiu trazer um conceito ainda mais obscuro junto com algo voltado ao cyberpunk e um mundo pós-apocalíptico completamente caótico.
Com feats absurdos, melodias cativantes, riffs muito bem elaborados, uma bateria complexa e destacada, além de teclados e sintetizadores que trazem uma ambientação horripilante de Halloween, o mais novo álbum da banda destaca temas como corrupção, desigualdade, aquecimento global e conflitos internos – traumas, depressão e um certo romance com a morte e o pós-vida.
Começando com o famoso “Blegh” junto com um sintetizador crescente e horripilante, Meltdown é rápida, constante, deixando o ouvinte totalmente hipnotizado e com um sentimento profundo de como é real o fim do mundo. O lírico traz completamente o conceito do álbum – o fim do mundo – e como nos responsabilizamos por toda a destruição e caos em que vivemos hoje. Deixando claro que as próximas gerações irão sentir mais ainda, afinal – “You can’t spell out virus, without us” -, que deixa claro quem são os responsáveis pelo próprio apocalipse.
O ritmo de Sign Of Life é mais lento do que a música anterior, mas deixa muito mais evidente o quanto a banda conseguiu inovar sem perder a sua essência. O refrão é melódico de uma forma até bonita, contrastando com toda a letra por trás, além de uma batida bem constante. Toda essa composição acaba deixando o fã com um sentimento de nostalgia e euforia. O lírico, por si só, traz uma grande catástrofe, só que dessa vez mais interna e íntima – de como uma pessoa luta para deixar de reviver algo que a mata por dentro cada vez mais.
Werewolf e Porcelain são duas músicas completamente opostas em relação à melodia, mas totalmente conectadas liricamente, como se uma estivesse ligada à outra. Uma sendo as consequências da outra, por assim dizer. Enquanto Werewolf faz um paralelo entre uma pessoa com problemas de personalidade e raiva – junto com uma analogia de transformação de um homem para lobisomem -, Porcelain é uma música de arrependimento, mais melancólica, com uma pessoa assumindo e reagindo às consequências de seus atos na vida das pessoas ao seu redor.
Slaughterhouse leva os ouvintes a outros ares. Com um instrumental mais dissonante e rápido, e uma letra que critica a postura dos líderes mundiais em relação à situação atual de desigualdade, consumismo e o capitalismo como um todo. Com a participação de Bryan Garris (Knocked Loose), a faixa se baseia muito no beatdown hardcore. É uma das músicas mais pesadas e caóticas do álbum, se destoando levemente de todas as outras.
E então temos Masterpiece que, literalmente, é uma obra de arte. O instrumental se harmoniza perfeitamente com a voz do vocalista (Chris Motionless), e é a música mais melódica e sentimental de todo o Scoring The End Of The World. Com uma orquestra sutil de fundo, o lírico aborda mais do que apenas arrependimento. É uma carta aberta ao mundo de alguém que entende profundamente todos os seus erros cometidos e como ele se afoga cada vez mais na própria culpa. Foi um dos singles lançados com o maior número de streamings juntamente com um clipe poético, melancólico e extremamente bem produzido. É como se você sentisse todo o amor, carinho e dedicação que a banda teve e tem com seu mais recente álbum.
Saindo do tom de “perdão e lágrimas”, Cause Of Death é uma nítida música de revolta e ódio por um possível arqui-inimigo. A música pode ser uma sequência direta de Sign Of Life, demonstrando através de seu instrumental pesado e vocal mais agressivo, um tipo de superação a respeito do trauma passado, demonstrando que esse problema está enterrado e morto. Talvez literalmente…
Voltando a temática política, We Become The Night, demonstra novamente a revolta a respeito do capitalismo. Trazendo um tom de união contra o sistema. Com um baixo notório e uma bateria bem groovada, a faixa demonstra novamente o quão maduro MIW se tornou com o tempo. Para fechar com chave de ouro, a música termina com um solo melódico e linhas de guitarras harmonizadas, em um tom esperançoso, de mudanças dentro da sociedade, se as pessoas se unirem.
Chegando na reta final do álbum, temos Burned At Both Ends II, uma sequência direta de Burned At Both Ends do álbum de 2012 da banda, Infamous. A música original fala sobre quebra de promessas e mentiras, e a dor carregada pela pessoa que teve sua confiança e esperança jogadas fora, tendo até um tom mais monótono e melancólico bem predominante na obra. Em sua sequência, temos a volta por cima dessa pessoa, com uma letra de superação e raiva, acompanhada de um instrumental complexo, rápido e pesado. A faixa é uma odisseia, uma jornada que termina com Chris chegando em suas notas mais agudas de uma forma perfeita.
Trazendo mais uma sequência, dessa vez de Broadcasting From Beyond The Grave: Death Inc., de seu álbum Disguise, de 2019. B. F. B. T. G: Corpse Nation, traz de volta as raízes das letras aterrorizantes de MIW. Com um tom progressivo e único, a música é quase um conto de horror, contado por um locutor de rádio, a respeito da intolerância religiosa e dos padrões impostos pela igreja católica e pela sociedade como um todo.
Cyberhex, o lead single do album, é descrito pela própria banda como uma carta de amor aos fãs mais fiéis do quinteto, com um instrumental pesado e muito inspirado em bandas de djent, um vocal mais falado e mais discreto, e um breakdown insano. O single, desde seu lançamento, preparou os fãs para o que estava por vir no sexto álbum da banda, algo novo, pesado e com a essência de Motionless In White.
Com uma base forte em bandas de hard rock, Red, White & Boom, é diferente. Com riffs e instrumentais menos elaborados e um vocal agressivo, porém não necessariamente berrado, e a participação ilustre de Caleb Shomo (Beartooth). A música é uma crítica direta a o governo americano e sua negligência em relação à saúde, criminalidade e situação econômica do país. E, para deixar a faixa com um tom um pouco mais de revolta, seu título nada mais é do que um trocadilho sobre a comemoração de 4 de julho (independência dos EUA) e sua famosíssima queima de fogos.
Para finalizar o álbum, a faixa Scoring The End Of The World, com participação especial de Mick Gordon (Trilha sonora do jogo DOOM), termina o que foi começado em Meltdown, representando o pós fim dos tempos, com um tom mais calmo e triste, e letras que contam que no fim, seria cada um por si. Por entre bombas, minas terrestres, tiros em uma terra desolada pela guerra e o apocalipse que os próprios seres humanos causaram, provando que Thomas Hobbes tinha razão, o homem é realmente o lobo do homem.
Entre apocalipses, revoltas, dores, perdas, culpas, ódio, vemos um Motionless In White mais maduro, fazendo um trabalho impecável e inovando de uma forma única e peculiar. Não é um álbum genérico, quiçá simples. É uma obra complexa, com muitas referências e misturas de gêneros, além de letras muito bem elaboradas, que harmonizam de uma forma inexplicável com o instrumental.
Assim como também é nítido o valor sentimental que Scoring The End Of The World tem para a banda. Uma obra de arte que poderia ser pintada em uma tela com tinta óleo… E muito sangue.
Para fãs de: Ice Nine Kills, Black Veil Brides e Crown The Empire