Lorna Shore é orquestral, épico e trágico em Pain Remains

Com novo vocalista, a banda demonstra o melhor de sua nova fase

Capa: Century Media Records

Formada em 2010, a banda de New Jersey tinha, até 2020, três EPs gravados e três álbuns, e estava em uma constante ascensão na cena do deathcore. Em 2021, após problemas com seu ex-vocalista, a banda decidiu fazer uma turnê baseada em seu terceiro disco: Immortal com Will Ramos nos vocais (ex-Monument Of a Memory) que viria ser cancelada por conta da pandemia.

Foto: Mike Elliott

Mas, para a grata surpresa dos fãs, Will ficou como membro permanente completando o quarteto e, lançando um de seus melhores trabalhos: …And I Return to Nothingness o EP que mudaria tudo para Lorna e para toda cena de metal extremo.

Pain Remains é, musicalmente falando, uma sequência espiritual de AIRTN. Desde breakdowns de cair o queixo, até solos emocionantes e os vocais nojentos de Will (no melhor sentido possível).

Foto: Mike Elliot

Welcome Back, O’ Sleeping Dreamer abre o álbum de forma impecável. Um coral diabólico e imponente, preparando o ouvinte para o breakdown logo em seguida. É intensa, rápida e pesada, nada menos do que se espera de Lorna Shore, a faixa não para por nenhum instante, e traz à tona todo o sentimento de perdição e desespero pré estabelecido na obra.

O álbum é uma jornada sentimental e perigosa pelos confins do sofrimento,  consegue transmitir sua mensagem de forma alta e clara através de cada sílaba cantada e nota tocada e mantém até pessoas desacostumadas com o gênero de boca aberta durante toda a obra.

Into The Earth, segundo single lançado para o álbum, continua o que a faixa anterior começou. Com um início rápido e direto ao ponto, a música demonstra o que há de mais sombrio nos vocais de Will, e consegue representar muito bem toda estética da banda. Sombria, com uma letra pesada e um instrumental técnico de arrepiar, que se estendem para um solo fascinante, trazendo um sentimento de grandeza, somado a um sentimento de desamparo com a realidade.

Lead single do álbum, Sun//Eater não desaponta quando o assunto é uma melodia grandiosa. A letra pode ser interpretada como algo inspirador, com o eu lírico se comparando a Ícarus, e dizendo que tocará e devorará o sol. É um ponto altíssimo no álbum, e certamente uma música que ficará na sua cabeça por muito tempo.

Continuando a onda melódica, Cursed to Die foi o terceiro single de Pain Remains. Começando com uma melodia de guitarra cativante e prazerosa seguida pelos berros ininterruptos do vocalista, que falam sobre o quão natural, mas mesmo assim desesperador, é a morte, por ser justamente o fim certo de todos. A faixa é uma das mais fáceis de se ouvir do álbum, principalmente para as pessoas que não são fãs do gênero e mesmo assim consegue manter seu peso e a essência do que é Lorna.

Soulless Existence começa novamente com uma orquestração de tirar o fôlego. Os vocais mais graves de Will recitam uma letra melancólica e niilista, acompanhada por guitarras lentas e uma bateria cheia, que se transformam rapidamente em riffs rápidos e dissonantes e batidas sufocantes.

A música traz um sentimento grandioso em seus refrões, e continua com um crescimento imparável durante seus versos e pontes, levando a um solo melódico e grandioso que fecha a música com chave de ouro.

A viagem épica em Pain Remains

Apotheosis tem um começo épico, com uma bateria frenética e com uma forte influência de Black Metal. É o Lorna Shore expandindo o deathcore e mostrando que pode ser cada vez mais extremo ao pegar referências de outros gêneros do metal pesado. Um belo convite para os fãs de outras vertentes da música extrema conhecerem o deathcore.

A raivosa Wrath abusa dos vocais rasgados e capricha no instrumental agressivo e atordoante. É impressionante com a banda consegue colocar diversas camadas musicais na mesma música e fazer tudo funcionar de maneira orgânica. Uma faixa intensa e que vai tirar o fôlego do ouvinte.

Pain Remains I: Dancing Like Flames dá início ao ato final do álbum. Com potência e momentos melódicos, a canção consegue injetar uma dose de adrenalina na reta final do disco, mostrando que a obra está longe de ter um final apagado. É possível ver beleza em toda a fúria presente na música, trazendo um dos melhores momentos do álbum e com pinceladas de death metal melódico.

A segunda parte do ato final do disco, Pain Remains II: After All I’ve Done, I’ll Disappear, dá continuidade ao trabalho épico iniciado na faixa anterior. O instrumental continua a conduzir o ouvinte por um mar ardente de emoções e variações, intercalando entre camadas musicais que se completam ao longo da faixa.

Fechando o álbum com chave de ouro, Pain Remains III: In a Sea of Fire, fecha o ato final do disco com maestria. Um final apoteótico que deixa o ouvinte totalmente atordoado e impressionado com sua jornada ao longo dos nove minutos e 12 segundos da faixa.

Pain Remains é um excelente disco de deathcore, sendo grandioso e técnico na medida certa. O álbum mostra que o Lorna Shore está em seu melhor momento, totalmente confortável com Will Ramos nos vocais e sua nova formação. Com vocais absurdos, um instrumental cheio de técnica e uma sonoridade grandiosa e imponente, Pain Remains se firma como um dos grandes lançamentos da música pesada em 2022.